Como serão os ‘centennials’?

Aquela que hoje se designa como ‘geração Y’ integra sem margem para grandes dúvidas os líderes na próxima década

Um destes dias encontrei um gestor de recursos humanos responsável por diversos recrutamentos empresariais e de repente demos por nós a falar dos ‘millennials’ ou ‘geração Y’ (os nascidos entre 1980 e 2000). Daqui para a ‘geração Z’ (ou ‘centennials’) – isto é, para os que vão sair das escolas na próxima década – foi um pequeno passo. Refletimos sobre as incertezas do que aí vem e os impactos para as empresas. Até nos rimos, porque já parece que aqueles que agora têm 40 ou 50 anos – os da ‘geração X’ – são pré-históricos. Para além destas modernices de nomenclaturas X, Y ou Z, a verdade é que, girando tudo a uma velocidade estonteante, a juventude atual que vai sair das escolas superiores na próxima década (‘geração Z’), já deverá ser muito diferente da geração anterior, e é uma incógnita como se irá integrar nas organizações.

Aquela que hoje se designa como ‘geração Y’ integra sem margem para grandes dúvidas os líderes na próxima década.

Constituindo uma enorme fatia da população (nos Estados Unidos, por exemplo, serão cerca de 25%), determinarão necessariamente as opções estratégicas empresariais. São os contemporâneos ou impulsionadores da internet e da revolução provocada nos hábitos das pessoas, desenvolvendo conectividade entre elas, bem como de serviços e produtos.

Existem estudos referindo que, naquela geração, 40% querem criar marcas ou produtos, 80% procuram o entretenimento e cerca de 70% compartilham experiências (boas ou más), dando feedback para as redes sociais. E onde cabem aqui as relações profissionais? As relações com os empregos são estruturalmente de curto prazo e surgem as apetências pelas start-ups, com a convicção de que irão resolver todos os problemas da humanidade.

Todos nós agora ‘googlamos’ – verbo que entrou no nosso vocabulário e tão cedo não sairá. A informação está disponível num click e as pessoas tendem a não apreender mas apenas a utilizar a informação disponível. Uma das consequências que pessoalmente me aflige é a iliteracia da juventude, que se traduz num vocabulário incipiente e um número elevado de erros a escrever, minimizado pelos dicionários existentes nos computadores que sublinham a vermelho os erros detetados, possibilitando correções automáticas. Leitura de livros? Considerada uma perda de tempo nos tempos que correm. Mas se tiverem de ler por qualquer razão, existe o Kindl que permite a leitura de livros. O diálogo aluno-professor na escola foi substituído pela facilidade do acesso à informática através de um qualquer computador. Nem bom nem mau – apenas a realidade atual, que terá certamente consequências nas empresas.

Das leituras que fiz sobre estes temas, reparei que esta ‘geração Y’, relativamente aos hábitos de consumo, não é significativamente influenciada pela propaganda, como se pode ver pelos bloqueadores no Facebook ou YouTube, para lá da TV em streaming online.

No entanto, antes de comprarem conteúdos buscam opiniões em blogues (!). No final, se ficarem satisfeitos, estabelecerão uma relação fiel com as marcas por que optaram.

Mas com as empresas a relação não é assim: a fidelidade pode ser uma treta, os novos desafios são aceites com facilidade.

Os talentos que existem já são disputados e as mudanças sucedem-se. Um amigo meu estava estupefacto quando soube que o filho ia trocar o que para nós seria ‘um grande emprego’ (dado que estava num grupo sólido financeiramente com ótimas avaliações profissionais) por ‘uma aventura’ numa start-up a constituir. Choque de gerações ou diferentes perspetivas de ver a vida? Ambas as coisas, penso eu.

E como vão ser os ‘centennials’ ou ‘geração Z’? Sei lá! Como será a relação destes com as empresas? Nem ideia! Tudo permanece uma incógnita. Como dizia um amigo meu, «antes de nascerem já consultam a internet para saberem se os astros são favoráveis». Não fazem qualquer ideia do que são cartas de correio ou telefones analógicos. Tudo está online sem contar com a evolução tecnológica que se imagina mas não se perspetiva. Esta geração cresce num ambiente diferente dos das gerações anteriores, num mundo crispado e cada vez mais competitivo. Mas arrisco dizer que também serão profundamente exigentes com as organizações a que pertencerem. Quererão empresas com valores, com princípios éticos, modernas, com investimento constante em tecnologia. Mas viverão o presente sem contarem muito com o futuro, sobretudo com as perspetivas de reforma – cujo colapso irão imputar às gerações dos seus pais e avós. Serão muito mais intolerantes a fenómenos como o racismo e irão desprezar a homofobia. Por fim, serão muito sensíveis a temas como o ambiente, sobretudo porque herdam os desmandos feitos pela humanidade nestas décadas de vergonha.

 

P.S. – Houve para aí um escândalo sobre os 10-0 do Benfica ao Nacional! Não sobre o desequilíbrio entre as equipas da 1.ª divisão nem sobre o excesso de existirem 18 equipas nesse campeonato. Foi sobre a ‘humilhação’ de equipas pequenas, alvitrando até que o Benfica «devia ter levantado o pé do acelerador». Só quem nunca fez desporto de alta competição é que pode pensar assim. É exatamente o contrário (e falo com o à-vontade de ter andado mais de 20 anos pelo andebol): se o Benfica tivesse ‘abrandado’ é que teria humilhado o adversário. Não saber isto é não saber nada da ética em desporto profissional!