Demasiado Maduro

Muitos anos atrás, a ditadura apoiada nas Forças Armadas era a solução a que estavam condenados os países sul-americanos, o golpismo militar era o caminho para o Governo. Pobres e desventurados, os sul-americanos vogavam entre uma desgraça e outra entregues à impotência de viver numa democracia estabilizada. Um ou outro oásis faziam as exceções. Militares…

Muitos anos atrás, a ditadura apoiada nas Forças Armadas era a solução a que estavam condenados os países sul-americanos, o golpismo militar era o caminho para o Governo.

Pobres e desventurados, os sul-americanos vogavam entre uma desgraça e outra entregues à impotência de viver numa democracia estabilizada. Um ou outro oásis faziam as exceções.

Militares e direita pareciam feitos uns para os outros.

A esquerda, então, conquistou a guerrilha.

Ganhou armas e passou a disputar, com esse recurso, o poder.

Foram vários os exemplos.

Poucos levaram, também, à democracia.

A via ‘inteligente’ resultou num misto de tudo. 

Um golpe militar despertava um líder, invariavelmente preso. Seguiam-se eleições gerais. O poder era conquistado. Dois caminhos, então, se seguiam: ou a anestesia interessada dos capitalistas ou a compra das altas patentes militares. E sempre servidos pelo recurso à cleptocracia ou à corrupção.

A novidade era que se praticava à esquerda, era eficaz e produzia regimes de considerável duração temporal.

Regressemos, pois, à Venezuela.

Cumpridos os primeiros requisitos da praxe, o primeiro líder eleito inventou a revolução bolivariana e tentou eternizar-se. Um golpe de infortúnio levou-o mas, em seu lugar, deixou a construção do seu subproduto.

A partir daqui, porém, as coisas começaram a deteriorar-se.

Percebeu-se que o apoio popular se desvanecia, que o regime conduzia ao sofrimento e à penúria, que só a manutenção de uma arquitetura mais complexa alimentava, ainda, o poder.

As riquezas do país compraram aliados externos, os comités populares formaram-se para defender o poder, o exército foi enquadrado e domesticado. Generais surpreendiam como administradores de bens públicos, ou como diplomatas, ou como capazes de preencher qualquer função que oferecesse dinheiro e garantisse lealdade.

Não bastou, porém. O povo mudou de campo.

Então, os recursos diversificaram-se.

Primeiro condicionaram-se eleições viciando-as.

Depois ocupou-se a cúpula do poder judicial.

Depois inventou-se uma Assembleia Constituinte para afeiçoar convenientemente as regras.

Prenderam-se os opositores, mataram-se manifestantes, tentaram intimidar-se os descontentes, distribuiu-se a fome.

Nem assim o povo se calou.

O poder dança com os soldados, arma os comités, ameaça com a guerra civil. 

As democracias constataram, finalmente, que todos os limites foram ultrapassados e não se pode fingir mais que se não vê.

Vista-se este poder das roupas da revolução bolivariana ou do socialismo, não pode esconder a mentira.

Como aliados continua a ter o capitalismo comunista chinês, o czarismo imperialista russo, o islamismo interessado turco e outros aprendizes de feiticeiros ou encarcerados no armário da história.

As democracias assumem aquele papel que nós tantas vezes reivindicámos, noutros tempos, em Portugal. O de não deixar sós os perseguidos e sem denúncia o abuso.

Assim, tão simples como isto.

O tempo continua a correr contra quem o ignora. Inexorável. Insustentável. Imparável.

Maduro é apenas o estádio intermédio entre verde e o podre.

Alguém, em quem ele acredite, que lhe diga.