Um país que é uma família na política e nos negócios

Portugal é um país ‘piqueno’ onde as famílias se conhecem lindamente, aproveitando-se esse facto para servir à mesa a família como ementa. 

Na política ou nos negócios parece que só aqueles que pertencem à mesma família é que são válidos. Olhando para a última remodelação governamental fica-se com a ideia que não existe mais ninguém válido no país além do círculo mais restrito dos amigos de Costa, os familiares de Vieira da Silva, acrescentando-se a esta lista o ministro que é marido da ministra e por aí fora. Não está em causa a competência dessas pessoas, mas olhando friamente para o Governo e restantes organismos do Estado ficamos com a ideia de que são todos farinha do mesmo saco e que veem a realidade com a mesma visão. O que é péssimo, só pessoas com leituras diferentes podem acrescentar alguma coisa, pois aquelas que são iguais a nós dizem e pensam o mesmo.

Um país tem muitas tonalidades, mas neste Governo quase só existe uma. Não creio que este seja um problema exclusivo do atual Executivo, mas Portugal é um país ‘piqueno’ por isso mesmo. Não existe uma cultura da meritocracia, o cartão do partido e as amizades falam mais alto.  

Atentemos pois àquilo que vem de fora da família. Álvaro Santos Pereira fez parte do Governo anterior, tendo deixado de ser ministro da Economia depois de ter cortado algumas vantagens das empresas de energia, de  falar na valorização dos produtos nacionais, com os pastéis de nata à cabeça, entre muitos outros assuntos. Professor em várias universidades estrangeiras, percebia-se que Santos Pereira não era o político tipo. Não o conheço de parte alguma, mas sempre tive a melhor das impressões, no que à seriedade diz respeito. Atualmente, faz parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e tem como uma das suas missões ajudar a elabora o relatório sobre a situação portuguesa.

Por ter feito parte do Governo de Passos Coelho, Álvaro Santos Pereira foi afastado e proibido de apresentar o relatório sobre Portugal. Para este Governo, como para outros de outras cores, repito, não tem credibilidade quem não faz parte da família. Santos Pereira nem era filiado no PSD, mas isso não tem qualquer importância. O Governo lá convenceu o secretário-geral da OCDE a afastar Santos Pereira de terras lusas por ocasião da publicação do relatório. Relatório, diga-se, que foi alterado por não agradar ao  Executivo de António Costa. E o que dizia o documento preliminar? Que Portugal está ao nível da Nigéria e do Iraque no que à corrupção diz respeito! O relatório falava dos casos de corrupção que estão na praça pública, havendo uma clara ligação a José Sócrates, e recomendava ao Governo português a constituição de um tribunal especializado para julgar os crimes de corrupção.

Quem não percebe que um dos grandes problemas do país é, precisamente, a corrupção é porque não quer ver  nada. Basta uma pesquisa rápida pelo Google para percebermos uma coisa tão simples como esta: um dos maiores assaltantes de bancos em Portugal – nos trinta assaltos roubou qualquer coisa como 100 mil contos, o equivalente a  500 mil euros – foi condenado a 21 anos de cadeia. Quantos milhões não foram roubados dos diferentes bancos portugueses nos últimos anos? Há quem fale em 20 mil milhões, há quem diga que é um pouco menos. Quantos desses já foram condenados?