Trump e Israel

O reconhecimento da soberania israelita sobre as os Montes Golã é interpretada no contexto da geopolítica, contudo, este reconhecimento está ligado diretamente à política interna dos EUA. Com este golpe estratégico, o presidente Donald Trump pretende cimentar a mudança gradual no apoio partidário a Israel, dos democratas para os republicanos e reunir os cristãos evangélicos…

O reconhecimento da soberania israelita sobre as os Montes Golã é interpretada no contexto da geopolítica, contudo, este reconhecimento está ligado diretamente à política interna dos EUA. Com este golpe estratégico, o presidente Donald Trump pretende cimentar a mudança gradual no apoio partidário a Israel, dos democratas para os republicanos e reunir os cristãos evangélicos ao seu redor.

A assinatura do decreto dos montes Golã foi anunciado no passado dia 25 de março, quando o Comité de Assuntos Públicos dos EUA (AIPAC), o principal grupo de lobby de Israel nos EUA , realizava a sua conferência anual em Washington. Este ano, o evento aconteceu no contexto dos comentários do deputado democrata Ilhan Omar, onde este criticou o lobby, e, a decisão de vários candidatos presidenciais democratas de boicotar este grupo.

No entanto, Trump, e alguns membros da sua administração, aproveitaram a oportunidade para atacar fortemente o Partido Democrata, com o vice-presidente Mike Pence, a ser a voz ativa e de comando contra o Partido Democrata, acusando o mesmo, de ter «medo de apoiar os mais fortes defensores de Israel na América».

Alguns dias antes, Trump foi ainda mais explícito: «Eu não sei o que aconteceu com eles, mas eles são totalmente anti-Israel. Francamente, eu acho que eles são antijudaicos».

Embora não seja evidente, que os eleitores judeus estão a mudar para o Partido Republicano em massa, há indícios de que as atitudes em relação a Israel dentro da base democrata estão a mudar. Numa pesquisa da CNN em dezembro de 2017, 71% dos entrevistados democratas opuseram-se à ideia da mudança da embaixada para Jerusalém, enquanto 79% dos republicanos aprovaram. A divisão bipartidária sobre Israel está a crescer, e continuará a crescer, à medida que a geração Y, se torna mais influente na política dos EUA.

Apesar de Trump, aparentemente encorajar um ‘Jexodus’, não é o voto judaico que ele procura; Os judeus são apenas dois a três por cento da franja de eleitores nos EUA. Em vez disso, seu objetivo é garantir o apoio e uma alta participação na eleição presidencial de 2020 entre os cristãos evangélicos, que compõem 25% da população dos EUA.

A comunidade evangélica apoia o sionismo, embora por um motivo diferente dos judeus, e vários dos seus membros ocupam posições importantes na administração Trump. O secretário de Estado, Mike Pompeo, divulgou os seus laços evangélicos na sua recente visita a Israel. 

A aliança Trump-Netanyahu está a colocar os aliados árabes de Washington numa posição difícil, já que os ‘presentes’ incondicionais dos EUA para Israel estão cada vez mais antagónicos com os ‘amigos árabes’. Essas distrações políticas realizadas pela administração Trump, estão a minar a tentativa dos EUA de dissuadir o Irão.

A aliança entre os evangélicos dos EUA e a direita israelita está a polarizar a política dos EUA e do Médio Oriente. 

Embora possa garantir ganhos eleitorais a curto prazo para Trump, e Netanyahu, a longo prazo, pode se tornar num desastre. A busca de políticas motivadas por ‘interpretações bíblicas’ corre o risco não apenas de fazer descarrilar a política externa dos EUA, como recentemente aconteceu no governo de Bush, mas também de afastar alguns eleitores republicanos, especialmente da famosa geração Y.