CTT perdem 57,8M desde a privatização

Quatro anos depois da sua privatização, os Correios recuaram nos lucros e também no número de trabalhadores, contando com menos 426. Mas aumentaram 66 os postos de atendimento.  

CTT perdem 57,8M desde a privatização

A renacionalização dos Correios foi chumbada esta sexta-feira no Parlamento. O prazo de concessão termina em dezembro e o PS quer esperar até 2020 para avaliar a possibilidade de nacionalização da empresa. Esta foi a resposta dos socialistas à proposta dos partidos de esquerda (PCP, BE e PEV) que querem reverter o processo de privatização dos Correios levado a cabo pelo governo de Passos Coelho em setembro de 2014. Uma operação que permitiu encaixar 909 milhões de euros aos cofres do Estado.

Desde que os CTT foram privatizados, em setembro de 2014, o único denominador que permaneceu durante estes quatro anos nos Correios foi mesmo a liderança de Francisco de Lacerda, cujo mandato termina no final deste ano. Nessa altura, o presidente da empresa falava em «ano histórico» – 2014 foi primeiro ano dos CTT como empresa privada cotada em bolsa – e mostrava-se «orgulhoso do passado e otimista» em relação ao futuro. A diferença nestes últimos quatro anos assenta não só nos lucros apresentados como também no número de estações e trabalhadores. Desde o ano da privatização até final de 2018, os Correios perderam 57,8 milhões de euros em resultados. O cenário de queda também se refletiu no número de trabalhadores, com a empresa a empregar menos 426. Em contrapartida o atendimento foi reforçado e passou de 2.317 (entre redes de lojas e postos de correios) para 2.383 pontos CTT, uma diferença de 66. 

Mas vamos a números. No ano em que a empresa foi alienada – e que coincidiu com o fim da ajuda da troika – fechou com lucros de 77,2 milhões de euros. Um aumento de 26,5% face ao ano anterior, quando tinha atingido os 61 milhões de euros. Esses resultados foram essencialmente impulsionados pelo crescimento dos rendimentos operacionais, para 718,8 milhões de euros (mais 2%) – invertendo cinco anos consecutivos de queda –, «por iniciativas de controlo de custos e implementação de transformações estruturais que permitiram potenciar a eficiência, a agilidade e a sustentabilidade da empresa», explicou na altura a empresa.

Os Correios contavam com 12.523 trabalhadores (uma redução de 2,9% face ao ano anterior), 623 redes de lojas e 1.694 postos de correio. O dividendo proposto nesse ano aos acionistas foi de 40 cêntimos por ação. O correio representava então 70% do total do negócio e atingia 546,2 milhões de euros dos rendimentos operacionais, enquanto a área de encomendas se fixava em 129 milhões de euros (17% do total consolidado).

Mas a partir de 2015 assistiu-se ao início da queda dos lucros. Nesse ano, a empresa liderada por Francisco Lacerda apresentou um resultado de 72 milhões de euros, uma quebra de 6,6% face ao ano anterior. Ainda assim, a empresa distribuiu dividendos de 70 milhões, correspondentes a 47 cêntimos por ação.

O número de trabalhadores também registou uma ligeira redução (0,5%), atingindo os 12.462. O mesmo cenário registou-se na rede de lojas: 619, mas em contrapartida aumentou para 1.711 os postos de correio. Esse ano ficou também marcado pelo lançamento da marca do Banco CTT e pelo início da sua atividade, embora em modo limitado, no modelo de soft opening: «opera na agência sede, num ambiente reservado a trabalhadores dos CTT e do Banco CTT».

Um projeto considerado pela empresa decisivo para completar a oferta do negócio de serviços financeiros, nomeadamente a comercialização de dívida pública e de outros produtos como seguros e que vinha do tempo da administração de Luís Nazaré. «O banco está no ADN dos CTT e constitui uma ambição de longa data da empresa», vindo «colmatar uma oportunidade clara de mercado», dizia o relatório e contas. E explicava essa necessidade: «Nos últimos anos a banca e as instituições financeiras portuguesas sofreram graves danos reputacionais causados por uma longa e profunda crise económica agravada pela crise da dívida soberana que afetou particularmente o setor bancário. Através de uma análise profunda e cuidada ao mercado, os CTT identificaram uma oportunidade para lançar um banco dirigido a uma população que valoriza a confiança e privilegia a simplicidade (em vez da complexidade) nas suas necessidades bancárias diárias», salientava o documento.

