PSD. Pior é impossível

Tenho a ideia que as famosas faltas que alguns deputados cometem para ir à sua terra não passam de passeios às concelhias locais. O desfasamento com a realidade foi bem evidente no debate do passe único.

No último debate quinzenal, o PSD teve uma atuação próxima da perfeição da aselhice. O Governo, com António Costa  do alto do seu pedestal a trocar galhardetes com a oposição, anunciava as medidas do passe único ou social, como se queira. Uma medida que irá mexer na carteira de muitos milhares de portugueses, fazendo com que estes poupem euros fundamentais para outras contas. O que fez o PSD? Atirou-se à medida, gritando que tudo não passava de propaganda eleitoral. Contestava ainda que os transportes públicos estão obsoletos – o caso dos caminhos de ferro é gritante – e que não haverá autocarros e barcos que cheguem para as encomendas. Dito de outra forma: que o Governo estava a anunciar uma medida impossível de pôr em prática. 

Confesso que nunca tinha visto tanta inabilidade política. Em vez de aplaudirem a medida que irá beneficiar tanta gente optaram antes pelo ataque gratuito. Percebia-se perfeitamente que questionassem de onde sairá esse dinheiro, embora a resposta fosse óbvia. O que não se entende é que nenhum deputado do PSD tenha feito o trabalho de casa. Se algum dos ilustres representantes do povo tivesse dedicado uma semana da sua vida a andar em transportes públicos, estaria, seguramente, muito mais preparado para o debate. E aí falaria das linhas do metropolitano que estão saturadas, poderia opinar sobre o estado lastimável dos caminhos de ferro, onde, às vezes, uma viagem na linha mais famosa do país parece uma ida ao inferno, isto já para não falar das outras localidades que cada vez ficam mais isoladas por causa da inexistência de composições.

Se não fosse muita maçada, podiam ter destacado cinco ou seis deputados, dividindo-os por diferentes meios de transporte e por áreas diversas. E não seria muito difícil, com casos concretos, apelar ao Governo para levar o seu passe único para a frente, mas que não se esquecessem de tudo aquilo que está mal. Podiam e deviam ter feito uma crítica construtiva. No partido até há quem tenha estado à frente na ideia do passe e de facilitar a vida aos transportes públicos – Carlos Carreiras chegou a defender um corredor bus na A5. Podiam ainda ter falado nas questões ambientais, dizendo que a intenção de tirar carros das cidades só irá beneficiar o ambiente, desde que os novos transportes sejam amigos do ambiente e que existam!   

A ideia que passaram foi a daquele mariolas que foi ultrapassado pela brincadeira de outro menino traquinas e amuou. Os políticos deviam começar a pensar em saber  do que falam. Se a discussão é sobre hospitais, vistam a pele de um doente e saibam o que se passa nos hospitais. E não lhes falta matéria, não precisando de escolher muito. Vão a qualquer um e logo perceberão do que falam os doentes, os médicos e os enfermeiros. O mesmo se passa com muitos outros setores.

Tenho a ideia que as famosas faltas que alguns deputados cometem para ir à sua terra não passam de passeios às concelhias locais. O desfasamento com a realidade foi bem evidente no debate do passe único. Então uma medida que vai favorecer tantos é logo atacada sem ser elogiada primeiro e criticada depois?  O PSD caminha a passos largos para a pior votação de sempre e o ‘Governo família’ de António Costa já deve estar a olhar para o cartão de cidadão dos elementos mais novos do agregado familiar para ver se alguns já podem entrar na próxima legislatura. Afinal, os mais novos sempre poderão ir de transportes públicos… 

vitor.rainho@sol.pt