BES. “Espantou-me que a consciência tenha aparecido”, diz lesado

Lesados do BES disseram apontaram o dedo às declarações de Ricardo Salgado em que se mostrou preocupado com quem perdeu dinheiro 

“Acho que o Ricardo Salgado precisa de fazer uma análise de consciência muito séria”, disse João Salva, um dos lesados do BES, em declarações ao i, depois de Ricardo Salgado ter afirmado que não dorme “totalmente descansado” com o problema causado a dezenas de pessoas. 

“Se ele não dorme descansado, imagine os lesados”, disse outro dos portugueses que perdeu as suas poupanças em investimentos nas empresas do Grupo Espírito Santo ao i. “Ele que faça aparecer o dinheiro num golpe de mágica, nem que seja com património pessoal”, apelou.

Em entrevista à “TSF”, o ex-presidente do Banco Espírito Santo admitiu falhas, mas não na área financeira. “Houve certamente, na área não financeira, na contabilidade da ES International onde se veio a verificar um passivo oculto”, explicou.

O ex-presidente disse ainda que tem falado com os lesados, algo que não parece ser uma opção para João Salva. “Eu recuso-me a falar com ele”, afirmou. Um sentimento partilhado pelo lesado ouvido pelo i que preferiu anonimato:” Ele nunca nos contactou de forma positiva”. 

Salgado confessou também estar a tentar evitar ficar na história como o homem que afundou o BES e reitera a culpa do que aconteceu às pessoas que perderam as suas poupanças, voltando a apontar o dedo ao Banco de Portugal (BdP). “É típico do médico que mata um cliente porque lhe aplicou um remédio que não é apropriado. Um remédio ao lado daquilo que deveria ter sido”, disse em relação à resolução imposta pelo regulador.

Para Salgado, o destino do banco terá sido selado pela recusa da garantia angolana e pelo BdP,  que ditou o isolamento do banco em relação ao resto do grupo. Uma ideia apontada também por João Salva: “O Banco de Portugal também teve culpa”. No entanto, este afirma que Ricardo Salgado “deve achar que está a falar com gente que não percebe nada disto”. 

“Espantou-me que a consciência tenha aparecido”, comenta,  uma vez que esta foi a primeira vez que Ricardo Salgado admitiu não se sentir bem com os problemas que, como explicou, causou não só aos lesados do BES, mas a todos os portugueses. “Era uma enorme manifestação de desespero dizer que a consciência não lhe pesava em nada”, concluiu. 

Para um dos lesados que preferiu anonimato, as declarações de Ricardo Salgado não passam de “hipocrisia”. “Tendo a possibilidade de não fazer o que fez na altura, é uma hipocrisia o que  vem dizer agora”. 

 

Lesados querem justiça

“Nós estamos atentos”, disse João Salva, que afirmou saber que a fase de inquérito do Ministério Público está a chegar ao fim. “Gostávamos de ver alguma condenação”, confessou, uma vez que este é um dos casos que “envolve mais gente poderosa”. 

Um caso que está a investigar encontros de Salgado com personalidades como Sócrates, António Mexia, presidente da EDP, e Teixeira dos Santos, antigo ministro das Finanças.

“É uma vergonha se não conseguirmos por ninguém atrás das grandes”, afirma.

Justiça é algo também pedido também por Ricardo Salgado, mas no que diz respeito à investigação no universo BES, que faz cinco anos no mês de agosto. “Quero acreditar que há Justiça em Portugal. Que continua a haver justiça em Portugal”, disse, lamentando o desaparecimento do “maior banco comercial português, do mais internacional dos bancos portugueses”.