Um exercício tão fastidioso como ler os créditos no final de um filme

De há uns anos para cá parece ter-se tornado moda os livros de não-ficção incluírem uma lista de agradecimentos. E que lista! Quanto mais longa, melhor. Os anglo-saxónicos, especialistas nesta matéria, têm uma expressão adequada para isso: name dropping, qualquer coisa como ‘despejar nomes’. E há quem seja perito na matéria.

Para mim, que tenho a incapacidade de dar um livro por terminado enquanto não passei os olhos por cada uma das letras nele impressas, ler essas páginas de agradecimentos pode tornar-se um exercício tão fastidioso como ler os créditos no final de um filme. Transcrevo um exemplo apanhado ao acaso, para ficarem com uma ideia:_«Agradeço também a Bridget Marmion, Lori Glazer, Megan Wilson, Carla Gray, Lois Wasoff, David Falk, Sasheem Silkiss-Hero, Chester Chomka, Sanj Kharbanda, Elizabeth Lee e Debbie Engel…». Ficaram cansados?_É apenas uma pequena parte de uma lista mais longa.

Um destes dias, enquanto me aborrecia de morte com este monte de nomes que não me diziam nada, apercebi-me de que os agradecimentos vêm hoje preencher a mesma função que as bibliografias exaustivas (que parecem já não estar nas boas-graças) preenchiam há uns anos: dar solidez e respeitabilidade a um livro.

Os agradecimentos não servem apenas para agradecer, servem acima de tudo para mostrar ao leitor
(e porventura aos pares do autor) a quantidade de pesquisa, de pessoas e de trabalho sério que estiveram envolvidos na feitura da obra.

Normalmente estas páginas abundam em expressões como «os conselhos sábios de fulano» ou «os conhecimentos profundos de sicrano», quase como se essas personalidades fossem os grandes especialistas na matéria e, elas sim, tivessem as qualidades necessárias para escrever aquele livro. E, claro, não pode falhar uma referências às viagens que se fizeram e às bibliotecas e arquivos que se visitaram, sempre com uma palavra simpática para os respetivos funcionários.

Ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, tenho para mim que estes elogios exagerados não constituem uma forma de modéstia, mas antes um exercício de refinado exibicionismo. Como assim?, perguntarão. O que está escrito nas entrelinhas é: ‘Vejam quantos arquivos eu visitei! Vejam como tenho amigos tão importantes e variados! Vejam como todas estas pessoas se dispuseram a trabalhar para mim’.

No fundo, é para dizer tudo isso da forma mais elegante possível que servem os agradecimentos.

Porque se o autor quisesse apenas agradecer, pegava no telefone ou em papel de carta e dirigia algumas palavras a quem bem entendesse. Não precisava de estar a maçar os leitores com isso.