A cidade das trotinetas

Lisboa, por vontade, por passividade ou por deslumbramento, parece querer ser a cidade das trotinetas. Sem aplicação de regras, sem fiscalização e sem limites, a cidade está inundada de trotinetas que ocupam e circulam por todo o lado. Agora, a Câmara Municipal anuncia que vai retirar 1600 lugares de estacionamento – tão escasso em algumas…

Lisboa, por vontade, por passividade ou por deslumbramento, parece querer ser a cidade das trotinetas. Sem aplicação de regras, sem fiscalização e sem limites, a cidade está inundada de trotinetas que ocupam e circulam por todo o lado. Agora, a Câmara Municipal anuncia que vai retirar 1600 lugares de estacionamento – tão escasso em algumas zonas residenciais – para colocar trotinetas. Lisboa precisa de modos suaves e modos partilhados de transporte, de mais e melhores transportes públicos e de menos automóveis, a bem de uma melhor mobilidade e de melhor ambiente. Mas não se deve diabolizar o automóvel, violentar os cidadãos e menosprezar os residentes em Lisboa.

As cidades vivem desafios de mobilidade e de sustentabilidade ambiental decisivos para o futuro. A competitividade, atratividade e, no limite, a sobrevivência das cidades depende, em larga medida, de mudanças estruturais no modo como os cidadãos se deslocam. O tempo, a qualidade e a pegada ecológica tornaram-se fatores determinantes em contexto urbano. Lisboa vive esse desafio.

O problema é que a Câmara Municipal de Lisboa não se preparou para esta revolução da mobilidade, não tendo sido capaz de a antecipar e de a planear. Agora atua de modo reativo e precipitado.

Em Lisboa observa-se uma aparente anarquia no uso de trotinetas e, de certo modo, também no uso de bicicletas. É demasiado frequente observar trotinetas obstruindo os passeios e circulando, tal como as bicicletas, nos passeios, infringindo o código da estrada e colocando em risco a segurança de peões, automobilistas e motociclistas.

A Câmara deveria impor o cumprimento de regras na utilização de trotinetas e de bicicletas, mas também impor limites à sua circulação. É curioso notar que uma Câmara socialista, tão interventiva em algumas matérias e tão preocupada com a regulação e limitação, com as trotinetas é absolutamente liberal.

É urgente que haja fiscalização, seja com a polícia municipal, seja com a EMEL – sempre tão implacável com os automóveis.

Com a desorganização que reina na cidade em matéria de uso dos chamados modos suaves, sem existir uma oferta adequada e suficiente de transportes públicos, a Câmara Municipal decidiu, ainda assim, diminuir lugares de estacionamento de automóveis. Exige-se que haja bom senso de não o fazer em zonas residenciais onde há falta de estacionamento para moradores.

Não serve dizer que existem lugares de estacionamento em parques subterrâneos. Primeiro porque não existe essa oferta em muitos bairros residenciais, depois porque a maioria das famílias residentes não conseguem suportar os encargos de alugar um espaço para estacionar em parques de estacionamento subterrâneos.

A qualidade ambiental de Lisboa e uma melhor mobilidade torna imperioso diminuir a circulação de automóveis em Lisboa. Mas isso deve ser alcançado através de uma oferta adequada de transportes públicos, promovendo, de forma equilibrada, os modos de mobilidade suave e partilhada, mas sem deixar de respeitar quem precisa de utilizar o automóvel na sua vida familiar ou profissional.

A promoção de modos suaves de mobilidade deve ser feita, mas com respeito por todos e, em Lisboa, começando por respeitar os residentes.