Já não há pachorra

REFIRO-ME ÀS CHAMADAS ‘causas das mulheres’. E não me entendam mal: sempre gostei de mulheres, toda a vida trabalhei com mulheres, tive (e tenho) fantásticas colaboradoras, tenho muitas amigas e várias leitoras com quem dialogo regularmente. Além disso, sou casado há décadas… É certo que não tive irmãs, nem filhas, e não tenho netas. E…

REFIRO-ME ÀS CHAMADAS ‘causas das mulheres’. E não me entendam mal: sempre gostei de mulheres, toda a vida trabalhei com mulheres, tive (e tenho) fantásticas colaboradoras, tenho muitas amigas e várias leitoras com quem dialogo regularmente. Além disso, sou casado há décadas…

É certo que não tive irmãs, nem filhas, e não tenho netas. E isso pode ser um handicap.

Mas quando digo que ‘já não há pachorra’ refiro-me às campanhas feministas radicais que nos massacram a toda a hora e em toda a parte. Um destes dias foi apresentado um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos onde as mulheres eram apresentadas mais uma vez como umas «infelizes». Infelizes em casa e infelizes no emprego. Um canal de TV fez uma reportagem sobre o assunto que começava com uma velhota a mostrar molduras de dois homens em cima de uma mesa. E dizia a senhora, apontando para uma moldura e depois para outra: «Este é o meu primeiro marido, este o segundo». E acrescentava que nenhum deles correspondia ao seu ideal. Assim, a mulher era apresentada como mais uma vítima dos homens.

E eu pergunto: e a senhora corresponderia ao ideal de mulher dos dois homens, ambos já falecidos? Os homens também não seriam infelizes? Pelo menos, morreram antes dela, um após outro… E também se morre de tristeza.

TODA A PROPAGANDA me incomoda. Seja comercial, política ou de outra natureza. Porque há na propaganda o objetivo de nos impingir ideias ou modelos de comportamento. A propaganda feminista não foge à regra. Tenta impingir-nos a ideia de que as mulheres são sempre umas vítimas e os homens uns algozes. Que, com poucas exceções, as mulheres são umas infelizes, umas coitadas, umas sacrificadas, umas desgraçadinhas.

Que são exploradas em casa e no emprego, descriminadas, vítimas de assédio e de maus tratos.

Criou-se no Ocidente um caldo de cultura perverso. Uma acusação de assédio por factos ocorridos há 10 ou 20 anos pode ter consequências fatais, porque as empresas, os empregadores, as grandes marcas, não querem ver o seu nome associado a um ‘predador’. E este é despedido sem apelo nem agravo e vê o seu nome arrastado na lama.

NÃO HÁ MULHERES maltratadas? Claro que há. Não há mulheres assediadas? Claro que há. Não há mulheres vítimas de violência doméstica, física ou psicológica? Claro que há. Mas isso não se resolve com campanhas de propaganda. Isso resolve-se, por exemplo, com a redignificação da família, pois por detrás de uma mulher maltratada pelo marido ou companheiro está sempre uma família destroçada.

E, já agora, pergunto: por que razão, quando se fala da violência em família, se fala tão pouco nas crianças e nos idosos dependentes que são vítimas dela? Eu respondo: porque os lóbis feministas, como o #me too, têm imenso poder e não há lóbis ao mesmo nível para defender as crianças ou os idosos. As mulheres são usadas como armas de arremesso político e é nesse sentido que interessam. 

E DEPOIS há fenómenos absurdos. Um destes dias li a notícia de que aumentou a violência no namoro. Cada vez mais raparigas se queixam de que os namorados as tratam mal. Mas isto fará sentido? O namoro não serve exatamente para os casais verem se são compatíveis? Se uma rapariga vê que o namorado a maltrata ou a humilha só tem uma coisa a fazer: romper o namoro. É para isso que o namoro serve. 

Na violência doméstica a rutura é muito mais difícil porque aí há bens em comum, às vezes há filhos em comum, em princípio vivem na mesma casa. Mas no namoro não. Eu até diria que é bom os homens revelarem as suas tendências violentas no namoro, pois isso permite às mulheres livrarem-se deles a tempo. Até porque um homem que seja uma vez violento será violento sempre. Ir à Polícia queixar-se do namorado não faz qualquer sentido. Rompa!  

É certo que, mesmo assim, podem acontecer desgraças, como sucedeu agora na Alemanha. E isso conduz-nos a outra reflexão: para lá da rutura, as mulheres têm de pensar muito bem antes de iniciarem relações íntimas. Se não forem elas a defender-se, dificilmente outros as defenderão.

MAS, ESTA ideia de que os homens são todos uns malandros e as mulheres são todas umas vítimas não serve a ninguém. A ‘guerra dos sexos’ não é boa nem para a mulher nem para o homem. Cria desconfiança nas relações entre uns e outros, afasta-os. A menos que o objetivo seja esse…

É preciso pensar que não há só mulheres infelizes: também há muitos homens que têm uma vida desgraçada. Um operário de uma fábrica ou da construção civil que tem de se levantar às 6h00 para estar no emprego às 8h00, que tem um patrão ou um capataz com mau feitio, que para lá de ter um trabalho extenuante ainda é maltratado, se calhar preferiria ficar em casa em vez de trabalhar fora para poder sustentar a família.

Mas uma mulher que fique em casa a tratar da família não é vista como uma privilegiada mas sim como uma escrava – que sacrificou a carreira para tratar do marido e dos filhos. E, às vezes, que carreira é essa? Mulher da limpeza? Operária fabril? Funcionária de um call center? Essas serão mais felizes? 

REPARE-SE: eu não pretendo impingir ideia nenhuma. Apenas pretendo mostrar que nesta coisa do feminismo há muitas ideias-   -feitas profundamente erradas. Transpôs-se para o campo das relações entre homens e mulheres o princípio da luta de classes. 

E estou à vontade para falar pois não tive uma educação nada tradicionalista. Sou filho de uma família muito liberal para a sua geração: o meu pai era escritor e depois emigrou, a minha mãe era professora e passava o dia fora. Divorciaram-se cedo. Sei do que falo.