Um calimero no PCP?

Jerónimo de Sousa disse recentemente: «Há uma campanha de mentiras atiradas ao PCP». Só faltava esta! O secretário-geral do PCP a queixar-se de que andam a caluniar o partido. Caso para perguntar: que fez o PCP, em toda a sua existência, se não mistificar, distorcer, inventar e mentir descaradamente, para impingir a sua cartilha?  O…

Jerónimo de Sousa disse recentemente: «Há uma campanha de mentiras atiradas ao PCP». Só faltava esta! O secretário-geral do PCP a queixar-se de que andam a caluniar o partido. Caso para perguntar: que fez o PCP, em toda a sua existência, se não mistificar, distorcer, inventar e mentir descaradamente, para impingir a sua cartilha? 

O líder do PCP não terá esquecido as instruções emanadas do Hotel Vitória nos anos que se seguiram à revolução. O país também não. Sobretudo não foi esquecida a violência exercida sobre cidadãos que não tinham outro pecado que o de pensarem de maneira diferente. 

A bem do acerto com a história, o PCP já deveria ter pedido desculpas pelos crimes cometidos em seu nome. 

Agora, que aceitou apoiar o Governo de um partido burguês, ficar-lhe-ia bem esse gesto de dignidade, que seria sinal de conversão à democracia. Mas não! Para os comunistas, pedidos de desculpa são para quem carrega crimes… que não é o caso dos seguidores de Moscovo, como se viu pelas invasões da Hungria e da Checoslováquia, e continua a ver-se pelo amor devotado aos tiranos que governam a Coreia do Norte e a Venezuela. 

O discurso do partido adoçou mas o ADN mantém-se, embora as garras estejam recolhidas. 

Por mim, conservo a memória do relato de um músico amigo, um dos arregimentados para levar as luzes da cultura à província. Num domingo de Verão, atuava ele ao lado de José Afonso e outros ‘libertadores’ da classe operária, quando chegaram notícias dos primeiros ataques às sedes do PCP no norte do país. Em fúria, o autor de Grândola Vila Morena chispava raios e coriscos, quando o meu amigo lhe segredou: «Ó Zeca, isto é uma chatice, mas é o povo a manifestar-se!». – «Pois é, mas esse povo é fascista», disparou o interpelado. 

É o velho vício de quem usa dois pesos e duas medidas: ‘povo trabalhador’, quando lê pela cartilha oficial, ‘povo fascista’, se explode de raiva ao ter notícia da humilhação infligida ao arcebispo de Braga, passeado em cuecas pelos controleiros de serviço no aeroporto.

Os líderes partidários deviam ter cuidado quando usam argumentos com efeito boomerang. Resta muita gente que recorda a brutalidade das ocupações selvagens, dos saneamentos, das barricadas para impedir a manifestação da Fonte Luminosa, e coisas que tais… Enquanto houver quem se lembre do cerco à Constituinte, para impedir a aprovação da Constituição, o PCP vai ter de resignar-se a ser confrontado com o seu passado. 

No caso do líder comunista, quem viveu esses anos, não esquece o olhar de ódio de um fero Jerónimo de Sousa, que não hesitaria um segundo em apoiar fuzilamentos no Campo Pequeno. 

Que a mesma pessoa vista hoje a pele do avô simpático, de discurso cordato e voz aveludada, é coisa que não espanta num bom ator. Mas que venha dizer, como um colegial queixinhas: ‘stôra, aqueles meninos estão a dizer mentiras’, já é desplante que justifica que se faça cair a máscara do partido das ‘amplas liberdades’.