Após polémica, Kepa em dúvida para recepção ao Tottenham

Chelsea recebe amanhã os spurs na jornada 28 da Liga inglesa. ” Kepa tem que estar preparado para jogar ou para ficar no banco”, disse Sarri.

As imagens do episódio Sarri-Kepa correram mundo, depois do guarda-redes do Chelsea ter recusado ser substituído na final da Taça da Liga inglesa, no domingo, conquistada pelo Manchester City, no Wembley.

Depois da discórdia, o jogador espanhol e o técnico italiano mostraram harmonia na justificação do sucedido, ao garantirem que tudo não passou de um "mal-entendido".

Porém, esta terça-feira, na antevisão ao encontro dos blues com o Tottenham, a contar para a 28.ª jornada da Liga inglesa, o treinador de 60 anos afirmou ainda não ter decidido se o guardião de 24 anos vai ser lançado a jogo.

"Tenho de decidir. Talvez jogue, talvez não", adiantou Maurizio Sarri.

O treinador da formação londrina revelou que falou com o jogador, que pediu desculpa a toda a equipa técnica bem como ao plantel.

"Ele [Kepa] cometeu um grande erro, mas precisamos de ser maiores do que isso. Não o vamos crucificar", explicou Sarri.

Questionado sobre se o facto de o guarda-redes poder vir a ficar de fora das opções para o jogo desta quarta-feira com os spurs era um castigo ou uma questão tática, o treinador dos blues apenas disse que seria uma decisão tomada "a pensar no melhor para o grupo. Para todos os jogadores".

"Cometeu um erro. Grande. Isso tem consequências. Agora tem que estar preparado para jogar ou para ficar no banco", adiantou Sarri. 

O Chelsea ocupa atualmente o 6.ª posto na tabela – a 16 pontos do líder Liverpool – enquanto o Tottenham segue instalado no terceiro lugar, a seis pontos dos reds.

História do filme 

Bernardo Silva foi eleito o melhor em campo na final da Taça da Liga inglesa, mas não havia de ser o internacional português o grande protagonista do desafio.

E tudo por causa de um espanhol: Kepa Arrizabalaga. O guarda-redes do Chelsea chamou a si as atenções desta partida pelo momento caricato que protagonizou já no final do prolongamento, ao recusar ser substituído. O momento tornou-se viral nas redes sociais e passou mesmo o triunfo do conjunto de Pep Guardiola para segundo plano.

No final do encontro, o guardião dos blues fez questão de explicar a situação que, garantiu, não passou de um “mal-entendido”. 

O pedido de desculpa 

“Antes do mais, lamento o que sucedeu no final do prolongamento, mas quero clarificar que em momento algum foi minha intenção desobedecer ao treinador ou a qualquer uma das suas decisões. Creio que tudo foi um mal-entendido num momento de alta tensão, no final de um jogo que valia um título”, escreveu nas redes sociais o jogador que trocou o Athletic Bilbao pelo clube inglês por 80 milhões de euros, valor da cláusula de rescisão. 

O valor dispensado pelos blues tornou, aliás, o guarda-redes espanhol o mais caro da história do futebol, ao bater a transferência de Alisson Becker (da Roma para o Liverpool), que custou 62,5 milhões de euros.

“O treinador julgou que eu não estaria em condições de continuar em campo e a minha intenção foi expressar que estava em condições de continuar a ajudar a equipa, enquanto o corpo clínico chegava ao banco e passava essa mensagem. Lamento a imagem passada, mas nunca foi minha intenção dar essa imagem e por isso peço desculpa”, concluiu no mesmo post.

