Listas: da habilidade de Costa à inabilidade de Rio

Há muitos  anos, um ex-líder político dizia em círculo de amigos onde eu me inseria quão difícil era formar listas para eleições, fossem nacionais ou europeias. Recordava os tempos em que liderava o seu partido e as ‘cunhas’ vinham de todos os lados, sendo sistematicamente bombardeado com prioridades que não passavam de vaidades ou meros…

Há muitos  anos, um ex-líder político dizia em círculo de amigos onde eu me inseria quão difícil era formar listas para eleições, fossem nacionais ou europeias. Recordava os tempos em que liderava o seu partido e as ‘cunhas’ vinham de todos os lados, sendo sistematicamente bombardeado com prioridades que não passavam de vaidades ou meros pedidos de emprego.

Lembrei-me disto a propósito da formação das listas para as europeias. Tranquilamente, Costa impôs a sua vontade, afastando o incómodo Assis que nunca se reviu neste Governo – ousando dizer que fazer coligações com partidos antissistema e sobretudo anti-Europa é obviamente ‘contranatura’. 

Assim, Costa reforçou poderes, metendo Pizarro num nono lugar da lista, provavelmente elegível mas demonstrando que a prioridade vai para os seus fiéis. Logo à cabeça, colocou dois dos seus ministros deste Governo, consubstanciando uma série de ex-governantes em posições elegíveis. Não sei se os queria despachar; mas a verdade é que soube abrir espaço para uma renovação governamental e para, a escassos meses de eleições nacionais, promover Pedro Nuno Santos a ministro. Pelo meio, encaixou com mestria as regiões autónomas, assegurando votos e apoiando o Governo socialista açoriano de Vasco Cordeiro, além de mostrar à Madeira que o PS apoia Cafofo para substituir Miguel Albuquerque.

Pelo contrário, Rio demonstrou mais uma vez a sua inabilidade política, e de uma penada afrontou os Açores, com a colocação de Mota Amaral em oitavo na lista (um lugar que o seu passado não merece), bem como Lisboa, que surge com apenas um candidato elegível. Bem pode defender que a sua lista é paritária e que reflete as suas opções contra o centralismo da capital, mas na prática desmobiliza as bases para as campanhas que se avizinham.

Rangel é uma grande mais-valia, com a sua experiência política europeia, mas não consegue fazer milagres. A líder da Juventude do PPE em segundo lugar (Lídia Pereira) é um tributo que presta ao futuro do partido, mas terá de surpreender para garantir votos no presente. Carlos Coelho – com notável experiência, que em qualquer lado seria de aproveitar – foi atirado para um sétimo lugar, com maiores probabilidades de ficar fora do que dentro. Ou seja, uma lista que pouco promete e não ajuda a captar votos.

Quanto aos outros, o MPT (com dois deputados atualmente) vai desaparecer e surge o PAN, capaz de surpreender com as suas causas ecologistas, sobretudo do agrado de uma juventude que não se revê nada nestes partidos e, particularmente, nestes políticos. Ou seja, um pouco ao estilo de um partido de protesto neste espetro político; e já surge com 3% de intenções de voto. 

A Aliança e Pedro Santana Lopes irão testar a sua aceitação nestas europeias. E se Paulo Sande é mais-valia, falta saber se após escassos meses se consegue afirmar (tem 2% em sondagens). Caso tenha menos de 5%, será uma profunda desilusão, sobretudo com este PSD fraturado.

Bloco e CDU, com sondagens atualmente empatadas (8%), disputam uma guerra pela liderança da esquerda, cada um com as suas bases de apoio. Mas se Catarina ficar à frente de Jerónimo, como creio que irá acontecer – sobretudo pelo populismo da sua mensagem e da sua imagem jovem – a minha dúvida é se a renovação no PCP vai esperar pelas eleições de outubro.

P.S. 1 – O IGCP colocou dívida pública a 7 e 10 anos com as mais baixas taxas de juro de sempre (0,763% e 1,298%, respetivamente). Vai paulatinamente rodando dívida e baixando encargos com a mesma. Que pena Cristina Casalinho não ter margem orçamental para podermos baixar a dívida pública bruta – porque a sua mestria vai sendo comprovada!

P.S. 2 – O Conselho de Finanças fez mais um dos seus alertas sobre o nível elevado da dívida pública e privada, bem como sobre o crescimento do PIB este ano (que reviu em baixa para 1,6%), aliás em consonância com outros organismos internacionais. Mas será que em ano de eleições alguém do Governo presta atenção a estes avisos? Não acredito. Resta-nos esperar que a realidade não seja tão dura e que o acordar deste sonho não seja um pesadelo.

Manuel Boto
Economista