Bruno Lage: “No campeonato era uma final, agora não é”

O treinador do Benfica lembra que o jogo desta quarta-feira é apenas a primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal e explica a filosofia que está a incutir na equipa

No passado sábado, Bruno Lage caracterizou o dérbi de Alvalade, que se jogaria no dia seguinte, como "decisivo para as duas equipas". Agora, porém, o discurso é diferente, como ressalvou o técnico do Benfica na antevisão do confronto desta quarta-feira, a contar para a primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal.

"Sei que vai ser um jogo diferente. Encarámos o último como uma final, porque no campeonato não tínhamos espaço nem manobra para perder pontos. Este jogo é importante, é mais um dérbi que vem na sequência de outro dérbi, mas não é decisivo. A decisão será mais à frente. Por isso, será um jogo diferente, uma nova oportunidade para as duas equipas. Do Sporting, para dar uma imagem diferente – não esquecer que há 15 dias foi considerado o campeão de inverno. Pela grandeza que tem, é um adversário muito difícil. E para nós é mais uma oportunidade de dar continuidade ao nosso trabalho", salientou o treinador encarnado, pedindo equilíbrio emocional aos seus jogadores e também aos adeptos: "As facilidades partem da vossa análise ao olhar para o resultado. Foi um jogo muito difícil, muito competitivo e acabou por sorrir a vitória com resultado muito bom fruto do nosso trabalho. Foram 90 minutos de qualidade, em especial os primeiros 40. O mais importante é mantermos o equilíbrio. Nas derrotas, como foi o caso contra o FC Porto, ficámos tristes mas não ficámos muito preocupados ao olhar para o nosso desempenho. Ganhámos ao Sporting, ficámos felizes, contentes e hoje analisámos o jogo. Ainda há muito a trabalhar. Sinto confiança, qualidade e um jogo coletivo ao encontro das nossas ideias. O nosso registo é de enorme equilíbrio. Coloco enorme pressão no meu trabalho, no que posso controlar. Já o que é externo não me afeta."

Para esta partida, Bruno Lage confirmou que ainda não poderá contar com Fejsa e Jonas, que continuam a recuperar de lesão. Por esta altura, todavia, o nome que faz as manchetes é outro: João Félix. O menino de 19 anos fez mais uma exibição de sonho em Alvalade e vai fazendo as delícias dos amantes do futebol nacional – sobretudo os afetos às águias, obviamente -, mas o técnico tentou colocar alguma água na fervura, fazendo mesmo uma analogia… com desenhos animados. "Hoje quando vi a capa de um jornal lembrei-me logo de um episódio com o meu filho de três anos e meio. Não sei se vê o Canal Panda, mas quando eu cheguei a casa estavam a dar os Super Wings. Dei-lhe um beijinho e perguntei-lhe o que é que estava a fazer: 'Estás a ver os Super Wings?' E ele corrigiu-me: 'Não. Agora é os Super Wings… equipa.' 'Equipa?' 'Sim. Os Super Wings agora trabalham em equipa. Todos eles têm de trabalhar em equipa'", contou Lage, completando depois a ideia: "Nada se faz sozinho. Faz-se em equipa. É nisso que eu acredito. O João Félix tem o valor que tem se funcionar em equipa. O Bruno Lage, que parece que tem uma capa, tem o valor que tem a trabalhar com uma equipa técnica. Esse é o ponto base da minha maneira de trabalhar e de ser. Respondo-lhe desta maneira com um episódio giro."

De resto, e numa conferência de imprensa mais extensa do que tem sido hábito, Bruno Lage acabou por abordar de forma mais detalhada os métodos e ideologias que tem vindo a implementar na equipa principal do Benfica. "Às vezes fica-se com a ideia de que o Benfica é uma equipa de transições. Não. Nós queremos ter bola, construir a partir de trás. A minha equipa só consegue ser ainda mais equipa tendo mais posse de bola. Mas há a base disto tudo e que é: e o momento em que perdemos a bola? Não há uma equipa do mundo que quer ter bola e que tenha uma transição defensiva fraca. E nós temos de trabalhar isso. Quanto mais vezes recuperarmos a bola, mais vezes temos a bola. Quanto mais vezes a recuperarmos no meio-campo ofensivo, melhor: estamos mais longe da nossa baliza", ressalvou, elogiando a restante equipa técnica, em especial no que respeita à preparação das bolas paradas.

No centro de tudo, frisou Lage, está a importância do treino, de modo a não se perderem as dinâmicas adquiridas. "Quando se está a implementar ideias novas tem de se treinar: para sentir, ganhar confiança e evoluir. Por um lado é difícil, mas é também um desafio muito interessante fazer esta caminhada mesmo com estas dificuldades. Estamos muito satisfeitos porque as coisas têm-se concretizado e é visível a nossa evolução no jogo", salientou, dando mais um exemplo visível, pegando no curto espaço de tempo entre estes dois dérbis: "A nossa forma de estar é olhar para o que foi o jogo e continuar a evoluir: a treinar e a jogar. Vamos sair de um jogo e entrar num outro sem treinar. É como estar na faculdade, fazer um exame, e ter outro três dias depois sem poder estudar."