O ano de 2015 ficou também marcado pelo aumento dos rendimentos da área de negócio de correio que subiu 1,5% para 554,6 milhões de euros devido ao efeito combinado do aumento do preço médio do correio endereçado, da alteração da política de descontos e da desaceleração do ritmo de queda no tráfego de correio endereçado que se situou nos 3,2% (vs. um decréscimo de 5,7% em 2014 face a 2013). O mesmo aconteceu com a área de negócio expresso encomendas, que apresentou um crescimento dos rendimentos de 1,7%, para 131,3 milhões de euros, em resultado de um crescimento de tráfego de 3,2%.

Banco CTT arranca

O Banco CTT arrancou em 2016 com a abertura de 200 balcões. De acordo com a empresa, terminou o ano com mais de 100 mil clientes, 74 mil contas abertas e mais de 250 milhões de euros em depósitos. Um ano que ficou igualmente marcado pela continuação da queda dos lucros, que se saldaram em 62,1 milhões de euros, uma queda de 13,7% face aos 72 milhões de euros registados em 2015. 

Na altura, a empresa justificou esta redução «como resultado da queda estrutural da receita de correio que registou valores mais elevados que os esperados, com um forte efeito negativo do mix de preços», que passou a pesar menos de 50% dos rendimentos. Já as encomendas foram o que mais contribuiu para o crescimento do setor. Uma tendência que continua a vigorar até aos dias de hoje.

Os CTT contavam nesse ano com 12.479 trabalhadores (mais 0,1%) e os postos de correio registaram uma ligeira subida, passando de 1.711 para 1.724 (mais 0,8%). Uma tendência que não foi seguida pela rede de lojas, que passou de 619 para 615. O dividendo distribuído aos acionistas totalizou os 72 milhões de euros, correspondentes a 0,42 cêntimos por ação.

Plano de transformação avança

Ano novo, nova administração e 2017 ficou ainda marcado pelo início do plano de transformação dos Correios que estará concluído em 2020 e com a venda da sua sede, permitindo um encaixe de 16 milhões de euros. Sem esquecer a quebra de resultados superior a 50%. Esse ano, os CTT fecharam a sua atividade com um resultado líquido de 27,2 milhões de euros, uma redução de 56,1% face a 2016.

O número de trabalhadores registou um aumento de 2,6% para 12. 787, enquanto os postos de correio registaram uma subida de 2,1% para 761. A rede de lojas voltou a registar uma queda, totalizando as 608. Já o dividendo distribuído aos acionistas fixou-se em 38 cêntimos por ação, ou seja, mais do que o montante total dos lucros.

Um ano depois de ter sido lançado, o Banco CTT conseguiu captar depósitos acima de 619 milhões de euros, dos quais cerca de 409 milhões de euros à ordem. Já a intermediação de crédito pessoal e automóvel, em parceria com o Cetelem, superou os 36 milhões de euros, enquanto o crédito à habitação – lançado no quatro trimestre desse ano – totalizou os 66,1 milhões de euros.

Menos lucros e menos dividendos

A queda de lucros manteve-se no ano passado, com os Correios a apresentarem um quebra de resultado de 28% para 19,6 milhões de euros. Segundo a empresa, este resultado foi influenciado pelos gastos com as rescisões de contratos de trabalho por mútuo acordo, que totalizaram os 20,5 milhões de euros, no plano de transformação operacional.

No entanto, os rendimentos operacionais cresceram para 708 milhões de euros, um aumento de 1,4% em relação ao ano anterior. «O aumento dos rendimentos operacionais dos CTT é impulsionado pela evolução positiva do mix de produtos no negócio de correio, que compensou a queda do tráfego de correio endereçado, e pelo crescimento dos rendimentos operacionais de 12,3% na área de expresso & encomendas e de 27% no Banco CTT», explicaram.

Os CTT empregavam, em dezembro de 2018, 12.097 pessoas, e contavam com uma rede de 2.383 Pontos CTT. E, ao contrário do que acontecia em anos anteriores, a empresa cortou na distribuição de dividendos: 10 cêntimos por ação, ou seja, nunca os CTT pagaram tão pouco aos seus acionistas, cortando com a política de distribuir mais do que os lucros registados, ficando apenas por 75% dos lucros.

Em relação ao Banco CTT, o ano de 2018 foi fechado com mais de 400 mil clientes, um crescimento dos depósitos de 42,8% para 884 milhões de euros e uma quota de 2,8% na concessão de crédito à habitação (238 milhões de euros).