«Quando não choras as lágrimas ficam guardadas em ti»

Esta frase, que a Francisca fotografou no Cais do Sodré, diz: «Quando não choras as lágrimas ficam guardadas em ti».

Trata-se de uma sábia constatação, porque é bem verdade que, ao chorarmos, sentimo-nos mais aliviados, e parece que libertamos alguma da mágoa que guardamos dentro de nós. Quantas vezes não sentimos que as lágrimas nos lavam a alma!?

Pelo contrário, quando fazemos um esforço para não chorar ou quando não conseguimos chorar, guardamos a tristeza dentro do peito e as lágrimas que poupamos são sentimentos que aprisionamos em nós. Como conta Lobo Antunes, a propósito da tristeza provocada pela morte de um amigo: «andou discretamente a apagar as lágrimas dos olhos como quem sopra velas de um bolo de aniversário. Claro que ninguém o viu chorar». E, ao apagar as lágrimas, ao calar a dor, acabamos por tornar a dor ainda mais forte e mais duradoura.

É bem certo que as lágrimas também não apagam a luz forte e pungente da dor, porque nada poderá eliminar a tristeza que sentimos quando esta é forte e nos toca fundo. Mas, alivia e, muitas vezes, após chorar, mesmo com os olhos ainda turvos de lágrimas, conseguimos ver mais claro e sentimo-nos um pouco melhor. Até porque há mágoas que são demasiado angustiantes para as conseguirmos reter dentro de nós. Ao exteriorizar os sentimentos, conseguimos colocar alguma ordem no caos que sentimos e acalmar o turbilhão que se forma no peito.

O choro, neste sentido, é, no fundo, uma forma de comunicar causada por uma emoção intensa. Choramos quando o sistema límbico (o sistema no nosso cérebro responsável, segundo se crê, pelos sentimentos) associa um estímulo emotivo à resposta já gravada no cérebro como choro e, através do sistema nervoso, liberta diversas substâncias, como a noradrenalina e a serotonina, causando a contração da glândula lacrimal, que liberta a lágrima. Este processo é, como é óbvio, igual em todos os seres humanos, daí que António Gedeão diga: «Encontrei uma preta / que estava a chorar, / pedi-lhe uma lágrima / para a analisar. // (…) //  Ensaiei a frio, / experimentei ao lume, / de todas as vezes / deu-me o que é costume: // Nem sinais de negro, / nem vestígios de ódio. / Água (quase tudo) / e cloreto de sódio.»

Conversar com alguém – um amigo ou, por vezes ainda melhor, um desconhecido – ajuda muito, porque a solidão isola-nos e faz-nos sentir que é muito difícil, senão impossível, alcançar uma solução ou encontrar um caminho para minorar o sofrimento. O diálogo com outros permite-nos mais facilmente identificar as causas do sofrimento e, assim, torna-se mais simples encontrar os recursos para lidar com o sofrimento.

Mas, findo o choro, importa saber limpar as lágrimas, essa tal água com cloreto de sódio, porque, como diz L. Tagore: «as lágrimas não te deixarão ver o Sol». No fundo, o que importa é aproveitar e amar a vida.