O PCP deixa cair a máscara

O PCP foi o único partido comunista do Ocidente que não fez a desestalinização.

Nunca se demarcou de Estaline, nunca criticou Estaline, nunca assumiu os horrendos crimes de Estaline.

Sempre apoiou o comunismo soviético na sua versão pura e dura.

Não criticou Gorbatchov mas também nunca o suportou – e lamentou profundamente a Perestroika.

Não aplaudiu a queda do Muro de Berlim – por ele, o muro ainda lá estaria.

Nunca aceitou democratizar-se, o que fez bem – pois todos os partidos comunistas que o fizeram já morreram.

Mas, simultaneamente, colocou-se fora da História.

Tal como o comunismo soviético, o PCP é hoje uma relíquia, um objeto de museu,  uma espécie de coutada para se saber como funcionavam os partidos leninistas.

Depois do 25 de Abril, e sobretudo depois do 25 de Novembro, o PCP escondeu a sua vocação totalitária e apresentou-se como um partido respeitador da democracia.

Não renegou Estaline mas também não voltou a citá-lo.

De vez em quando, porém, o Partido Comunista deixa cair a máscara e revela a sua verdadeira face.

Assim aconteceu agora, com o apoio ao regime de Nicolas Maduro.

Trata-se de uma atitude que só se compreende pelo facto de o PCP ter ficado preso ao passado.

Não vive no tempo atual, ainda vive no tempo da Guerra Fria – no tempo em que URSS e EUA mediam forças e as pessoas tinham de se posicionar de um lado ou de outro.

E como agora a Rússia apoia Maduro, o PCP também tinha de o apoiar.

É tão simples quanto isto.

Mas eu pergunto: e os venezuelanos?
Os venezuelanos não contam nada para o PCP?

Os dirigentes do partido não vêem as imagens que de lá chegam, com os supermercados de prateleiras vazias, as pessoas sem terem que comer, sem medicamentos, uma desvalorização galopante que obriga os cidadãos a andarem com montões de notas na bolsa que não valem nada?

Não vêem o espetáculo deprimente de longas colunas de gente em fuga diária do país?

Neste momento, os emigrantes já são mais de 12% da população.

Os dirigentes do PCP não vêem isto?

Acham que as imagens da TV são manipuladas?

Acham que os números são manipulados?

Não têm coragem para encarar a realidade de frente?

E quem levou a Venezuela àquela situação?

Foram os estrangeiros, os americanos?

E este apoio do PCP ao regime comunista venezuelano coloca uma questão muito séria a nível nacional: é aquilo que Jerónimo de Sousa quer para Portugal?

É com aquele modelo de regime que Jerónimo sonha para Portugal?

É mesmo?

Como não acredito que haja um único português que veja Maduro como um modelo – e o seu regime como algo a seguir – o apoio do PCP a Maduro representaria em condições normais, por si só, o descrédito total do Partido Comunista.

Se isso não acontece, é porque temos uma opinião pública muito desatenta – e os adversários políticos do Partido Comunista andam a dormir.

Jerónimo de Sousa diz que aqueles que atacam Maduro e defendem Guaidó – o autoproclamado Presidente interino enquanto não se realizam eleições credíveis – são agentes do imperialismo americano de Donald Trump.

É um argumento de quem já não tem nada a que se agarrar.

Que tem Trump a ver com o que se passa na Venezuela?

Foi ele quem lá implantou o regime que levou as populações à miséria?

O uso do nome odiado de Trump é um mero expediente para desviar as atenções.

Trata-se do habitual truque de arranjar um inimigo externo para justificar o totalitarismo interno.

E já agora, Trump foi eleito em eleições, livres – e Maduro?

Da América as pessoas não fogem – pelo contrário, esforçam-se por ir para lá; ora da Venezuela saem aos magotes.

Na América os supermercados estão cheios (até demais), as farmácias idem, não faltam medicamentos; ora na Venezuela falta tudo.

Quer isto dizer que, além de ser um ditador, Maduro é um ditador incompetente – que não conseguiu manter o seu país minimamente a funcionar e o deixou mergulhar no caos.

E em vez de reconhecer os erros e se ir embora, agarra- se pateticamente ao poder apoiado pelos militares que nomeou.

Jerónimo acusa os apoiantes de Guaidó de serem peões do imperialismo americano.

E o PCP é o quê? 

Nesta lógica, é um peão do imperialismo russo, que se apresenta hoje bem mais ameaçador.

Donald Trump é um parlapatão mas foi educado numa sociedade democrática; Putin, pelo contrário, cresceu num sistema comunista e formou-se na escola do KGB.

Repito o que disse: se houvesse uma opinião pública forte e os adversários do PCP não estivessem a dormir, o apoio do Partido Comunista à ditadura incompetente de Nicolas Maduro seria suficiente para lhe retirar por completo a honorabilidade.

Primeiro, o PCP revela total desdém pela democracia; depois mostra o mais completo desprezo pelo sofrimento daquele povo.

Tudo em nome da vassalagem a um regime e a um homem, Vladimir Putin, que representam o que hoje resta do comunismo soviético.