Paulo Rangel ganhou as eleições europeias

Quando em 2009, Paulo Rangel foi anunciado como candidato do PSD, o pasmo foi geral

Estávamos em abril de 2009. Sócrates governava com maioria absoluta e ninguém sabia quem seria o candidato do PSD às eleições europeias de junho. Manuela Ferreira Leite era líder do partido com sondagens baixas e baixa popularidade. Em Lisboa, nas redações e nos salões, vaticinava-se uma derrota do PSD nessas eleições, outra nas legislativas e outra ainda nas autárquicas do outono. 2009 era ano de três atos eleitorais.

Quando Paulo Rangel foi anunciado como candidato do PSD, o pasmo foi geral. Líder da bancada da AR desde junho de 2008, estava a tornar-se uma vedeta da política nacional, muito por causa dos combates quinzenais que travava com o primeiro-ministro. Ainda assim, a surpresa foi grande e ninguém lhe antecipava uma vitória. Anteviam-se, sim, três derrotas consecutivas do PSD de Manuela Ferreira Leite. 

O PS indica para cabeça-de-lista Vital Moreira, o professor de Direito de Coimbra. A pesporrência do PS era tanta, a soberba de Sócrates era tamanha, que o seu candidato declara que Paulo Rangel tem de comer «muita papa Maizena» para ser alguém. 

As eleições europeias são sui generis por dois motivos: têm uma abstenção muito alta e jogam-se em cinco distritos – Lisboa (com 1.914.894 eleitores), Porto (1.592.206), Braga (777.988), Setúbal (733.456) e Aveiro (645.212). E isso implica três coisas: a escolha de um cabeça-de-lista urbano, com uma agenda progressista; a possibilidade de fazer uma campanha eleitoral mais concentrada no tempo e no espaço; uma campanha menos dispendiosa, mais controlada e eficaz. 

Ancorado numa grande oratória, numa poderosa retórica e num anti-socialismo primário, com queda para as boas ideias e frases sintéticas que capturam bem a essência das coisas, Paulo Rangel cunhou, por exemplo, a «claustrofobia democrática» do Portugal socrático. 

Nada nem ninguém lhe previu a vitória, nenhuma sondagem. A sede do PSD na S. Caetano à Lapa, que estava vazia às sete da tarde do dia 7 de junho de 2009 – como estão vazias as sedes partidárias quando se adivinham derrotas -, começa a encher depois dos noticiários das oito ditarem a vitória. À meia-noite, não cabia lá mais um alfinete.

Isto é história, dez anos passaram. Sócrates ganhou essas legislativas, chamou a troika em 2011, Passos Coelho teve uma maioria absoluta para aplicar o terrível memorando, ganhou novamente as legislativas de 2015, caiu na AR, e desde final de 2015 somos governados por um PS ‘geringonceiro’.

Extraordinariamente, em 2019 a farsa repete-se. A pesporrência da economia, mesmo quando a Grécia cresce mais do que Portugal. A soberba de pôr a parentela a tomar conta do aparelho do Estado. 

Quem diria que, dez anos volvidos, estamos exatamente na mesma?

sofiarocha@sol.pt