Qualificações e competências: uma nova moeda global

«As competências são a nova moeda, convém ter muitas no bolso». Joanne Caddy Em abril, completam-se quatro anos que a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) apresentou um relatório de diagnostico ‘Uma estratégia de competências para Portugal’. O seu secretário-geral, Angel Gurria, em cerimónia com o primeiro-ministro português à época, Pedro Passos Coelho, além…

«As competências são a nova moeda, convém ter muitas no bolso».

Joanne Caddy

Em abril, completam-se quatro anos que a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) apresentou um relatório de diagnostico ‘Uma estratégia de competências para Portugal’. O seu secretário-geral, Angel Gurria, em cerimónia com o primeiro-ministro português à época, Pedro Passos Coelho, além de citar Fernando Pessoa («Tudo vale a pena quando a alma não é pequena»), deixou doze desafios ao nosso país. A saber, com base em três pilares interligados: desenvolvimento das competências da infância até à chamada idade adulta; a efetiva atuação da oferta de competências em todo o mercado de trabalho e, por último, a utilização diversificada mas sólida das competências em toda a economia e também na sociedade. 

Destes três pilares, resultaram 12 desafios que permitiram um retrato sócio económico da situação portuguesa. Saber melhorar a qualidade e a equidade na educação (por exemplo, no que diz respeito ao abandono escolar o nosso país que tem tido das taxas mais altas), reforço e sintonia do sistema de educação e formação profissional com as necessidades e exigências do mercado, mais e melhor formação na educação de adultos (muita gente de várias idades não tem a educação básica), redução do desemprego jovem e dos chamados ‘nemnem’, ações de reconversão profissional para os desempregados de longa duração, criação de melhores condições para o acesso ao emprego (à época a OCDE chamou a atenção para o tempo e o montante pago aos desempregados como sendo altos e desincentivadores para a procura de emprego, de entre outras chamadas de atenção), destacando a necessidade de apoio ao empreendedorismo, incentivando a investigação e o desenvolvimento (IED) pelo tecido empresarial (para a criação de emprego qualificado e valor), ‘premiar’ os empregadores e criadores de emprego qualificado, criar de sistema de financiamento para mais e melhor competências e qualificações, melhorar a coordenação das políticas neste setor com base no reconhecimento das necessidades locais, regionais e nacionais e por último, promover a monitorização e a avaliação de todas as políticas, e medidas implementadas.

Passaram quatro anos. O que foi feito? Como estamos? Parece que este relatório da OCDE  não foi levado muito a sério.

Por muita gente e por muitas instituições. Num mundo global, cada vez mais aberto e concorrencial, com economias cada vez mais abertas, concorrentes, competitivas, esta nova moeda global, que são as qualificações e competências, não pode deixar de ser considerada num país como Portugal. Sobretudo pelos poderes públicos. Cada vez mais, estudos indicam-nos que as competências e qualificações farão toda a diferença no mercado de trabalho. As melhores competências serão as que tiverem mais e melhor diversificação. Melhores competências serão sinónimo de melhor emprego, mais e melhor criação de valor e de riqueza e, consequentemente, mais e melhor desenvolvimento económico e social.

A OCDE tem esta matéria como prioritária há anos. A questão central é: de que competências precisamos para uma economia e sociedade mais robustas, ricas e desenvolvidas? As melhores competências (e qualificações)  serão as que nos preparam melhor para continuar a aprender durante toda a  vida. Outros estudos da OCDE têm concluído que um elevado nível de literacia ‘certa’ pode servir para mais 50% dos salários.

Mais de 60% dos alunos que ingressaram recentemente no chamado sistema de ensino básico irão ‘trabalhar’, ter ‘empregos’ em profissões e áreas de trabalho que ainda não existem. O paradigma do emprego para a vida acabou. Pode parecer cruel, mas é assim mesmo. As ‘novas’ soft skills vão marcar o futuro. Onde a qualidade e a diversidade vão ser determinantes para a  criação de valor e emprego qualificado. A  gestão de equipas por objetivos, com boa comunicação (escrita e presencial ) e marketing com liderança serão indispensáveis. Quer as soft skills, quer as hard skills serão determinantes para o futuro de um país como Portugal.

Até porque já não precisamos de qualificações meramente formais e ‘de papel e lápis’. O tempo dos doutores inúteis acabou. Com cursos clássicos com estruturas desfasadas da realidade do tempo em que vivemos. Com originalidades como licenciaturas em ócio e lazer (!), que mais não são do que imitações de devaneios de pretensas novas áreas do saber científico, impulsionadas por filmes e séries de ficção científica que não passam disso mesmo.

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