O PCP e os relógios de cuco…

Os relógios de cuco à esquerda andam num desatino, com acusações mútuas e vergonhas contíguas

Irritado com o facto de o Bloco de Esquerda se distanciar, à cautela, do estertor de Nicolas Maduro na Venezuela, um porta-voz do comité central do PCP achou que os radicais ‘coordenados’ por Catarina Martins se comportam como «um relógio de cuco suíço do imperialismo norte-americano». 

A tirada teve graça e terá engasgado Francisco Louçã, o ideólogo, que surgiu pressuroso no Expresso online, mais demagogo do que é costume nesta fase ‘institucional’ da sua carreira, a defender o indefensável, ao lado do ditador de Caracas.

Afinal, ambos os partidos convergem nas mesmas devoções ideológicas, ainda que finjam distâncias conceptuais – que se esfumam, contudo, quando se aplicam com inusitada energia na defesa da sua gente, seja em nome do regime ‘chavista’ da Venezuela, seja mais prosaicamente por cá, quando alguém mete o pé na argola’ e se revela ágil nos negócios às costas do Estado.

O episódio da ‘casinha’ milionária de Ricardo Robles em Alfama – o ex-autarca bloquista apostado em ser rico com uma operação especulativa imobiliária –, ou a contratação em Loures, por ajuste direto, de um familiar próximo de Jerónimo de Sousa para uns biscates bem pagos, são apenas alguns dos afloramentos que enervaram as fileiras comunistas, avessas a ver no domínio público certas práticas privadas. 

Estes casos tiveram, contudo, o mérito de destapar outros que andavam encobertos, desde os negócios turísticos em família de Catarina com recurso a fundos europeus (que perderam entretanto força mediática) até ao regabofe de autarquias dominadas pelo PCP subsidiando atividades do partido à sorrelfa.

Graças à investigação do jornal eletrónico Observador, ficou a saber-se que «há uma rede vermelha de adjudicações entre empresas ligadas ao Partido Comunista Português e municípios controlados pelo partido».

Ao todo, «vinte e três autarquias e seis outras entidades públicas lideradas pela CDU adjudicaram, desde 2009, contratos de mais de 2 milhões de euros a cinco empresas geridas por militantes do PCP». Quase tudo por ajuste direto. É obra! 

A transcrição é longa mas justifica-se. A promiscuidade é cristalina e o jornal, para não ser suspeito de inverdades, publicou a extensa lista de contratos firmados entre militantes e autarquias comunistas, na maioria por ajuste direto, sem outras consultas ao mercado.

Para cúmulo, na mesma ‘semana negra’ para o PCP, uma das histórias mais picantes foi revelada pelo Público, que apurou ser a Festa do Avante! largamente apoiada pelo município do Seixal, ao ponto de remunerar funcionários com horas extra para trabalharem no recinto da Quinta da Atalaia, durante o evento comunista.

Por estas e por outras se percebe que o Avante! goze de boa saúde, ao contrário do seu congénere francês L’Humanité, em falência declarada.

O PCP tem sabido, afinal, amealhar e blindar a estrutura financeira, sendo um dos partidos portugueses com maior registo de património imobiliário, enquanto os confrades franceses desapareceram do mapa. 

E como se isto não bastasse para perturbar o sossego na Soeiro Pereira Gomes, a TVI resolveu dar uma ‘ajudinha’ ao revelar que a Associação dos Inválidos do Comércio, com forte influência de comunistas nos seus corpos sociais, terá alienado vários prédios de que é titular com o objetivo de reconvertê-los em alojamento local, despejando idosos que lá moravam. Pior: este negócio terá partido do pai do eurodeputado comunista João Ferreira, enquanto vice-presidente da coletividade. 

A semelhança com o ‘folhetim Robles’, do Bloco, é irresistível, bem como a hipocrisia de uma esquerda que pratica um discurso em nome dos desprotegidos para depois aproveitar a vaga especulativa e o boom turístico e fazer os seus negócios, com mais-valias de monta. Bem prega Frei Tomás…

Moral da história: os relógios de cuco à esquerda andam num desatino, com acusações mútuas e vergonhas contíguas.

O ano eleitoral promete, com a ‘geringonça’ em derrapagem e o Presidente da República em contramão. 

Foi ao Bairro da Jamaica com uma justificação infeliz para a sua inopinada presença, quando decorre ainda um inquérito do Ministério Público aos incidentes. E promulgou um diploma do Governo que permite o acesso do fisco a contas bancárias com saldos acima dos 50 mil euros, que tinha vetado há dois anos por «patente inoportunidade política», alegando que poderia abalar a confiança de depositantes e investidores. 

Num ápice, Marcelo descobriu em Portugal um «clima de guerra racial» que, felizmente, não existe, polemizou com a associação sindical de Polícia que o criticou, e deu o dito por não dito ao consentir um ‘voyeurismo’ fiscal sem razão de ser. Tudo junto é preocupante.