Extrema-direita quer frente comum nas europeias

Os partidos nacionalistas europeus reuniram-se em Milão, e querem construir uma “fortaleza” na Europa

Partidos de extrema-direita de toda a Europa reuniram-se esta segunda-feira em Milão, sob os auspícios do ministro do Interior italiano, Matteo Salvini. Querem uma frente comum nas eleições europeias, marcadas para 23 de março, em que se prevê que o crescimento global da extrema-direita se faça sentir. O peso parlamentar destes partidos poderá aumentar para cerca de 150 dos 705 deputados europeus, de acordo com as sondagens.

O alinhamento de posições para “uma visão da Europa para os próximos 50 anos”, como pretende Salvini – defendendo uma suposta “identidade europeia”, tal como políticas duras quanto à imigração – pode ser mais difícil do que parece. Continuam a haver diferenças fraturantes entre os nacionalistas, tanto a nível económico, como social e de política externa. 

A Liga Norte de Salvini tem se aproximado da Reunião Nacional de Marine LePen, com quem partilha uma visão económica protecionista, enquanto a Alternativa para a Alemanha (AfD) e os nacionalistas nórdicos defendem uma economia de mercado, de contornos neoliberais.

A defesa da identidade europeia, enquanto raiz cultural cristã, continua a ser uma peça-chave das propostas da Liga Norte e dos partidos governantes polacos e húngaros, o PiS e o Fidesz, respetivamente. Já LePen distancia-se dessa abordagem – França continua a ter uma maioria da população defensora do secularismo. Salvini mantém-se um admirador confesso de Putin, enquanto os polacos do PiS se mantêm cautelosos quanto aos seus vizinhos russos. 

No entanto, a presença em Milão da AfD, o maior partido da oposição alemã, mostrou uma aproximação entre os pesos pesados da extrema-direita europeia. Tornou-se mais provável a construção de “uma fortaleza na Europa”, como formulado por Jörg Meuthen, porta-voz da AfD.

Esboçou-se assim a união de três bancadas parlamentares: os Reformistas e Conservadores Europeus (ERC), Europa da Liberdade e da Democracia Directa (EFD) e o Europa das Nações e das Liberdades (ENF), podendo juntar-se ainda o Fidesz, de Viktor Orbán. Os nacionalistas húngaros estão na corda bamba quanto à permanência no Partido Popular Europeu (PPE) – de que faz parte o PSD e o CDS – tendo sido temporariamente suspensos, após uma campanha contra o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Orbán apelidou Salvini de “herói”, por recusar aceitar os refugiados que tentam chegar à costa italiana, algo que parece ressoar entre o eleitorado. Salvini pretende usar o seu papel de articulador dos nacionalistas para ganhar popularidade em casa. A Liga Norte tem ofuscado o seu parceiro maioritário de coligação, o Movimento 5 Estrelas (M5S), sucessivamente derrotado nas eleições locais em Itália, com grandes ganhos para a Liga.