Família despejada de casa na Maia sobrevive há duas semanas ao relento à porta do prédio

Família está à espera de uma casa camarária, mas câmara diz haver casos mais graves e prioritários

Uma família despejada na cidade da Maia sobrevive há duas semanas ao relento, à porta do prédio, aguardando a possibilidade de uma casa camarária, mas a autarquia maiata diz haver outros casos de pessoas a precisar de habitação com rendimentos muito mais baixos e há mais tempo em lista de espera, tratando-se de uma situação para a Segurança Social.

Depois das imagens de choque de um casal com um filho adulto e uma idosa a viverem na escadaria do edifício habitacional onde residiam há 19 anos, da Rua Vitorino Nemésio, da freguesia de Vermoim, no centro da cidade da Maia, a Câmara Municipal da Maia, pela voz do responsável pela empresa de habitação social Espaço Municipal, Fialho de Almeida considerou “ser uma situação de emergência social e não de habitação social”, logo cabe então à administração central, pela Segurança Social, resolver aquele problema.

José Alberto Sampaio, de 58 anos, desempregado, contou ao Sol ter ficado nesta situação, “a partir do momento em que eu e a minha mulher fomos fiadores de meu filho, agora de 32 anos, na compra de dois automóveis, mas que não conseguiu pagar, porque, entretanto, ficou desempregado, entrando logo em processo de insolvência e a nossa casa foi leilão”.

A mulher, Maria de Fátima Sampaio, de 57 anos, que padece de problemas psiquiátricos, passa os dias num sofá, no topo da escadaria do edifício cuja casa estaria paga dentro de dois anos, não tivessem sido as penhoras relacionadas com a compra dois dos automóveis, pelo filho, Hugo José Sampaio, então a trabalhar como separador de materiais na sede da Sonae, situada em Espido, localidade do concelho da Maia, mas agora já desempregado.

A par do casal e do filho, a avó materna, Isabel da Silva Almeida, de 79 anos, esteve ainda a dormir ao relento com a filha, o genro e o neto, mas a PSP retirou-se daquela situação, tendo sido encaminhada para um lar de idosos, enquanto os três referidos familiares nos dias seguintes, dormiram nos bancos do Serviço de Urgência do Hospital de São João, só que voltaram a pernoitar no escadório do Edifício Lara II, onde viveram durante 19 anos.

Para a Câmara Municipal da Maia, que fez uma conferência de imprensa expressamente para dar a sua versão, “essa família tem rendimentos próximos de dois mil euros mensais, estando por isso acima dos critérios definidos pela autarquia para atribuição de uma casa camarária”, sendo de cerca de 1.800 euros aquilo que auferem entre a reforma da idosa e a pensão da filha deste, a par do subsídio de desemprego do pai e do filho, como apurou.

De acordo com o responsável pela empresa de habitação social Espaço Municipal, Fialho de Almeida, “não podemos fazer nada por esta família”, porque a Câmara Municipal da Maia “tem pessoas em lista de espera à frente deste caso”, além de que “essa família tem capacidade financeira para resolver este problema no curto prazo”, mesmo que agora sem a reforma da septuagenária e que agora já reside numa instituição de solidariedade social.

“Esta situação é conhecida pelos serviços há mais de um ano, mas não cumpre os critérios do regulamento municipal de habitação social para passar à frente as outras famílias”. Segundo Fialho de Almeida, “foram propostas pelos serviços municipais várias soluções que não obtiveram resposta favorável por parte deste agregado familiar”, tendo já durante a passada quinta-feira os três, casal e filho adulto, feito inscrição no pedido de uma casa de cariz social, mas José Alberto Sampaio diz “não saber quando é que teremos uma casa da Câmara Municipal da Maia”, por isso fez um abaixo-assinado a “pedir urgência” e está a ser já apoiado pelo Bloco de Esquerda nas suas reuniões na Câmara Municipal da Maia.

Mas José Alberto Sampaio disse ao Sol que “não é bem assim como se diz por aí”, quanto aos rendimentos do seu agregado familiar, argumentando que “além de termos ficado sem a reforma da minha sogra, dentro de mais ou menos meio ano eu e o meu filho ficaremos sem o subsídio de desemprego e depois nessa altura voltaríamos a ser despejados, porque só com a pensão da minha mulher não podemos pagar a renda se essa casa não for social”.

Por outro lado, “as rendas no mercado comercial são muito altas e os senhorios agora têm pedido não dois, mas três meses adiantadas para fazer um contrato de arrendamento, além de não termos fiador, ninguém aceita ser nosso fiador”, argumenta José Alberto Sampaio.

“A agravar a situação, o meu filho vai ter de ser operado brevemente e precisa de um sítio para convalescer, não pode ser aqui na rua ao frio e à chuva, a Câmara Municipal da Maia vai ter mesmo que nós ajudar, a atribuir-nos uma casa, que nós pagamos a renda social”, diz ainda o pai de família, explicando “existirem casas camarárias disponíveis e só num dos edifícios, a Torre 1, do Bairro da Sobreira, aqui em Vermoim, há duas casas vazias”.