FMI. Guerra comercial afeta todos e trava ainda mais o crescimento

Um eventual aumento das taxas aduaneiras terá impacto inevitável no valor acrescentado, no emprego e na produtividade de todo os países envolvidos.

Todos os países saem a perder da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. A garantia é dada pela Fundo Monetário Internacional (FMI), num dos primeiros artigos de análise publicados ontem que acompanham a atualização do World Economic Outlook. Ainda assim, a entidade liderada por Christine Lagarde não tem dúvidas: os mais penalizados serão estes dois países. 

O FMI garante que um eventual aumento das taxas terá um impacto inevitável no valor acrescentado, no emprego e na produtividade não só dos países envolvidos, mas também dos países terceiros. E lembra que basta uma subida de 1% no valor das taxas aduaneiras para levar a uma queda das exportações entre os países envolvidos entre os 3% e os 6%.

Já na terça-feira, Lagarde admitiu que a economia global estava a atravessar um “momento delicado” e que as expectativas não são animadoras. O FMI deverá voltar a rever em baixa as previsões de crescimento mundial para 2019 e 2020 para 3,5% e 3,6%, respetivamente. Isto depois, do organismo, em janeiro ter revisto a estimativa de crescimento para a economia mundial pela segunda vez. No entanto, só na próxima semana, é que irá atualizar previsões. Mas agora diz que queda poderá ser ainda maior se os Estados Unidos e a China não chegarem a um acordo ainda este mês.

De acordo com o FMI, se o acordo não se concretizar e para um cenário em que as taxas aduaneiras sobem em 25% para todos os produtos no comércio bilateral entre os dois gigantes, o impacto iria traduzir-se numa redução do PIB anual em uma a duas décimas para a economia mundial, entre 0,3% a 0,6% para os EUA e 0,5% a 1,5% para a China. 

E os riscos não ficam por aqui. De acordo com o organismo liderado por Lagarde, a diminuição do comércio com a China irá desviar a longo prazo produção para países como o México e o Canadá. Uma situação que poderá levar a perda de muitos postos de trabalho em alguns setores da economia norte-americana e chinesa.

Riscos para países com dívidas elevadas

Ainda na terça-feira, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) defendeu que alguns governos devem evitar “passos errados”. O recado de Christine Lagarde destinou-se essencialmente aos países com dívidas elevadas, que numa altura de taxas de juro baixas, “têm uma margem limitada para agir” quando chegar a fase negativa do ciclo, “o que vai inevitavelmente acontecer”. E não tem dúvidas: “Falta resiliência à economia de muitos países”. 

Mas apesar destes alertas, Lagarde acredita que a ação dos bancos centrais poderá contribuir para uma recuperação da economia já na segunda metade do ano. No entanto, alerta para riscos, como é o caso do Brexit, das tensões comerciais e dos mercados financeiros.