Em defesa do ensino público

Tal como em anos anteriores, vi as notícias sobre o ranking das escolas em que nos lugares cimeiros predominam diversas escolas privadas em detrimento das escolas públicas. As leituras apressadamente feitas conduzem normalmente a julgamentos precipitados e, mais uma vez, essa regra da supremacia do privado sobre o público prevaleceu. Devo dizer que sou acérrimo…

Tal como em anos anteriores, vi as notícias sobre o ranking das escolas em que nos lugares cimeiros predominam diversas escolas privadas em detrimento das escolas públicas. As leituras apressadamente feitas conduzem normalmente a julgamentos precipitados e, mais uma vez, essa regra da supremacia do privado sobre o público prevaleceu.

Devo dizer que sou acérrimo defensor da escola pública, talvez por influência da educação recebida – em que no secundário andei num liceu público em Lisboa (Pedro Nunes), depois de o ensino primário ter sido feito numa escola privada onde aprendi regras básicas para toda a vida (Lar da Criança). Como recebi estes exemplos, assim os segui na educação das minhas filhas, todas elas a frequentarem a mesma escola primária e depois o mesmo liceu, entretanto rebatizado ‘escola secundária’.

Entre o liceu do meu tempo e a escola das minhas filhas já notei algumas diferenças significativas, sobretudo de liderança das mesmas, ou, por outras palavras, da direção das mesmas. A diferença entre um reitor de cariz autocrático e um conselho diretivo de matriz democrática, o que em si não é questão. Mas passa a ser se e quando se perde a exigência e os padrões de qualidade diminuem.

O meu Pai dizia que «uma mesa bem posta ensina a comer». Ou seja, com lideranças nas escolas firmes e exigentes, a prazo, os alunos e a sociedade inequivocamente beneficiam. A disciplina, com liberdade e responsabilidade nas escolas, não é de esquerda nem de direita – é um requisito da educação escolar e quem não percebe isto apenas prejudica a nossa juventude.

Reconheço que hoje os tempos são muito diferentes. As escolas públicas, de uma maneira geral, não estão a promover a ligação aos alunos, os professores são mais distantes, as preocupações são imensas e diferentes. Acho que nas escolas privadas se desenvolvem hoje relações mais próximas dos alunos, com consequências inequivocamente mais duradouras. Acrescem outros fatores que acentuam estas diferenças – entre eles, a existência de avaliações ‘de facto’ efetuadas ou não efetuadas, quer aos professores quer aos alunos. Por fim, as greves, os ambientes de incerteza de aulas em tantos estabelecimentos públicos, não são certamente estímulos aos alunos para aprenderem.

Adicionalmente, quero referir que deve ser igualmente ponderado nestas comparações a realidade da segmentação de classes que no ensino é incontornável. Genericamente, o aluno da escola pública é mais desfavorecido economicamente que um aluno da privada e, sobretudo em casa, têm vidas diferentes, em termos médios. Quando se elaboram rankings, todos, mas todos os fatores subjetivos são esquecidos e as conclusões extraídas podem ser, e estou convencido que o são, altamente erróneas. As privadas clamam louros, mas deveria ser reconhecido que muitas das públicas fazem esforços descomunais para suprir ou pelo menos diminuir essa diferença, como se nota numa análise mais fina dos resultados publicados e sobretudo na evolução de uns anos para os outros.

A concluir, deixo um pedido ao Sr. ministro Brandão Rodrigues: preocupe-se sem tréguas com o ensino público e a sua melhoria, escola a escola, distrito a distrito. Seja exigente com os conselhos diretivos e com os professores, porque os alunos irão certamente beneficiar, dado que os tempos atuais são de elevada exigência e não de contemporização, e o facilitismo, como regra, tem graves custos, a prazo, para a sociedade.

PS. A remodelação governamental veio reforçar os laços familiares e de amizade entre a grande família socialista no Governo, autarquias e departamentos do Estado. Pelo meio, a ascensão de Pedro Nuno Santos demonstra que o PS quer reiterar a sua vocação esquerdista e preparar nova coligação à esquerda, em coerência com o seu afastamento do centrão onde navegou tantos anos e que deixa para o PSD de Rui Rio. Para já, desce nas sondagens, até porque começa a disputar eleitorados com que nunca contou, perdendo outros que sempre lhe foram fiéis.