CGD. Regulador admite que pode ter havido “subestimação do risco”

Carlos Costa garantiu que só participou em 10% das reuniões do conselho alargado de crédito e que só era chamado se houvesse necessidade de “haver quórum”. 

CGD. Regulador admite que pode ter havido “subestimação do risco”

O governador do Banco de Portugal (BdP) admitiu ontem que poderá ter havido uma “subestimação do risco” por parte da Caixa Geral de Depósitos e, daí o relatório da EY apontar para perdas de 1,2 mil milhões de euros nos 25 maiores créditos. Ainda assim, garantiu que a instituição está a avaliar a auditoria da EY para verificar se há motivos para aplicar contraordenações a gestores. “Atentas as conclusões da auditoria, o Banco de Portugal está a atuar em duas vertentes, por um lado, avaliando a existência de indícios de condutas suscetíveis de configurar ilícitos de natureza contraordenacional”, afirmou. 

 Carlos Costa voltou ainda a garantir que só participou em cerca de 10% das reuniões do conselho alargado de crédito. E deu uma explicação: desempenhava as funções de administrador com o pelouro do marketing. O responsável disse também que só era chamado para essas reuniões quando havia necessidade de “haver quórum”. Aliás, essa garantia já tinha sido deixada numa entrevista recente à SIC. 

No entanto, quando questionado por Mariana Mortágua sobre a sua a sua participação em reuniões que aprovaram créditos ruinosos – como a Investifino ou Joe Berardo – o governador disse apenas que “essas entidades eram clientes normais da CGD”. 

Mas o governador afirmou que o supervisor não detetou qualquer desvio anormal das imparidades do banco público em comparação com o setor. “A intensidade da supervisão através do recurso a inspeções aumentou significativamente a partir de 2010, à medida que a crise se intensificou e o enquadramento regulatório internacional e nacional se tornou mais exigente”, referiu. 

Face a este cenário, Carlos Costa chamou a atenção para a necessidade dos atos de gestão terem de ser avaliados face às normas da época. “A CGD cumpria as regras prudenciais da época e o normativo da época. (…) O que era em 2004 aceitável, em 2013 deixou de ser”, disse. 

Quando questionado novamente por João Paulo Correia, deputado do PS, sobre o facto de o supervisor não ter detetado qualquer “anomalia” na carteira de crédito do banco público naquela altura, Carlos Costa reforçou a sua posição: “A CGD não se distinguiu em matéria de NPL (crédito malparado) nem de imparidades”.

Pedido polémico

Em relação ao pedido de escusa de não participar nas decisões do regulador quanto à eventual responsabilização de antigos gestores do banco público, o governador voltou a afirmar que “em todos os momentos em que esteve em causa pedi escusa porque queria reforçar a qualidade da decisão do Banco de Portugal”, disse aos deputados.

E quando questionado por Cecília Meireles por ter feito esse pedido, Carlos Costa disse apenas: “Estou tão tranquilo com essa matéria que qualquer decisão tomada em relação à CGD, e ao relatório da EY, não me senti inibido”. 
Já quanto à possibilidade de ser reavaliado, o responsável garantiu que “não teria qualquer problema com o resultado”. 
 
Falta de documentos

Ainda antes de arrancar a audição ao governador do BdP, a sessão ficou marcada pelos pedidos do PSD e do CDS para terem acesso aos documentos, que a EY revelou não lhe terem sido disponibilizados, relativos a quatro dos 25 créditos mais problemáticos identificados na auditoria realizada à CGD.

O PSD apresentou ainda um requerimento ao presidente da comissão, Luís Leite Ramos, em que solicita “com caráter de urgência” ao banco público “toda a informação que não esteja sob segredo de justiça, na posse da Caixa, relativa aos quatro contratos referidos”, lembrando que “esta omissão condicionou o trabalho da EY, levantando-nos sérias dúvidas sobre a validade das conclusões do trabalho”, alegam os sociais-democratas.