Costa está desesperado e dispara para todo o lado

António Costa começa a fazer lembrar aqueles personagens que vão a correr à frente dos outros, mas que se enchem tanto de si que acabam ultrapassados pelos corredores mais atrasados. As guerras que vai ter de enfrentar no corrente ano não são um bom pressagio para o Governo do PS e o seu líder revela…

António Costa começa a fazer lembrar aqueles personagens que vão a correr à frente dos outros, mas que se enchem tanto de si que acabam ultrapassados pelos corredores mais atrasados. As guerras que vai ter de enfrentar no corrente ano não são um bom pressagio para o Governo do PS e o seu líder revela uma desorientação estranha. Sem a concorrência  do principal partido da oposição, com uma Assunção Cristas a assumir o papel de chefe de um clube pequeno que quer ser grande, Costa terá de assumir que as três eleições que se adivinham levarão a confrontos cada vez mais ferozes com o BE e o PCP.

Como conseguirá resolver todos os conflitos laborais com os enfermeiros, professores, magistrados ou polícias? E os beneficiários da ADSE de que lado se vão colocar? Ficarão com o Governo? Numa altura em que devia demonstrar vitalidade e ser um conciliador, Costa comporta-se como um político que está enfadado com a mesquinhez da vida quotidiana. Aquilo que parecia um passeio triunfal até à maioria absoluta, começa a ser uma miragem. A cada dia que passa, o primeiro-ministro não dá sinais de confiança e os problemas vão-se acumulando. Como foi possível mudar de ministro da Saúde e as confusões no setor não pararem de aumentar? Não seria previsível que o novo governante tivesse sido escolhido para pôr alguma ordem na Saúde?

O problema é mais complexo do que Costa alguma vez imaginou, mas muitos alertaram para os perigos das cedências à ‘geringonça’. A começar pela redução do horário de trabalho para as 35 horas semanais. Como queria o Executivo resolver os problemas dos diferentes setores da função pública sem contratar mais pessoas, significando isso, obviamente, mais custos e menos dinheiro para dar àqueles que sofreram com a austeridade da troika? 

Como é possível que um primeiro-ministro quase sem oposição  do PSD, tal o desacerto de Rui Rio, possa estar em vias de precisar outra vez do PCP e do BE para formar um futuro Governo?

Se a austeridade tinha acabado, qual a razão para haver tanta contestação social? Também aqui não era preciso ser um génio para perceber que os dois partidos de esquerda que sustentam o Governo iriam radicalizar a sua posição, até para se diferenciarem do PS. Talvez as eleições europeias sejam um bom barómetro para as eleições legislativas. E aqui Costa deu mais um pontapé no ar ao escolher para cabeça de lista um ilustre desconhecido do grande público e que contribuiu para o caos em que se encontram os transportes públicos, nomeadamente o ferroviário. Pedro Marques, o ainda ministro do Planeamento e das Infraestruturas, conseguirá mobilizar os simpatizantes socialistas? Ninguém acredita nisso, e Costa terá que se desgastar nessa campanha eleitoral, arriscando ficar colado a uma vitória ‘poucachinha’ se o resultado não for animador.

Como notava esta semana Carlos Silva, numa entrevista ao Público, Costa detesta ser contrariado e como a ala socialista da UGT se tem manifestado contra decisões governamentais, o primeiro-ministro nunca se dignou a receber Carlos Silva, o que não deixa de ser bastante revelador da personalidade de António Costa.

Mas nem sempre o primeiro-ministro adota este comportamento, pois na remodelação governamental que se adivinha, o seu hipotético adversário na liderança do partido, Pedro Nuno Santos, vai subir bastante na hierarquia governamental. Nada como ter os inimigos por perto.