Também Maurizio Sarri, técnico dos blues, não alimentou grandes polémicas à volta do episódio, embora no momento não tenha conseguido esconder o desagrado perante toda a situação. O italiano de 60 anos, recorde-se, chegou mesmo a ameaçar sair da zona técnica. “Foi um grande mal-entendido. Queria pôr o Caballero, mas o Kepa queria continuar porque estava em condições de defender os penáltis. Ele estava certo, mas não se comportou da maneira mais correta. Quero falar com ele sobre esta situação porque ele tem de perceber que podemos ter problemas, especialmente com a imprensa”, ressalvou.

Apesar da harmonia entre as duas partes diretamente envolvidas, a onda de críticas ao guarda-redes de 24 anos não se fez esperar. José Mourinho, antigo treinador dos blues, mostrou-se aliviado por nunca ter vivido “uma situação complicada como esta” que, defendeu, “entristece muito”.

“Por um lado, o guarda-redes quer mostrar a sua confiança, quer mostrar a sua personalidade, quer dizer ‘eu estou aqui, quero ir à decisão e quero defender os penáltis’. Gosto disto. Não gosto que deixe o treinador, que deixe o adjunto e que deixe toda a gente numa situação de grande fragilidade – até um companheiro seu, que ia entrar e se viu metido numa confusão que não tinha nada a ver com ele”, analisou à DAZN o outrora Special One.

Já Cesar Azpilicueta, capitão da formação londrina, não se quis alongar nos comentários pois “estava do outro lado do campo” e não sabe “ o que aconteceu”. 

Por sua vez, Kompany, um dos vencedores a comentar o diferendo Kepa-Sarri, mostrou-se incrédulo com a situação: “Nunca tinha visto algo assim, quem me dera poder fazer isto sempre que for substituído.” O capitão dos blues de Manchester mostrou-se, de resto, feliz pela não substituição: “Willy Caballero é bom nos penáltis e não queria que ele jogasse. E assim foi.” 

Lei defende Kepa

Além da insatisfação tornada pública por várias figuras ligadas ao desporto, os comentários nas redes sociais não se fizeram esperar. “Lamentável”, “devia ser castigado”, “nunca antes visto” ou “mimado” são algumas das reações ao momento insólito de Kepa, que, vê, ainda assim, a lei proteger a sua opção de se manter dentro do terreno de jogo. Na Lei 3 do International Board (IFAB), órgão que regulamenta as regras do futebol, pode ler-se que “se um jogador que vai ser substituído se recusar a deixar o terreno de jogo, o jogo continua”.

Assim, e apesar de todos as análises feitas ao momento, o árbitro inglês Jonathan Moss nada podia fazer em relação à atitude protagonizada pelo espanhol – nem mesmo admoestar o jogador, já que Kepa não fez mais do que informar que estava em condições de prosseguir em jogo, algo a que tem direito, pelo que o tempo perdido na sequência do episódio já não foi da responsabilidade do guarda-redes. 

O espanhol, que chegou para o lugar de Thibaut Courtois, que rumou ao Real Madrid, tem um contrato com os londrinos válido por sete temporadas.

Em janeiro deste ano, Sarri disse mesmo que Kepa iria ser “um dos melhores guarda-redes da Europa”.
Numa carreira com uma ascensão meteórica, o guarda-redes fez a sua formação no Athletic, onde chegou com apenas nove anos. Depois de alguns empréstimos, estreou-se pela formação basca em 2016.

Na época transata, apesar de o emblema de Bilbau ter terminado em 16.o lugar, sofreu menos golos do que o Villarreal, quinto classificado. Além disso, representou todas as seleções espanholas desde os sub-18 e estreou-se pela principal em novembro de 2017. O seu ponto alto internacional aconteceu no Euro Sub-19 de 2012, quando defendeu dois penáltis nas meias-finais, frente à França.

Chegou mesmo a ser apontado como reforço dos merengues, mas acabaria por fazer história com a sua transferência para Inglaterra. E, fora de campo, com um hobbie incomum: os pássaros. 

Nos tempos livres, o guarda-redes apanhava pintassilgos – que treinava – e chegou até a ganhar competições de pássaros.