Obrigado pela salvação da construção naval

A vitalidade dos estaleiros navais em Viana do Castelo foi recentemente apadrinhada pelo primeiro-ministro português numa feliz afirmação da importância da construção naval em Portugal. Se hoje o país se congratula com a existência de uma indústria naval que voltou a ter sucesso no Alto Minho, tal deve-se à visão mas também à coragem e…

Em 2011 os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) encontravam-se falidos e em absoluto descrédito. O Governo de então tomou a única decisão que era possível em função de condicionantes europeias mas também, diga-se, de racionalidade e defesa do interesse público: a liquidação da empresa a que acrescentou (também em nome do interesse nacional) o caminho arriscado da concessão da atividade de construção naval como tentativa para que esta sobrevivesse. A solução foi objeto de severas críticas. Conforme Aguar Branco vaticinou em 2014: «Em 5 anos os críticos vão aplaudir a solução para os Estaleiros». Assim é…

Hoje, os Estaleiros West Sea de Viana do Castelo estendem a passadeira vermelha para a inauguração do primeiro navio de cruzeiro 100% construído em Portugal com pompa e circunstância e com a presença entusiasmada do primeiro-ministro português afirmando que os estaleiros são ‘referência’ da indústria naval portuguesa.

Falta, no entanto, não esquecer como se chegou à recuperação da vitalidade da construção naval em Viana do Castelo e de onde se partiu. A história e a verdade exigem memória dos factos e dos protagonistas, de quem teve arrojo e de quem apenas criticou.

Em 2011 os Estaleiros Navais de Viana do Castelo viviam uma situação insustentável do ponto de vista financeiro e reputacional fruto de anos sucessivos de uma gestão desastrosa e uma tutela do Governo irresponsável. Os contratos concretizados e em carteira significavam todos o aumento dos prejuízos e, frequentemente, não eram cumpridos, os prejuízos anuais eram da ordem dos 40 milhões de euros, o passivo acumulado era superior a 400 milhões de euros e, facto determinante para o desfecho da situação, o Estado prestou auxílios ilegais num valor de cerca de 280 milhões de euros que levaram a Comissão Europeia a abrir um processo ao nosso país.

O anterior Governo herdou um problema sem solução aparente. A recuperação era impossível por razões financeiras e de restrições impostas pela União Europeia e restavam dois objetivos: manter a indústria de construção naval e a salvaguarda do emprego.

O Governo de então podia ter, comodamente, baixado os braços e extinguir a empresa, atirando a responsabilidade para o passado, mas em nome do interesse nacional arriscou com a proposta de concessão, apesar da conjuntura económica adversa.
Em 2013 a decisão foi tomada e levantou-se um coro de críticos. À cabeça, o presidente da Câmara de Viana do Castelo que se prestou a tristes figuras, acompanhado de muitos socialistas e demais partidos da esquerda.

A solução encontrada com a concessão à West Sea permitiu resolver um problema, salvaguardou a construção naval em Portugal, reintegrou parte significativa dos trabalhadores (e hoje tem mais trabalhadores do que então) e relançou a atividade.

Hoje é inegável o sucesso da solução para os estaleiros navais de Viana do Castelo. A economia local beneficia, e, sobretudo, Portugal voltou a ter um setor de construção naval com perspetiva de sucesso.

Alguns dos críticos de então deveriam ter vergonha. Ao atual Governo ficaria bem não omitir como e quem foram os responsáveis para se chegar aqui e para que o país possa assistir a festas de batismo de navios construídos em Viana do Castelo.