Edifícios abalam Novo Banco

A compra do edifício da Impresa por 24,2 milhões de euros está a causar algum mal-estar, numa altura em que o banco precisa de nova injeção de capital de 1.149 milhões de euros.

O Novo Banco voltou a estar no centro das polémicas. O SOL sabe que a compra e venda de imóveis está a causar alguma tensão no mercado, principalmente numa altura em que a instituição financeira liderada por António Ramalho precisa de uma nova injeção de capital através do Fundo de Resolução, no valor de 1.149 milhões de euros, depois de ter apresentado prejuízos de 1.140 milhões de euros no ano passado.

Um dos calcanhares de Aquiles do Novo Banco é a compra do edifício da Impresa por 24,2 milhões de euros, em junho do ano passado. Esta foi a solução encontrada pelo grupo de comunicação para obter financiamento, depois de ter desistido de uma emissão obrigacionista – uma operação onde pretendia garantir até 35 milhões de euros, mas que foi retirada do mercado por falta de interesse por parte dos investidores, apesar de Francisco Pedro Balsemão ter justificado a retirada com a movimentação da Altice e da Media Capital.

Nessa altura, a venda do edifício ao Novo Banco foi vista como uma tábua de salvação, uma vez que essa operação serviu não só para pagar o empréstimo obrigacionista como também para financiar a obra de expansão do edifício Impresa, que entretanto foi inaugurada, em Paço de Arcos.

Curiosamente, esta polémica surge na mesma semana em que Helena Roseta acusou a instituição financeira de estar a vender imóveis ao ‘desbarato’. «Na limpeza do balanço que o Novo Banco tem vindo a fazer, estão a ser vendidos ‘ativos imobiliários não estratégicos’, ao desbarato e com grandes perdas, ao primeiro que se apresente», nomeadamente a «um ‘hedge fund’ [fundo de investimento], outro eufemismo para fundo abutre».

A deputada independente, eleita pelo PS, deu o exemplo do projeto Viriato da instituição financeira – uma carteira de imóveis com um valor contabilístico de 717 milhões de euros, composta por 8.726 propriedades com usos residencial, industrial, comercial e terrenos. «Foi vendida à Anchorage Capital Group, que pagou apenas 389 milhões de euros. Uma pechincha», referiu.

Segundo Roseta, com este projeto Viriato, o banco «vendeu quase nove mil imóveis», enquanto os imóveis que o Estado «tem para habitação social são 11 mil», acrescentou uma das responsáveis pelas propostas do PS para a lei de bases da habitação.

Uma acusação que entretanto foi afastada pela instituição financeira, que garante «que não vende, nem pretende vir a vender, quaisquer imóveis a preços desajustados de valores de mercado», segundo adiantou fonte oficial do banco à Lusa.

A mesma explicou ainda que «realizou no ano de 2018 uma operação de venda de pequenos imóveis em bloco (residencial, comercial e terrenos rústicos) – globalmente designada por ‘Projeto Viriato’ — a qual foi devida e transparentemente divulgada, mas que tem despertado renovado interesse», lembrando que que 80% deste portfolio «faz parte da sua atividade corrente, não gozando, portanto, de qualquer proteção contingente, e a sua venda seguiu as melhores práticas internacionais».

O Novo Banco disse também que esta venda foi feita através de um concurso internacional, que recebeu sete propostas, e que a instituição negociou «em concurso final com duas delas, tendo comunicado ao mercado a proposta vencedora a 10 de outubro do ano passado».

Segundo a instituição financeira, a venda foi uma das 11 operações comparáveis propostas ao mercado nos últimos dois anos no mercado ibérico e uma das três realizadas em Portugal, garantindo que essa alienação foi «considerada, em termos de preço, a segunda mais cara operação do ano na Península Ibérica e a que atingiu melhor valor em Portugal».

 

Marcelo contradiz Governo

Também esta quinta-feira, o Presidente da República veio defender a realização de uma auditoria às contas da instituição financeira que abranja o período após a resolução do Banco Espírito Santo (BES), porque «há dinheiro dos contribuintes direta e indiretamente envolvido», contrariando assim a ideia que tem vindo a ser defendida pelo Governo.

«A minha opinião mantém-se. Isto é, há dinheiro dos contribuintes direta e indiretamente envolvido – diretamente envolvido através da Caixa Geral de Depósitos (CGD), indiretamente envolvido através de financiamentos que vão aumentar a dívida pública do Estado –, importa apurar o que se passou», afirmou Marcelo.

Esta declaração surgiu depois de Mário Centeno ter garantido que «nem um euro» dos contribuintes será gasto no banco, remetendo a fatura para o Fundo de Resolução, que irá «pagar este empréstimo ao Estado, em 30 anos, com as contribuições do setor bancário» e que detém 25% do banco.

Já a ideia de avançar com uma comissão de inquérito ao Novo Banco foi de imediata afastada pelo presidente da Assembleia da República, ao avisar que não aceitará mais comissões de inquérito no Parlamento enquanto não acabarem os trabalhos de uma das três que estão em funcionamento: rendas excessivas, Tancos e Caixa Geral de Depósitos (CGD). O presidente do Parlamento referiu que só podem funcionar duas comissões de inquérito em simultâneo e que a terceira, sobre a CGD, só foi criada por haver consenso.