Jovens relatam ataque homofóbico na Costa da Caparica: “fufas de m****, sapatonas, nojentas”

Casal terá sido agredido em plena luz do dia e em frente a uma multidão que nada fez

Os primeiros relatos chegaram através das redes sociais, no último domingo. Débora Pinheiro e Sara Casinha, que são namoradas, utilizaram o Twitter para denunciar um ataque homofóbico que aconteceu enquanto passeavam na Costa da Caparica.

“Fui almoçar com a minha namorada à Costa. Atravessámos uma rua de mãos dadas e um senhor, com o filho dentro do carro, acelerou para fingir que nos ia atropelar. Parou o carro e fez-nos um f*** a rir. Quando subimos uma rua o homem estava lá e veio para cima de nós (…) Com as mãos na nossa cara, a chamar-nos de 'fufas de merda', 'sapatonas' e 'nojentas'. Aos berros. Às duas da tarde. Nós ignorámos a pessoa depois de também o termos insultado e fomos embora. O senhor veio atrás de nós, começou a empurrar-me. A dizer que o que me fazia falta. (…) era um chapadão de um homem a sério. Virou-se para a Sara, aos berros, e chamou-a de vaca de m**** quando lhe, exatamente, mandou um estalo na cara. Eu empurrei-o, ele deu-me um murro na clavícula, mandou-me contra a parede a apertar-me o pescoço (…) Eu não sei se perceberam que ninguém se meteu, fomos nós que nos defendemos sozinhas. Estava uma multidão e ninguém fez nada. Chamámos a polícia, apresentamos queixa na GNR. E sim, Portugal é um país maravilhoso. Não tenho de achar o mesmo das pessoas”, refere o testemunho partilhado na rede social.

Em declarações ao Diário de Notícias, Débora, de 21 anos, recordou o momento e sobretudo a forma como ainda se sente espantada por este tipo de ataque acontecer.

"Já tive discussões com pessoas por ser homossexual mas nunca uma situação de agressão. E quando pensamos na possibilidade de acontecer uma agressão, pensamos que pode suceder durante a noite. Não estou a pensar que às duas da tarde vou levar com uma pessoa em cima de mim quando estou a querer ir almoçar. Não queria acreditar que uma pessoa a um domingo a meio da tarde ia fazer aquilo. E ainda por cima alguém acompanhado de uma criança. Porque ele tinha o filho de 14 anos com ele", referiu a jovem, citada pelo Diários de Notícias, acrescentando ainda que até se juntou uma multidão para ver o acontecimento, mas ninguém foi capaz de intervir.

“Foi tão surreal que gritei: 'Como é que ninguém faz nada?' (…) Um crime é um crime, diz respeito a todos. O que mais me chocou foi ninguém fazer nada. Não sei se por sermos duas, por as pessoas perceberem que somos lésbicas porque ele gritava fufas e sapatão… Mesmo depois de ele se ir embora ninguém foi ter connosco para saber se estávamos bem", contou.

Débora admite que sentiu medo, mas relembrou ainda o momento em que teve coragem de se dirigir ao filho do alegado agressor, depois de o homem lhe dizer que o casal precisava era de um homem.

"Disse-lhe que era uma criança e nem devia estar ali a compactuar com o comportamento do pai (…) o filho vai achar que é 'ok' bater em mulheres se elas forem isto ou aquilo”, recordou.

O mesmo jornal escreve que foi Sara, de 28 anos, que conseguiu tirar a matrícula do carro do alegado agressor e ligar para o 112. O operador do 112 terá dito que ia mandar a GNR para tomar conta da ocorrência. No entanto, a força de segurança não apareceu e foram as jovens a dirigirem-se ao posto.

Contactada pelo Diário de Notícias, a GNR limitou-se a confirmar a existência de queixa e a remissão do processo para o tribunal de Almada, já com a identificação do alegado agressor.

O casal esteve na última segunda-feira no tribunal para prestar declarações e para serem examinadas para recolha de indícios de agressões. No entanto, a falta de testemunhas preocupa as jovens.

O homem em causa terá 37 anos e residirá na zona, em Vale de Cavala, na Charneca da Caparica, escreve o mesmo jornal.