‘António Costa está refém dos votos’

O presidente do Fórum para a Competitividade, em entrevista ao i, criticou a aplicação das 35 horas semanais, a falta de investimento e de crescimento económico. 

O Governo usou toda a folga orçamental que tinha para seduzir os funcionários públicos. A acusação é de Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade numa longa entrevista ao i, deste fim de semana. Mas admite que nem assim agradou os trabalhadores do Estado. E deu uma justificação: «Acho que se criaram expectativas exageradas, mas já toda a gente se apercebeu que o primeiro-ministro está muito refém dessa necessidade absoluta de comprar votos a qualquer preço. E as pessoas aproveitam-se disso». 

O ex-dirigente da CIP aponta ainda o dedo às regalias que são dadas à Função. Uma das suas principais críticas diz respeito à redução das 35 horas semanais que, o Fórum para a Competitividade, já classificou como sendo «um luxo». Uma redução que, no seu entender, não é compreensível já que não foram alvo de uma redução salarial e que afetou sobretudo o setor da Saúde. «As pessoas mantiveram o seu ordenado e viram reduzida a sua carga horária de 40 para 35 horas semanais, ou seja, passaram a receber mais 14% por hora. Como é que há dinheiro que chegue para isso?», questiona. 

Na entrevista ao i enumera as vantagens dos funcionários públicos face aos privados. «Têm direito a ter reforma mais cedo, trabalham menos anos, menos horas, têm mais feriados e contam com sistemas de avaliação mais ligeiros» e até o salário mínimo nacional é mais elevado. Mais uma vez justifica essas medidas por questões eleitorais.

Crescer acima de 4%

Pedro Ferraz da Costa lamentou também o fraco crescimento da economia portuguesa e garantiu que se houvesse vontade poderia ser possível crescer acima de 4% se fosse essa a sua prioridade. «Se durante o período de ajustamento da troika conseguimos ganhar quota de mercado e foi um período de ajustamento extremamente difícil porque a economia europeia não estava a crescer então isso mostra que é possível». E garante que a economia não cresce «porque não se faz nada», garantindo que não se recorda «na atual legislatura, de uma estratégia para exponenciar a economia portuguesa».

E face a este fraco crescimento, o presidente do Fórum para a Competitividade garante que não é possível criar postos de trabalho de chefia, levando os trabalhadores mais jovens a emigrar. «Os jovens entram e têm dois ou três andares de chefes à frente deles que não vão morrer tão cedo, ainda por cima, morremos todos cada vez mais tarde. As pessoas pensam ‘o que é que estou aqui a fazer?’ E vão-se embora».

Ao mesmo tempo, o país não consegue atrair emigrantes porque Portugal não oferece condições atrativas. «É muito difícil com as condições atuais que oferecemos atrair muita gente», o que leva muitas empresas a ter dificuldade em encontrar mão-de-obra disponível. A esta dificuldade há que contar ainda com muitos que não trabalham por vários outros esquemas. E dá exemplos: «Rendimentos sociais de inserção, subsídios de desemprego, programas de formação, etc. Temos uma das taxas mais elevadas de jovens que não estudam nem trabalham». 

Perante estas dificuldades, o economista não tem dúvidas em relação aos salários praticados, admitindo que para muitas pessoas «até são mais altos do que deviam», considerando que «não deviam ser tão altos para os que apresentam maior absentismo ou para os que não se importam com o que se passa ou para os que ficam em casa. Está tudo muito mal repartido», confessou.