Desastre na Etiópia põe em causa Boeing 737 MAX 8

Vários países proibiram os novos modelos da Boeing de levantar voo, por receio de uma falha, após dois desastres que mataram 346 pessoas

Operadoras aéreas de todo o mundo deram ordens para que os seus aviões Boeing 737 MAX 8 ficassem confinados a terra, devido a preocupações com a segurança, após um destes aparelhos ter caído na Etiópia, este domingo, causando a morte das 157 pessoas a bordo. A aeronave da Ethiopian Airlines tinha acabado de levantar voo da capital, Adis Abeba, quando o piloto notificou os controladores aéreos de que estava com problemas técnicos, tendo pedido autorização para regressar. O avião despenhou-se pouco depois.

É a segunda vez em menos de seis meses que um destes novos modelos cai poucos minutos após o início do voo. Ainda em outubro, um Boeing 737 MAX 8 que levava 189 pessoas a bordo caiu no mar de Java, perto de Jacarta, na Indonésia, sem deixar sobreviventes. 

“Dado que em ambos os desastres aéreos as aeronaves eram dos recém-entregues Boeing 737 MAX 8, e que ambos os acidentes ocorreram durante a descolagem, há certas semelhanças”, explica a Administração da Aviação Civil chinesa. A China tem a maior frota destes aviões do mundo, com 97 Boeing 737 MAX 8, tendo sido um dos países que mantiveram estes aviões em terra, até que a Boeing e as autoridades americanas consigam garantir a sua segurança.

Para além das operadoras chinesas, estes modelos ficarão em terra nas ilhas Caimão, Indonésia e na Etiópia. A Ethiopian Airlines, a maior operadora aérea de África, já anunciou que não irá utilizar os seus quatro aparelhos deste modelo, tendo mais 25 encomendados.

O diretor executivo da Ethiopian Airlines, Tewolde GebreMariam, confirmou que não existe nenhuma explicação óbvia para o incidente além de uma falha estrutural. Garantiu que se tratava “de uma aeronave acabada de adquirir, sem nenhuma anotação de problemas técnicos, tripulada por um piloto experiente”, acrescentando: “Não há nenhuma causa que possamos atribuir por agora.” 

Mary Schiavo, antiga inspetora-geral do Departamento de Transportes dos EUA, qualificou os dois incidentes de “altamente suspeitos”, em declarações à CNN. Schiavo notou: “Temos um modelo de aeronave acabado de estrear que caiu duas vezes num ano. Faz soar os alarmes na indústria da aviação, porque isso não acontece por acaso.”

A preocupação com possíveis falhas estruturais nos Boeing 737 MAX 8 parece ser partilhada por boa parte dos investidores. As ações da empresa caíram a pique logo na segunda-feira de manhã, numa quebra de 12% do seu valor de mercado, ou seja, cerca de 28 mil milhões de dólares (24,9 mil milhões de euros). Caso mais países proíbam o modelo em questão de levantar voo, ou suspendam as suas encomendas, a situação ainda poderá piorar para a multinacional norte-americana, que tem cerca de cinco mil encomendas pendentes deste modelo. Aliás, a empresa tinha tido grandes ganhos na bolsa este ano, com as suas ações a subir 14,9% até à quebra de ontem.

A Boeing já respondeu em comunicado, indicando que a investigação ao desastre na Etiópia ainda está na fase inicial e, como tal, não dará novas linhas orientadoras às operadoras aéreas que utilizem o Boeing 737 MAX 8. A empresa afirmou estar “a trabalhar de forma próxima com a equipa de investigação e com as entidades reguladoras”, garantindo estar a “tomar todas as medidas para perceber por completo todos os aspetos deste acidente”. E reforçou: “A segurança é a nossa prioridade número um.”

Apesar das garantias da Boeing, a “determinação final” das causas do acidente poderá demorar anos, afirma o especialista em aviação Richard Quest, em declarações à CNN – deixando assim a incógnita de o que fazer aos mais de 300 Boeing 737 operacionais em todo o mundo até que sejam apuradas as causas dos acidentes.