A caça à multa e a educação dos condutores

1. Digam-me lá quem é que, entre os condutores, nunca teve problemas com radares, sejam eles móveis ou fixos?  Os fixos são ‘controláveis’ – e a verdade é que, quem anda na estrada, vê nitidamente um abrandamento da velocidade dos veículos quando estes se aproximam de um destes ‘polícias’. Ou quando as redes sociais avisam…

1. Digam-me lá quem é que, entre os condutores, nunca teve problemas com radares, sejam eles móveis ou fixos? 
Os fixos são ‘controláveis’ – e a verdade é que, quem anda na estrada, vê nitidamente um abrandamento da velocidade dos veículos quando estes se aproximam de um destes ‘polícias’. Ou quando as redes sociais avisam da existência de uns quantos móveis – e os condutores parecem alunos de escola primária, super bem-comportados.

Mas afinal, qual é a função dos radares? Controlar a velocidade e prevenir acidentes ou serem ‘caçadores de multas’? A perceção generalizada dos condutores é exatamente a segunda hipótese. Existe tantas vezes um manifesto exagero na velocidade exigida nos ‘fixos’, bem como nas localizações estratégicas dos ‘móveis’, quantas vezes escondidos, que hoje em dia há claramente uma prevalência da visão punitiva em detrimento da preventiva.

Podia ser diferente? Eu acho que sim. Bastava que a punição dos excessos fosse eficaz e célere – e, simultaneamente, as velocidades máximas permitidas fossem razoáveis – para que muitos acidentes fossem evitados. 
As autoridades têm 100% de razão sobre o comportamento excessivo de muitos condutores – e a tendência atual é para cercear velocidades, como se quer agora fazer na 2.ª Circular, em Lisboa.
Sinceramente, fiquei chocado ao ver o vereador responsável pela área recomendar 50 km/h nesta via crucial da cidade, em vez dos atuais 80 km/h, com o argumento de reduzir acidentes e aumentar a fluidez de tráfego. Ao invés, gostaria de ter ouvido o vereador sugerir mais dois ou três radares ao longo desta via. Ou protestar contra a não punição dos irresponsáveis que circulam nas estradas ou ruas a velocidades absurdas – e que a escassez de controlos, sobretudo noturnos, tudo permite. 

Claro que existirão sempre idiotas ao volante que colocam a vida dos outros em risco. Mas se, por exemplo, os culpados por acidentes menores – mesmo aqueles em que só há danos de lata – fossem exemplarmente punidos com uns 3 meses de inibição de conduzir e perda imediata de 2 pontos na carta, tenho a certeza de que existiria muito maior cuidado na condução. Isto, para mim, seria educar os condutores e prevenir construtivamente as velocidades excessivas e futuros acidentes.

Cruzo múltiplas vezes as pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, sobretudo ao fim de semana. Circulando à velocidade permitida, não raras vezes me assusto com sinais de luzes ou buzinadelas idiotas, porque a minha ‘nabice’ não deixa os ‘Fitipaldis’ voarem para chegar 10 minutos mais cedo ao destino, com a certeza de impunidade total.
Dizia o meu avô Virgílio: «Em dois sítios se vê a educação das pessoas: a conduzir ou à mesa de jogo!». Cada vez lhe dou mais razão!

2. Esta última votação concertada dos deputados do PSD e do PS no passado dia 28 de março, permitindo as acumulações de funções de deputados durante a votação na especialidade – com particular impacto nas sociedades de advocacia a que pertencem, e em que ficam com a possibilidade de trabalhar para o Estado ou entidades públicas, desde que não tenham intervenção direta nos processos –, é chocante. 

Sabemos que, dos 59 deputados que acumulam funções ou não optaram pelo regime de exclusividade, há 35 do PSD, 16 do PS, 7 do CDS e 1 do PCP. Os deputados do Bloco, PEV e PAN têm todos exclusividade. Daqueles 59, há 20 advogados. Ou seja, podemos compreender que não se entendam no essencial da política nem da economia mas se unam nestas questões? Em suma: mais uma machadada na credibilidade dos nossos representantes, com os deputados do PSD e do PS a votarem em causa própria, em benefício de alguns, ao velho estilo de ‘hoje tu, amanhã eu’. No fundo, atuam como prega Frei Tomás: ‘Façam o que ele diz, não façam o que ele faz!’. 

P.S. – Esta semana assisti ao lançamento do livro Quinta do Pinheiro, escrito por Adelaide Passos, uma amiga de muitos anos. Um livro muito humano a favor de uma nobre causa – o Centro Prof. João Lobo Antunes, integrado no Instituto de Medicina Molecular, onde se faz investigação a sério sobre cancros, com particular ênfase no universo pediátrico. 

Ouvi a Drª Cláudia Faria (que representou o IMM) fazer uma exposição circunstanciada sobre a investigação ali desenvolvida e ficámos a conhecer um pouco melhor esse trabalho altamente meritório. A apresentação do livro, feita pela Dr.ª Conceição Zagalo, só por si entusiasmou a sua compra – e faço minhas as suas palavras finais: obrigado, Adelaide!