A ascensão dos jotas

Costa perdeu, definitivamente, a vergonha, se é que ainda algum pingo desse estado de alma lhe restava

A recente remodelação governamental veio provar, se dúvidas ainda existissem, que ele se está, pura e simplesmente, nas tintas para os superiores interesses do País, sendo que a sua exclusiva preocupação é o partido que dirige e com o qual se pretende perpetuar no poder.

Costa tem, neste momento, um único objectivo: vencer as próximas eleições legislativas, mesmo que para atingir esse patamar tenha que sacrificar o bem-estar dos portugueses.

Se no início da legislatura ainda houve algum pudor com a escolha dos ministros, tendo-se procurado algumas figuras com trabalho feito no seio da sociedade, nas sucessivas mexidas na composição do governo foram-se afastando quem não fez carreira no partido e foram sendo promovidos ao nível mais alto da governação seres menores, nascidos e criados dentro da nomenclatura partidária.

As reuniões do actual conselho de ministros mais parecem um convívio familiar, onde pais, filhos, maridos e mulheres convivem entre si, caminhando-se para uma casta em que os laços de sangue se sobrepõem aos critérios da competência, da credibilidade e da experiência que deveriam ser exigidos para o desempenho de cargos da suprema importância, como são aqueles que agora parecem ser distribuídos sem qualquer rigor, a não ser o ser-se ascendente ou descendente deste ou daquele.

Mas este nem sequer é o principal desnorte que pode ser atribuído a Costa. Pior do que se chegar ao governo por se ser familiar de alguém, é ascender-se àquela categoria apenas como prémio pela progressão e entrega ao serviço dos interesses do partido.

Garotos que nunca fizeram nada na vida a não ser entreterem-se nas intrigas e joguinhos de poder que se ensinam nas escolas partidárias, são agora ministros e secretários de estado!

Costa sabe que para ganhar as eleições tem que apostar ainda mais na mentira e na demagogia, características que têm sido a sua imagem de marca na acção governativa, razão pela qual precisa de ter à frente dos ministérios verdadeiros profissionais da manipulação e não simples gestores conhecedores dos dossiês que têm em mãos.

A partidocracia gerada em Abril atinge, assim, o máximo do seu expoente; o governo deixa de ser da Nação para se transformar num mero instrumento partidário.

É o governo do partido, constituído por fantoches que se limitam a abanar a cabeça, em sinal afirmativo, a tudo quanto o chefe lhes diz e que desconhecem por completo todo um mundo que existe para além da máquina partidária.

 O “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”, lema celebrizado pelo antigo regime, derrubado com o suposto propósito de dar origem a uma genuína democracia, conhece agora uma nova versão, adaptada à realidade dos tempos modernos, que é “Tudo pelo partido, nada contra o partido”!

Estes falsos democratas que alegam governar em nome do povo, mas que, na verdade, mais não estão do que reféns dos obscuros interesses a que se venderam para materializarem o sonho que  os move desde que entraram, pela primeira vez, numa sede do partido, ou seja, a conquista do poder, perderam toda a autoridade moral para apontaram o dedo a quem os precedeu ao leme do Estado.

Por muito que critiquem o Estado Novo há uma verdade que é inquestionável: o próprio Salazar, quando se via na contingência de preencher uma pasta ministeriável, escolhia quem tinha um percurso profissional de reconhecidos méritos, preocupando-se sobretudo com a aptidão deste para o exercício da missão que lhe era confiada.

O interesse nacional sobrepunha-se a qualquer outro.

A grande maioria dos seus ministros não eram, à data da nomeação, nem o foram posteriormente, filiados na União Nacional, e, pasme-se, grande parte deles estavam nos antípodas do que se poderia considerar como se sendo salazarista.

A partidocracia procurou legitimar-se através da renegação de toda a herança do regime que logrou substituir, ao invés de separar as políticas justas, que as havia, das que condicionavam o desenvolvimento social e cultural da sociedade, procurando preservar as primeiras e corrigir as restantes.

O fervor revolucionário tudo destruiu, o bom e o mau, permitindo-se a construção de um sistema político cujos alicerces não assentam na vontade popular, como é apanágio de uma democracia autêntica, mas sim na exclusiva vontade das elites partidárias.

Os partidos, progressivamente, inverteram a escala de valores, passando a ocupar o topo do pirâmide até então preenchido pela Nação.

Não admira, pois, que o desfasamento entre a classe política e os governados se acentue cada vez mais e o saudosismo pelo passado se vá enraizando junto dos portugueses.

      

Pedro Ochôa