O Papa, Marcelo e Medina – uma resposta a Daniel Oliveira

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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi criticado por ter ido ao Panamá anunciar a sua candidatura a Belém na presença de Sua Santidade, o Papa. Não percebo sequer a crítica, quanto mais o espanto: era óbvio para qualquer pessoa medianamente informada que Marcelo Rebelo de Sousa seria Presidente dois mandatos, como todos os presidentes democráticos antes dele.

E, sendo Marcelo Presidente até 2026, Portugal terá na chefia do Estado, vinte anos consecutivos (desde 2006), ex-líderes do PSD – o que, para um país que se acha de esquerda, é um feito assinalável. Ao PS resta convencer uma alma disponível para se submeter ao martírio de concorrer e perder contra Marcelo, a quem Costa terá de pagar com uma prateleira dourada semelhante àquela que ofereceu a Sampaio da Nóvoa, numa qualquer Paris.

 

Não foi, portanto, o local do anúncio que acirrou a crítica (porque, convenhamos, seria sempre o Papa ou a Web Summit ou outro evento à escala da popularidade do nosso Presidente a justificar a boa nova); foi mesmo a certeza da derrota da esquerda que provocou o ataque de nervos da semana.

Fernando Medina, um ateu convicto, mas politicamente muito praticante, acompanhou Marcelo ao Panamá e – obedecendo à célebre máxima ‘em Roma, sê romano’ – resolveu, também ele, explodir logo ali de felicidade, na presença do Papa e do Presidente Marcelo, por receber as jornadas em Lisboa em 2022. Ora, havendo eleições autárquicas em 2021, tal só pode querer significar que será candidato e que se imagina já reeleito e anfitrião da festa.

O presidente da Câmara de Lisboa fez, aliás, anúncios de grandes e fabulosos investimentos para a cidade, a promessa de apressar a ampliação do aeroporto, e ainda a previsão das extraordinárias receitas provenientes daquele evento, na ordem dos 1.000 milhões de euros, que encherão os cofres públicos.

Ficou ali lavrado que, a seguir ao ouro e à pimenta, à Expo e ao Euro-2004, à Web Summit, ao nível das receitas miraculosas, veem as Jornadas da Juventude em 2022.

Se alguém critica o Presidente da República porque faz o anúncio da candidatura junto do Papa, o que dizer de Medina, socialista e ateu, que precisa do Papa e de Marcelo para se fazer notar?

 

A alegria do presidente da Câmara de Lisboa só pode ser de alívio por ter passado despercebida a maior derrota dos quatro últimos anos: na véspera de embarcar para o Panamá, foi tornado público que o Tribunal de Contas lhe chumbou as habitações em ‘renda acessível’ em termos que não deixam dúvidas.

O Tribunal de Contas declarou que o contrato designado como «Contrato de Concessão relativo ao financiamento, conceção, projeto, construção/reabilitação, conservação e exploração de bens imóveis do Município de Lisboa, no âmbito do ‘Programa Renda Acessível’, sitos na Rua de S. Lázaro, no valor de 10 milhões de euros», é nulo porque é uma PPP encapotada e mal feita.

Também pode acontecer que Fernando Medina se tenha convertido, tendo ido dar graças a Deus por não ter oposição na Câmara e ter uma comunicação social complacente que fará de conta que nada se passou.