A euforia está a acabar

De facto, temem-se os efeitos do Brexit na Europa

Marcelo convocou um Conselho de Estado com mais um convidado ilustre: Christine Lagarde! Do que foi dito lá dentro não sabemos, mas em declarações à comunicação social ficámos a saber que, entre elogios de circunstância como manda a boa educação, a líder do FMI está preocupada com o nível da dívida pública portuguesa. 

Christine (desculpe a intimidade, mas a sua bonomia assim mo permite) tem toda a razão. Do ponto de vista relativo – face ao PIB, que tem crescido nos últimos anos -, a dívida pública tem diminuído, situando-se nos 121,2%, valor bem mais simpático do que há uns anos; mas é o dobro do recomendável para uma gestão prudente. Em valor, a dívida pública (líquida) continuava em 31 dezembro passado nos 227,4 mil milhões de euros, o que não dá qualquer tranquilidade a Centeno.

Dito por Christine, este alerta tem muito mais impacto do que dito por um qualquer mortal como eu. Se a isto somarmos as recentes previsões da OCDE, que apontam para um crescimento anémico da Zona Euro de 1% em 2019, as campainhas devem estar a tocar no gabinete de Centeno, seja qual for o chapéu do momento – ministro das Finanças ou presidente do Eurogrupo.

De facto, temem-se os efeitos do Brexit na Europa. As fracas previsões de crescimento para a Alemanha (0,7%), país que costuma ‘empurrar’ a economia europeia, também não animam nada os nossos empresários. Por sua vez, o Reúno Unido tem uma previsão de 0,8%. Ou seja, dois países relevantes para as nossas exportações não vão puxar por nós. Christine sabe bem do que fala, como bem sabia Centeno, que recentemente mostrou preocupações. E até Costa tem perfeita consciência de que o cinto tem de apertar.

Depois de uns anos de euforia, com reposições salariais a largas massas populares – como funcionários públicos e reformados -, após a política de contenção que a troika impôs a Passos Coelho, estamos a cair na realidade. 

Os anos de crescimento da economia portuguesa, com exportações que já representam 44% do PIB – graças ao empreendedorismo privado, a que se juntou uma excelente conjuntura internacional -, estão a acabar, corroborando o ditado segundo o qual ‘não há mal que sempre dure nem bem que não se acabe’. 

A despesa estrutural cresceu e veio para ficar, como todos sabiam, e as folgas orçamentais ‘já eram’.

Vamos lá então para eleições este ano. Vemos reivindicações em crescendo de classes que se sentem com direitos e prometem uns meses agitados. Surgem novos partidos, como a Aliança, que pretende afirmar-se entre o CDS e o PSD com argumentos de fácil assimilação, ou o Chega, com base em populismos primários. 

Olhamos para velhos partidos como o PS e o CDS, que se rendem à magia da televisão e enveredam pela ida dos seus líderes a programas de grande audiência para gerarem simpatia e ousarem crescer a sua base eleitoral. Pelo meio, Jerónimo anuncia a sua reforma política, aguardando-se com expectativa o novo líder – um ‘novo’, como João Ferreira, para combater o Bloco que lhe morde o eleitorado, ou um ‘antigo’, como Arménio Carlos, para reforçar a ligação sindical e as lutas reivindicativas? Uma coisa parece certa: os 7 meses até às eleições prometem surpresas. E Rio que se acautele, porque ou surpreende até às europeias ou é surpreendido, como foi o Porto pelo Benfica.

P.S. – Acho curioso que, depois de vermos Marcelo promover Cristina e o seu programa, todos vimos Assunção Cristas e António Costa aceitarem papel idêntico, super convencidos de que participar (e cozinhar!) neste tipo de programas traz votos. Pobre do Goucha, que já foi líder e hoje enfrenta um cocktail imbatível que mistura políticos com amigos e audiências.