Europa. Crescimento da extrema-direita ameaça projeto europeu

As sondagens dão mais de 14% dos deputados aos nacionalistas nas eleições “mais importantes da história do parlamento europeu”

Uma sondagem do Parlamento Europeu, publicada esta segunda-feira, dá mais de 14% dos deputados às bancadas dos partidos de extrema-direita nas próximas eleições europeias, marcadas para o período entre 23 e 26 de maio. Este crescimento eleitoral repentino, na ordem dos 40%, coloca os nacionalistas como os prováveis grandes vencedores das eleições. 

As expectativas para estas eleições são elevadas, sendo consideradas “as mais importantes na história do parlamento europeu”, segundo o porta-voz da instituição, Jaume Duch. O representante do parlamento considera que as tensões estão em alta, devido ao “contexto político” e à saída do Reino Unido da União Europeia. Algo que aumenta ainda mais a proporção dos nacionalistas em ascensão, com a diminuição do número de deputados europeus de 751 para 705. 

Ao mesmo tempo, prevê-se que as forças de centro-esquerda e centro-direita, dominantes no Parlamento Europeu nas últimas quatro décadas, percam a sua maioria combinada, passando a precisar do apoio de uma terceira força política. Uma aproximação aos liberais e aos verdes permitirá conseguir maiorias, mas a alteração dos antigos equilíbrios arrisca aumentar a influência da extrema-direita, que poderá conseguir liderar comités e até vetar legislação.

A crescente presença de forças populistas eurocéticas é uma fonte de preocupações para Bruxelas, podendo dificultar os planos dos partidos tradicionais de escolher substitutos para os cargos mais definidores do rumo da Europa – a presidência da Comissão Europeia, do Conselho Europeu e do Banco Central Europeu – que serão decididos ainda este ano, após as eleições.

A bancada com maior crescimento eleitoral é a da Europa das Nações e das Liberdades, passando de ter 4,9% dos deputados para 8,4%. Este grupo inclui a Reunião Nacional de Marine LePen, tal como a Liga do Norte, do ministro do Interior italiano, Matteo Salvini. O líder da Liga do Norte tem sido o principal articulador da marcha nacionalista sobre Bruxelas.

“Gostaria de ter uma presença em todos os países”, afirmou Salvini, numa entrevista ao site Politico, acrescentando que tem falado com “os austríacos, franceses, holandeses e flamengos. Estamos em negociações com os polacos, dinamarqueses e suecos”. E não tem dúvidas que será bem sucedido: “Seremos um dos grupos mais fortes”.

Ainda o ano passado, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, do partido de extrema-direita Fidesz, mas que faz parte do Partido Popular Europeu,  garantiu que “seguia o mesmo caminho” que Salvini. “Ambos queremos mudar a Comissão Europeia. Queremos proteger as nossas fronteiras”. 

Apesar de uma tendência para um crescimento expressivo, facilitada pela normalização da retórica xenófoba, o campo nacionalista continua fortemente divido. Além do Europa das Nações e Liberdades, há ainda o Europa da Liberdade e Democracia Direta, que inclui o partido populista Movimento 5 Estrelas, tal como o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).