Sérgio Conceição. “Se o Sporting ganhar o dérbi ninguém aqui fica chateado”

O treinador do FC Porto foge ao politicamente correto e assume que, para os dragões, o ideal seria o Benfica sair derrotado de Alvalade este domingo

O FC Porto, campeão nacional em título e líder isolado do campeonato esta temporada, com cinco pontos de vantagem sobre o Benfica, visita este domingo o reduto do Vitória de Guimarães, quinto classificado, num encontro que se inicia pouco depois do fim do dérbi de Alvalade entre o Sporting e os encarnados. Os leões ocupam neste momento o quarto lugar, já a dez pontos dos azuis-e-brancos, e não estranha por isso que Sérgio Conceição, sempre deixando de lado o politicamente correto, assuma preferência por uma vitória verde-e-branca.

"Nós estamos atentos ao que se passa ao nosso lado, principalmente com os nossos rivais, as equipas que estão perto de nós. Nesse sentido, obviamente que se ganhar o Sporting ninguém fica chateado. Isso é óbvio. Se disser outra coisa vão dizer que sou maluco. Um bocadinho, sou, mas… (risos) estou a brincar. Nesse sentido na tabela e dos pontos sem dúvida, mas mais importante é o nosso jogo. A vitória do FC Porto amanhã em Guimarães é o melhor resultado", realçou o treinador portista, antevendo um jogo "complicado" – o Vitória minhoto, recorde-se, foi a primeira equipa a vencer os dragões esta época, logo na terceira jornada e em pleno Estádio do Dragão (2-3): "Espero encontrar um Vitória de acordo com aquilo que tem sido nos últimos meses. Acho que as duas equipas estão diferentes desse jogo no Dragão. Espera-nos um jogo difícil, num ambiente também difícil, provocado pela grande paixão que os adeptos têm pela sua equipa. Fiquei extremamente desagradado com essa derrota. Tínhamos o jogo controlado com o 2-0 e um penálti abriu o jogo, sentiu-se intranquilidade na equipa, que não é normal. Principalmente o equilíbrio defensivo. Não estivemos como normalmente estamos desde que assumi este trabalho no FC Porto, e sofrer três golos em casa não é normal. Foi um jogo atípico, tirámos ilações importantes. Mas as equipas evoluíram e também aquilo que é a estrutura base, os onze que possivelmente irão começar o jogo também serão um bocadinho diferentes."

Na última ronda, disputada a meio da semana, o FC Porto venceu o Belenenses, SAD por claros 3-0. Ainda assim, Silas considerou, no fim da partida, o resultado "completamente injusto", numa opinião fortemente contestada este sábado por Sérgio Conceição. "Sinceramente, vi uma ação do Licá na primeira parte. Foi uma ocasião de algum perigo. E vi um remate na segunda parte, que criou algum perigo. Não vi mais. Se calhar não fizemos mais dois ou três golos, se calhar devia ter ficado cinco ou 6-0… Vi um Belenenses fiel à sua identidade, a privilegiar a construção a partir de trás, com posse de bola passiva, tida como não perigosa. Sinceramente, se calhar não vi o mesmo jogo. Obviamente que não gosto de sofrer golos, a base do sucesso de uma equipa tem a ver com essa consistência defensiva e fiquei contente em momentos do jogo", salientou Conceição.

Confrontado com as declarações de José Mourinho, que em entrevista ao Porto Canal havia referido que a atual equipa do FC Porto daria luta à sua que se sagrou campeã europeia em 2003/04… mas que sairia derrotada, o técnico portista sorriu. "Não vi a entrevista de Mourinho, mas li alguns excertos. Não sei se ele se referia à equipa técnica, num 5 para 5 no Olival, aí tenho a certeza que ganhávamos (risos)! Acho que eu, o Vítor ou o Dembélé, o Figueiredo e o Eduardo estamos em melhor forma do que a equipa técnica do Mourinho. E dávamos dois de avanço!", atirou o antigo internacional português, considerando que Mourinho "criou pressão desnecessária" ao referir que o FC Porto pode ser campeão e chegar aos quartos-de-final da Liga dos Campeões este ano: "É a opinião do José Mourinho, respeito. É falar fácil dessa solidez e dessa capacidade que tivemos na Liga dos Campeões, passámos a fase de grupos sem derrotas, temos feito bom campeonato. Vamos ter uma caminhada difícil."

Depois, o assunto passou a ser o mercado. Mais propriamente a saída, por empréstimo, de Sérgio Oliveira para os gregos do PAOK. "Normalmente falo dos jogadores que fazem parte do plantel. Não falo dos jogadores que não pertencem momentaneamente. Vou falar porque existe uma boa relação entre mim e o Sérgio e fez parte do grupo. Tive oportunidade de lhe dizer: 'vamos continuar em contacto, foste muito importante para o campeonato ganho no ano passado'. Começou bem a época, teve baixa de forma dois meses depois. Foi perdendo espaço, achou que era melhor para a carreira dele ter mais minutos, mais jogo e acabou por momentaneamente deixar o grupo", frisou Conceição, completando: "Fica sempre ligado a nós e tem quatro meses para, noutro campeonato, poder jogar com mais assiduidade e poder voltar ao FC Porto se o PAOK não exercer a opção que tem. Desejo a maior sorte do mundo neste futuro próximo na carreira dele."

Voltando a bater na tecla de este ser um mercado de transferências muito longo – "Cria alguma instabilidade, porque há sempre 11, 12, 13, 14 jogadores que jogam mais. Os que jogam mais têm sempre o sonho ou metem na cabeça situações mais vantajosas; os que jogam menos, se calhar querem jogar mais noutros sítios. Uma semana em janeiro era suficiente" -, Sérgio Conceição abordou depois a contratação de Loum, médio senegalês de 22 anos que representava o Moreirense por empréstimo do Braga e que se tornou o quarto e último reforço de inverno dos dragões, depois de Pepe, Fernando Andrade e Wilson Manafá, chegando também por empréstimo dos bracarenses (com cláusula de compra obrigatória no fim da época): "Já o conhecia há algum tempo. O Loum evoluiu muito, tem uma margem de progressão grande, é bastante jovem, nota-se no discurso dele e naquilo que é o seu carácter, a sua personalidade. É alguém ambicioso, que quer chegar a patamares interessantes na sua profissão. Estávamos atentos à sua personalidade, forma de estar e trabalhar e às suas qualidades como futebolista. É um jogador interessante, assim como os outros que vieram no mercado de inverno, dentro daquilo que é o possível aos clubes portugueses, são boas alternativas, boas soluções."