Venezuela. Maduro desafia Guaidó a convocar eleições

Juan Guaidó chama-lhe “declaração vazia” para “confundir a opinião pública”. Assessor militar na ONU jura fidelidade ao presidente interino

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, desafiou o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, a convocar eleições para resolver a situação de impasse político no país. “O pretendente autoproclamado porque não convocou eleições? Por que não convoca eleições para vencer com os votos do povo? Convoque eleições, senhor autoproclamado, senhor palhaço”, disse o chefe de Estado.

Guaidó não deu muito crédito ao desafio de Maduro, considerando-o uma “chantagem”. Em entrevista ao programa “Despierta con Loret” da Televisa, disse que “Maduro não tem neste momento nenhum tipo de competências” e que “quem convoca as eleições é o Conselho Nacional Eleitoral, que ele controla, por isso, estamos nesta crise na Venezuela”. Para o autoproclamado presidente interino, para que haja “eleições realmente livres” é preciso “renovar esse conselho”.

“Isto é apenas uma chantagem de Maduro, uma declaração vazia para tentar confundir a opinião pública internacional, mas, responsavelmente, a Assembleia Nacional está a dar os passos para conseguir que haja um CNE renovado, limpo, transparente e que não esteja sequestrado pelo regime”, acrescentou.

Um dia depois de o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, ter avisado que para derrubar Maduro era preciso passar por cima dos cadáveres dos seus apoiantes, surgiu a notícia da deserção de um coronel. Pedro Chirinos Dorante, assessor militar adjunto na Missão Permanente da Venezuela nas Nações Unidas, difundiu um vídeo nas redes sociais, gravado aparentemente nas próprias instalações diplomáticas em Nova Iorque, dizendo-se em “desobediência” e oferecendo a sua lealdade ao “governo de transição”.

O coronel Chirinos não tem a seu mando nenhuns homens, aliás, tal como os outros três oficiais de alta patente que até agora romperam com o executivo de Maduro: o coronel José Luis Silva, da Guarda Nacional, que exercia as funções de adido militar na embaixada em Washington; o general Francisco Esteban Yánez Rodríguez, da Força Aérea, que trabalhava na Direção de Planificação Estratégica do Comando da Aviação; e o coronel Rubén Paz Jiménez, médico do Exército.

 

Ocupação de embaixada

Esta quarta-feira, María Faría, representante de Guaidó assumiu o controlo da embaixada da Venezuela na Costa Rica, país que reconheceu o presidente da Assembleia Nacional como chefe de Estado interino. “Uma vez cumpridos os trâmites legais estipulados pela lei, viemos à embaixada para avançar com o processo de transição, liderado pela Assembleia Nacional e o presidente Juan Guaidó, para restituir a ordem democrática. Isso passa por garantir o respeito pelos direitos dos nossos concidadãos fora do território venezuelano”, adiantou María Faría em comunicado.

Entretanto na fronteira venezuelano-colombiana, a guerra de propaganda tem marcada uma nova etapa para esta sexta-feira, véspera do dia estabelecido por Guaidó para que a ajuda humanitária entre na Venezuela, mesmo com a oposição do regime.

De um lado da fronteira de Cúcuta, o governo de Caracas marcou o concerto “Hands Off Venezuela”, do outro lado, o executivo colombiano está a organizar o “Venezuela Live Aid”.

O concerto do lado colombiano é organizado pelo magnata Richard Branson, fundador da Virgin e tem já 32 nomes no cartaz, entre eles algumas figuras conhecidas da música latino-americana como El Puma Rodríguez, Alejandro Sanz, Carlos Vives, Juanes, Paulina Rubio. A intenção, segundo Branson, é angariar 100 milhões de dólares para ajudar a Venezuela. Roger Waters, fundador dos Pink Floyd, considera, no entanto, que esse concerto “não tem nada a ver com ajuda humanitária” e é apenas “um truque”.

O espetáculo montado pelo governo de Maduro para a ponte internacional Simón Bolívar, uma das ligações fronteiriças com a Colômbia, realiza-se sexta-feira e sábado, tudo porque, segundo o ministro da Comunicação Jorge Rodríguez, “são tantos” os “artistas venezuelanos e irmãos de toda a parte do mundo que querem participar nesta mensagem de amor, nesta mensagem de denúncia contra a agressão brutal a que se intenta submeter o povo venezuelano, que tivemos de dedicar dois dias para a realização deste enorme evento”.