A ideologia na saúde

A recente decisão de hospitais privados suspenderem os acordos estabelecidos com a ADSE serviu de mote para a extrema-esquerda, que sustenta o governo socialista, vir a terreiro berrar contra as privatizações e enaltecer as virtudes do serviço público.

Catarina a pequena aproveitou a deixa para, uma vez mais, vomitar ódio contra tudo o que é privado, queixando-se de que os hospitais geridos fora da órbita do Estado só querem fazer dinheiro.

Mas a menina está à espera de quê, de que esses hospitais funcionem como uma extensão das misericórdias?

Não saberá, porventura, que a solidariedade social é uma responsabilidade do Estado e não do cidadão comum?

É óbvio que qualquer empreendedor que se arrisque num negócio tem em mente gerar lucro.

E quanto maior for esse lucro melhores condições de trabalho poderá proporcionar aos seus empregados, mais dinheiro terá para poder pagar salários mais altos e mais trabalhadores poderá contratar, contribuindo, assim, para a redução do desemprego.

O que permite que as famílias disponham de comida na mesa não é a ideologia demagógica e utópica dos mentecaptos que beberam em Marx as suas ideias, mas sim a riqueza produzida por quem faz girar a economia nacional.  

É extraordinário que a falência do sistema soviético não tenha sido suficiente para abrir os olhos a estas cabeças ocas, que continuam a acreditar que a sociedade ideal é aquela que cresce nesses fantásticos paraísos terrestres que são a Coreia do Norte e Cuba.

Mas desta gente, que na rua protesta contra as medidas do governo por eles próprios aprovadas no parlamento, na verdade não se espera outra coisa que não este absurdo discurso, mas da responsável pela pasta da saúde exige-se mais tino e sentido de estado.

Perante o aproximar de uma verdadeira catástrofe para a área da saúde, caso se concretize a ameaça de suspensão das benesses que os principais hospitais privados concedem aos servidores do Estado, que veio a ministra dizer?

Que não há problema, pois os beneficiários da ADSE poderão encontrar no serviço nacional de saúde o mesmo tipo de apoio hospitalar!

Aonde foi Costa desencantar esta criatura?

Ela é apenas inábil politicamente ou sofre de alguma outra patologia que lhe afecte a capacidade de desempenhar com eficiência e sabedoria as funções de enorme responsabilidade que lhe depositaram em mãos?

É suposto que a ministra tenha consciência de que os hospitais públicos estão a rebentar pelas costuras, pelo que, de modo algum, estarão em condições de acolherem, de um sopro, mais umas largas centenas de milhares de utentes!

Se a ideologia que tem estampada na cara lhe impede de compreender o deficiente serviço que o sector público presta, passei-se pelos corredores dos vários hospitais, de cujo funcionamento ela é a primeira responsável, mas procure desviar-se das numerosíssimas macas aí prostradas, não vá estatelar-se em cima de um doente.

E sim, macas, porque não são apenas os quartos que há muito esgotaram a lotação de acolhimento de enfermos, também as camas não chegam para as encomendas, despejando-se aqueles que necessitam de internamento em cima de macas, como se de animais se tratassem!

Pior do que animais, porque a preocupação com o bem-estar destes é hoje bem mais reforçada do que aquela que é direccionada para as pessoas.

Se a ministra, por fatalidade, tiver algum problema grave de saúde, experimente marcar uma consulta e divirta-se, depois, com as constantes peripécias a que será submetida até que consiga estar frente-a-frente com o especialista que a irá observar.

Desde horas de espera em salas atoladas de gente desesperada, até deslocações inúteis ao hospital por via do cancelamento da consulta, em cima da hora e sem aviso prévio, encontrará de tudo.

E poderá constatar que a maioria das consultas que são desmarcadas, e que obrigam pessoas com pouca saúde e quase nenhum dinheiro a deslocaram-se de longe para nada, são consequência das intermináveis greves que afectam o sector.

Sim, porque toda a gente, desde médicos, enfermeiros e simples funcionários, gosta muito de fazer greve. Menos os doentes, coitados, os únicos a quem não é permitido que se ausentem do local onde devem permanecer.

E se, por um capricho do destino, a vida da ministra ficar dependente de uma cirurgia daquelas que têm uma fila de espera maior do que a entrada para o metropolitano em hora de ponta, então aí que Deus a proteja, mesmo que Nele não acredite, porque o mais do que provável é que dela se lembrem quando já estiver a residir num cemitério qualquer.

É isto que o serviço nacional de saúde tem para oferecer a quem desconta 3,5 % do seu ordenado para que possa gozar de uma assistência médica em condições e agora se vê na iminência de perder essa faculdade.

Alguém, no seu perfeito juízo, poderá acreditar que um beneficiário da ADSE se prontifique a manter a mensalidade que religiosamente tem descontado, se se vir desalojado da capacidade de recorrer a um hospital privado?

A ele restar-lhe-ão somente duas alternativas: ou troca a ADSE por um seguro de saúde, sabendo-se que o montante a pagar todos os meses não será substancialmente diferente do actual, ou então desiste, pura e simplesmente, de descontar essa importância e vai a um hospital público ou a um centro de saúde.

Qualquer destes casos representa a morte de um organismo que vem dos tempos do Estado Novo, criado por Salazar, para compensar, através do apoio médico, os baixos salários do funcionalismo público.

Provavelmente, sob a influência dos marxistas amigos do seu chefe, é exactamente isto que a ministra quer.

Na sua atabalhoada cabeça germina a ideia de que apenas são de louvar e de preservar as conquistas de Abril. Tudo o resto á para abater.

E os doentes que se lixem!

 

Pedro Ochôa