II Liga. Álvaro Magalhães engrossa a lista de “retornados”

Sem ganhar há cinco jogos, o Farense demitiu o jovem Rui Duarte e escolheu para o seu lugar uma “raposa velha”, a exemplo de outros históricos que competem no escalão secundário

O décimo lugar na II Liga, cinco pontos acima da zona de despromoção – mas já a 16 dos lugares de subida -, não foi suficiente para a direção da SAD do Farense, reforçada desde novembro com André Geraldes, antigo team manager do Sporting. Depois de cinco jogos sem ganhar, os responsáveis do histórico clube algarvio decidiram prescindir dos serviços de Rui Duarte, o jovem treinador de 40 anos que havia trazido a equipa de volta aos escalões profissionais na época passada.

Para o seu lugar chegou uma “raposa velha”: Álvaro Magalhães, de 58 anos e senhor de vasta experiência no comando de conjuntos nacionais, especialmente no escalão secundário. No curto comunicado publicado nas redes sociais, o emblema algarvio não revelou quaisquer detalhes do contrato nem tão-pouco a sua duração, embora alguns meios desportivos tenham avançado com uma ligação até final da temporada e outro ano de opção.

A aposta do Farense, apesar da já referida longa experiência do novo técnico no futebol nacional – sem falar do historial como jogador, tendo conquistado quatro campeonatos, quatro Taças de Portugal e duas Supertaças nos nove anos em que representou o Benfica, além de ter somado 20 internacionalizações por Portugal, tendo marcado presença no Euro 84 e no Mundial 86 -, não deixa ainda assim de ser arriscada. Na última década, Álvaro Magalhães esteve bastante tempo inativo, destacando-se uma passagem bem-sucedida por Angola (campeão ao comando do Interclube, em 2010).

Daí para cá passou de forma fugaz pelo Nacional de Benguela (2012), também no Girabola, e orientou Naval (2012/13), Tondela (2013/14) e Gil Vicente (2016/17), sempre na II Liga, terminando em 18.º, 9.º e 13.º, respetivamente. Desde o verão de 2017 que se encontrava sem clube, participando de forma esporádica como comentador nalguns programas televisivos.

 

Eurico falhou, Alves está a agradar Ao decidir trazer de volta ao ativo um treinador mais experiente, que traz consigo uma aura vitoriosa – acima de tudo enquanto jogador, nas décadas de 70 e 80 -, a SAD do Farense optou por uma fórmula que tem vindo a ser adotada por algumas equipas da II Liga nos últimos tempos, ao contrário de outros conjuntos que vão escolhendo treinadores jovens, da chamada nova vaga. No início da temporada, por exemplo, o Cova da Piedade apostou em Eurico Gomes, de 63 anos, que estava sem clube desde uma passagem fugaz pelo Louletano, em 2015/16, quando já estava há quatro anos sem treinar – e que antes disso tinha estado dez anos fora de Portugal, colecionando passagens por Argélia, Grécia e Arábia Saudita.

A experiência do antigo central, que enquanto jogador foi um atleta de elite – sagrou-se mesmo campeão nacional pelos três “grandes” do futebol português, além de ter representado a seleção nacional por 38 ocasiões (esteve no Euro 84) -, não se revelou bem sucedida. Eurico Gomes fez apenas cinco jogos oficiais no Cova da Piedade, registando somente uma vitória, e acabou despedido logo no início do mês de setembro, após uma pesada derrota caseira com o Estoril (0-4). Para o seu lugar, a direção do clube da Margem Sul foi do oito ao oitenta: escolheu o ex-adjunto Hugo Falcão, então com apenas… 26 anos. O jovem treinador durou mais tempo, mas acabaria também por ser demitido no início de janeiro, com um pecúlio total de cinco vitórias em 15 jogos; despedido do Arouca em setembro, Miguel Leal, de 53 anos, agarrou então o barco, somando para já uma vitória e uma derrota em dois jogos.

