Na semana passada, enquanto Donald Trump e Kim Jong-Un se encontravam na Coreia do Norte numa segunda cimeira histórica, em Washington apresentava-se perante o Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes dos EUA um indivíduo que prometia abalar a Casa Branca com declarações bombásticas sobre o Presidente.
O texto foi distribuído à imprensa com 24 horas de antecedência, o que lhe roubou parte do impacto.
E a esquerda – incluindo a portuguesa – agitou-se em peso, achando que desta é que Trump não se livraria.
Desde que foi eleito, Donald Trump tem sido alvo de uma campanha hostil nos EUA e na Europa como nunca se vira antes.
Na América, uma vez realizadas as eleições presidenciais, a tradição era cessarem as hostilidades e deixar o Presidente trabalhar, com os americanos a reconhecerem-no como seu legítimo representante.
Mesmo com Obama foi assim.
Mas com Trump é diferente.
O que temos visto desde a sua eleição são tentativas sucessivas para o derrubar.
Não se passa um dia sem que os jornais ou as televisões divulguem mais uma notícia ‘comprometedora’ para o Presidente dos EUA.
Às vezes trata-se apenas de baralhar e voltar a dar – mas lá vem a noticiazinha venenosa.
Por princípio não gosto de campanhas – e esta não foge à regra.
As campanhas mediáticas são ações orientadas no sentido de condicionar a opinião dos leitores ou dos telespetadores, estando subjacente uma tentativa de manipulação política.
Ora, todas as notícias sobre Trump têm essa marca.
E o depoimento do homem que prometia declarações bombásticas sobre o Presidente encaixava como uma luva naqueles objetivos, pelo que teve uma gigantesca cobertura.
Mas afinal quem era o homem e o que disse?
Era um advogado que trabalhou para Trump entre 2007 e 2017 e afirmou que tinha andado a mentir às ordens dele durante 10 anos.
As mentiras envolveriam algumas questões comezinhas, como falsas ‘explicações’ à atual primeira-dama sobre assuntos de saias envolvendo o marido, e outras com mais conteúdo político.
Mas por que motivo aceitou o homem mentir tanto durante tanto tempo?
Trump apontava-lhe uma arma?
Ameaçava-o com prisão?
Nada disso!
O homem mentia, simplesmente, porque Trump lhe pagava um ordenado.
Ou seja, o homem mentia por dinheiro – para receber o seu ordenadozinho ao fim do mês.
E aceitou andar nesta situação durante não um, nem dois, nem cinco – mas durante dez anos!
Ora, uma pessoa que fez isto deveria ter vergonha de o confessar perante o país inteiro.
Mas não.
Vendo-se condenado por ter mentido ao Congresso e por fuga ao fisco, o homem deu uma cambalhota de 180 graus e assestou baterias contra o antigo patrão.
Para quê?
Para tentar obter o estatuto de arrependido que lhe permitirá beneficiar de uma redução da pena.
Um homem destes merecerá algum respeito?
Não merece.
Mas a esquerda embandeirou em arco – mostrando que o que lhe interessa são os resultados e não os princípios…
Sucede que as denúncias do homem revelaram-se um tremendo flop.
Para lá dos ataques pessoais a Trump – a quem chamou «racista, vigarista e trapaceiro» -, o delator não levou nada nas mãos que provasse algumas acusações concretas, desde o pagamento a prostitutas até à famigerada interferência da Rússia nas eleições americanas.
Devo esclarecer que Trump não me é uma personagem simpática.
Deve ser insuportável trabalhar com ele.
E trouxe uma instabilidade à Casa Branca e à própria política mundial que pode conter muitos riscos.
Mas tem uma coisa a seu favor: a coragem de enfrentar o politicamente correto que tende a tornar-se uma ideologia totalitária.
Que começa a ser asfixiante, tirando-nos o ar.
Poucos têm enfrentado os novos dogmas, temendo vir a ser vítimas dos seus sacerdotes.
Uns por convicção, outros por medo, todos se calam.
Mas Trump desafia-os de peito aberto.
E para isso é preciso ter balls, como dizem os americanos.
Mas se não simpatizo com Trump, ainda menos simpatizo com delatores, chamem-se eles Michael Cohen, Julian Assange ou Rui Pinto.
A massa de que os delatores são feitos é ruim, são pessoas sem princípios, desleais, cães que não conhecem o dono.
Um homem que é advogado de outro durante 10 anos e depois vem supostamente revelar os seus segredos não me merece respeito nenhum.
Aliás, um dos grandes defeitos de Donald Trump talvez seja mesmo esse: contratar e dar-se com homens da estirpe de Michael Cohen.
Cohen não comprometeu Trump pelo que disse – Cohen comprometeu-o porque, olhando para ele, torna-se inevitável perguntar: como foi possível alguém trabalhar com este indivíduo durante 10 anos?
P.S. – O juiz Neto de Moura terá escrito acórdãos injustos e até insultuosos para vítimas de violência doméstica. Mas a campanha de que está a ser vítima é simplesmente miserável.
Algumas mulheres sentir-se-ão injustiçadas, e até indignadas, por afirmações do juiz Neto de Moura. Mas ai de nós se fôssemos julgados por muitos daqueles que o julgam na praça pública. Aí é que veríamos, em todo o seu esplendor, a arbitrariedade da justiça.
Muito piores do que o juiz Neto de Moura são, com certeza, muitos dos que participaram na tentativa do seu linchamento mediático.