Rio de Janeiro: Capital da arquitetura

A UNESCO escolheu o Rio de Janeiro como a primeira Capital Mundial da Arquitetura. A cidade maravilhosa servirá de palco para discutir o futuro do ‘urbanismo sustentável’.

Museu de Arte Contemporânea de Niterói assemelha-se a uma alva nave espacial aterrada em Niterói com o Pão de Açúcar ao fundo. É um grande exemplo da paixão pela curva do arquiteto Oscar Niemeyer, que tem outras obras emblemáticas do Rio de Janeiro, como a Passarela do Samba (ou sambódromo, como é normalmente conhecida) ou o Edifício Touring Club do Brasil, que fazem parte das 27 que foram declaradas em 2017 como património histórico nacional. São alguns dos marcos arquitetónicos de uma cidade cuja beleza natural exuberante acaba muitas vezes por ofuscar as brilhantes edificações humanas que a cidade esconde.

O ano que vem, no entanto, será um ano em que todas as atenções se voltarão para a arquitetura da cidade maravilhosa, agora que o Rio de Janeiro foi escolhido pela UNESCO como primeira Capital Mundial da Arquitetura em 2020. «Por meio da variedade e qualidade de suas atividades, a Capital Mundial da Arquitetura no Rio de Janeiro demonstrará o papel crucial da arquitetura e da cultura no desenvolvimento urbano sustentável», explicou o diretor-geral adjunto da agência da ONU para as questões culturais.

A iniciativa deriva do recente acordo de parceria entre a UNESCO e a União Internacional de Arquitetos (UIA), daí que no programa para 2020 se inclua também o congresso mundial da UIA (realizado a cada três anos) e que deverá atrair 25 mil pessoas à cidade. Sob o lema «All the worlds. Just one world (Todos os mundos. Um mundo só)», pretende promover-se o 11.º Objetivo da Agenda 2030 que visa o desenvolvimento sustentável: como tornar inclusivas todas as cidades, como conseguir que sejam resilientes, sustentáveis e seguras.

Que melhor sítio para o discutir que numa cidade em eterna busca de um equilíbrio com a natureza, onde a cada momento parece que se o homem descansar, desviar os olhos por um instante, a vegetação seguirá seu curso, cobrindo com manto verde a construção dos homens.

Cidade com um dos maiores acervos de arquitetura do mundo, quer histórica quer recente, como diz o blog Coisas da Arquitetura, tem no seu centro alguns dos edifícios verticais mais caros à história da arquitetura do país, do edifício ‘A Noite’, obra de Joseph Gire, inaugurado em 1928, ao edifício do Ministério da Educação e Saúde, de Ernâni Vasconcelos e Oscar Niemeyer, datado de 1936, passando pelo edifício Seguradoras, de MMM Roberto, concluído em 1949, com os seus painéis de cerâmica de Paulo Werneck.

Entre a orla marítima e os anos 1940 e 1960, a cidade definiu-se com o melhor da arquitetura brasileira, com as primeiras obras de Niemeyer e os planos de Lúcio Costa, arquiteto e urbanista, pioneiro da arquitetura modernista brasileira que desde o seu cargo de direção na Escola Nacional de Belas Artes mudou o curso do país (foi ele que desenhou o plano piloto da Barra da Tijuca e de Brasília, a nova capital pensada por Juscelino Kubitschek e que haveria de retirar esse estatuto político, mas nunca real, ao Rio de Janeiro).

Além de Costa e Niemeyer, para a cidade desenharam edifícios arquitetos como Le Corbusier, Roberto Burle Marx e Affonso Reidy, nascendo com isso alguns marcos da arquitetura modernista no Brasil como o Palácio Gustavo Capanema, o Parque Guinle, o Aterro do Flamengo ou a Casa das Canoas, a casa que Niemeyer desenhou para si, entre as curvas brancas e o vidro e que tão bem correspondem em betão ao que o célebre arquiteto escreveu: «O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.»

«Apesar de relativamente nova, a cidade do Rio já deixou valiosas referências na história da arquitetura. Ao longo de seus poucos séculos, passou por transformações substanciais, de grande magnitude, com técnicas complexas da engenharia e do urbanismo contemporâneos. Poucas cidades tiveram alteração tão expressiva em sua topografia original. Temos uma mescla eclética de estilos arquitetónicos e paisagem urbana reverenciada pelo mundo por suas condições naturais. O título de Capital Mundial da Arquitetura é a justa condecoração desta história», argumentou Verena Andreatta, secretária de Urbanismo, no anúncio da decisão da UNESCO.