Igual caminho seguiu a Académica. Os estudantes iniciaram a temporada com Carlos Pinto ao comando, um técnico de 45 anos que tem conseguido resultados nos últimos anos – foi ele o timoneiro da subida do Santa Clara na época passada -, mas os péssimos resultados ditaram a sua saída logo em setembro, numa altura em que a Académica se encontrava nos últimos lugares da classificação. A direção da Briosa decidiu então resgatar do desemprego o sexagenário João Alves (66 anos), o homem que havia garantido a subida à I Liga em 2001/02.

O Luvas Pretas, como ficou conhecido ao longo da belíssima carreira como jogador (duas vezes campeão no Benfica, quatro vezes vencedor da Taça de Portugal por Benfica e Boavista e uma vez da Supertaça, com passagens ainda por Salamanca e PSG, além de 35 jogos e três golos na seleção), ostenta de facto um historial de respeito também como treinador: dois apuramentos para a Taça UEFA com o Boavista e um com o Vitória de Guimarães, uma Taça de Portugal pelo Estrela da Amadora e três subidas à i Liga (duas com o Estrela da Amadora e uma com a Académica), além de trabalhos meritórios no Belenenses, Campomaiorense e Farense.

O “problema” é que o último desses trabalhos ocorreu em… 2002/03, no Estrela. Seguiu-se uma passagem fugaz pelo Leixões e, depois, dois anos como treinador dos juniores do Benfica (de 2007 a 2009). Em 2010, João Alves assumiu o comando do Servette, então na II divisão suíça, e conseguiu a promoção, levando na época seguinte o clube à Liga Europa. Deixou, porém, a aventura helvética a meio de 2012/13… e estava sem clube desde então, participando de forma regular em programas televisivos de comentário desportivo.

A verdade é que o regresso a Coimbra até nem tem corrido nada mal. A Académica tem vindo a escalar posições na tabela e encontra-se neste momento em sétimo, a dez pontos dos lugares de acesso à subida. Com João Alves, são 14 jogos e oito vitórias: podia ser bem pior…

Outro exemplo do género pode encontrar-se no Varzim, que trocou Capucho (46 anos) por Fernando Valente (59), que não treinava em Portugal há três anos, desde que terminou a passagem pelo Santa Clara – pelo meio, em 2017, passou pelas camadas jovens dos chineses do Shandong Luneng.

 

Mafra e A. Viseu em contraciclo A aposta primordial, ainda assim, continua a passar pelos treinadores mais jovens. Ainda ontem, de resto, dois emblemas anunciaram dois técnicos na casa dos 30 anos. O Mafra, atual quinto classificado da II Liga, oficializou o regresso de Filipe Pedro, que havia deixado há duas semanas o cargo de adjunto de Filipe Martins para assumir o comando do Casa Pia, no Campeonato de Portugal. Com a saída do técnico principal para o Feirense (vai substituir Nuno Manta Santos), o Mafra optou por fazer regressar a casa o treinador de 31 anos, que assinou por época e meia após duas vitórias noutros tantos jogos no conjunto casapiano. Filipe Pedro esteve seis anos como técnico nas camadas jovens do Sporting, tendo passado ainda três anos como adjunto do Estoril.

Horas antes tinha sido o Académico de Viseu a anunciar o sucessor do histórico Manuel Cajuda, demitido devido aos maus resultados, mas também a um problema de saúde. Para o lugar do algarvio de 67 anos chegou agora Rui Borges, que tem menos 30 e conta apenas com ano e meio de experiência como treinador principal, no Mirandela, do Campeonato de Portugal (na época passada ficou em quarto, este ano estava em sexto).

No início da temporada, três clubes optaram por este caminho: Famalicão (Sérgio Vieira, 36 anos), Estoril (Luís Freire, 33, entretanto já substituído por Bruno Baltazar, de 41) e Vitória de Guimarães B (Alex, 39) – isto além do já citado Rui Duarte, de 40 anos, que transitou da época anterior no Farense.