Megaprojeto imobiliário no Barreiro com investimento privado de 60 milhões de euros

O concurso terá um valor base de cinco milhões de euros e vai implicar um investimento privado na ordem dos 60 milhões de euros. O SOL já falou com um dos empresários interessados em entrar na corrida.

A Câmara Municipal do Barreiro prevê lançar até ao início do verão o concurso público para a Quinta Braamcamp. A garantia é dada ao SOL por Rui Braga, vereador da Gestão e Reabilitação Urbana da autarquia, que acredita que deverão aparecer entre quatro a cinco interessados. «Temos tido vários contactos de grupos investidores e já nos reunidos com cerca de 20. Tem havido um assédio positivo, o que é fácil de explicar tendo em conta a vista privilegiada para Lisboa», garante. Um dos interessados é um emigrante português em França que já tem o dossiê preparado para entrar na corrida. 

Ao SOL, o empresário Carlos Matos mostra a sua disponibilidade em avançar com o projeto, apesar de reconhecer que «não será fácil de fazer porque nunca é possível agradar a todos». E admite que uma das suas preocupações será a parte ambiental. 

Já em relação à área da construção de habitação, o empresário da construção civil – que está em França desde 1969 – promete adaptar a construção em função do estilo que se adapte bem em toda a zona envolvente. Quanto a preços, deixa uma garantia: «Queremos apresentar um produto de qualidade a preços baixos para que sejam acessíveis aos bolsos dos portugueses», e acredita que os preços por metro quadrado deverão rondar entre os 2.500 e os três mil euros. 

O concurso terá um valor base de cinco milhões de euros, mas vai implicar um investimento privado na ordem dos 60 milhões de euros. Está prevista a criação de mais de seis dezenas de empregos. Mas, ao SOL, o vereador da Gestão e Reabilitação Urbana da autarquia garante que, na avaliação da proposta, terá maior peso a valorização do espaço (65%), em detrimento dos valores financeiros (45%). 

«Acreditamos que é um projeto que vai mudar a cidade e será um catalisador para outras áreas, pois vai dinamizar a atividade económica, vai criar habitação e irá apostar fortemente em áreas de lazer», afirma o responsável da autarquia.

Trata-se de um terreno na frente ribeirinha na margem sul do Tejo, virada para Lisboa, com 21 hectares que estão atualmente em estado de abandono. A quinta pertencia à antiga Sociedade Nacional de Cortiças e foi adquirida em 2016 pela Câmara Municipal do Barreiro ao BCP – que ficou com aquele espaço após processo de insolvência da Sociedade Nacional de Cortiça –, sob a vereação PCP, por cerca de três milhões de euros. Ja na altura, a autarquia chegou a admitir a possibilidade de construir naquele território, uma vez que, desde 1994, o plano diretor municipal (PDM) prevê a edificação naquele espaço. No entanto, só agora, sob a alçada socialista, irá a concurso. 

No entanto, o processo de venda será condicionado com o reforço de imposições por parte de quem ganhar a corrida e incide essencialmente no espaço público. «Destes 21 hectares só 5% será ocupado por habitação. Apenas será permitida a construção de 25 mil metros quadrados e não poderão criar nenhuma parede na frente rio. O restante espaço irá contemplar uma área verde circundante, de lazer, ambiente, etc.», revela ao SOL, o vereador. Feitas as contas, representa a criação de 185 novos fogos, o que dará lugar a 555 habitantes.

Mas as exigências não ficam por aqui. Rui Braga diz ainda que a proposta terá de contemplar a reconstrução das casas senhoriais que estão neste momento em ruínas e devem ser transformadas em unidades hoteleiras. Um critério que, segundo o responsável, «vai suprir uma necessidade gritante do município porque o concelho não tem qualquer oferta hoteleira». 

Além disso, o investidor que ganhar o concurso terá de qualificar o espaço público, assim como dotar a área de equipamentos desportivos. Um desses exemplos, é a construção de um campo de futebol. Ao mesmo tempo, terá de levar a cabo a recuperação patrimonial da caldeira e permitir a sua utilização por clubes e escolas de remo. 

Outra aposta passa pela restauração do moinho, que poderá ser usado como espaço de lazer. O vereador lembra que essa zona poderá «facilmente ser convertida num espaço de restauração». 

Também a cargo do investidor estará a implementação da infraestruturação do território – saneamento, energia e telecomunicações – e a dinamização económica e criação de emprego.
Mas, apesar destes critérios, Rui Braga mostra-se otimista em relação à adesão do concurso: «Todos os que visitam aquele espaço facilmente se apaixonam». 
 
Decisão sem consenso

Apesar do entusiasmo da autarquia em torno deste projeto, um grupo de cidadãos já veio criar o movimento ‘A Quinta do Braamcamp é de todos!’ e tem como objetivo bloquear a intenção do município em vender os terrenos para investimento privado imobiliário e hoteleiro.

No seu manifesto, este movimento apela à reflexão da população barreirense, no sentido de tomar uma posição sobre esta «controversa e importante questão para o futuro da cidade».

Segundo os mesmos, a Quinta do Braamcamp serviria melhor a população se fosse apenas requalificada para usufruto público. «Por razões de ordem histórica, patrimonial, ambiental e ecológica, os barreirenses que integram este movimento declaram a sua discordância com tal alienação, afirmando que a propriedade municipal se deverá manter no domínio público», referem. 

E as críticas não ficam por aqui. Também o PCP veio acusar a gestão socialista de se colocar «ao serviço de interesses privados duvidosos, à revelia dos interesses barreirenses» com vista a «aprofundar um processo de deriva de especulação imobiliária e de negócios pouco claros».

Mas a resposta não se fez esperar do lado do PS, lembrando que a CDU no poder também pretendia construir no mesmo local. «O reduto ideológico comunista contra a iniciativa privada foi sempre um adversário do desenvolvimento do Barreiro», alegou o PS, acrescentando: «Por maior que seja a incoerência das posições tomadas no poder e agora investidas na oposição, todos deveríamos estar unidos em assegurar o investimento na nossa terra».