O presidente da EDP voltou a garantir que a decisão de não avançar com a barragem de Fridão é da "inteira responsabilidade do Estado". A garantia foi dada por António Mexia em entrevista à RTP e, apesar de reconhecer que "o Estado tem direito de decidir", essa decisão terá de ser feita à luz do contrato e, por isso, a empresa terá de receber os 218 milhões que pagou. "Não há outra alternativa e é o que está previsto no contrato", afirma.
Mexia lembrou que esse contrato contempla arbitragem e "que dentro de um ano ou dois resolve-se", garantindo: "queremos apenas o cumprimento do contrato" e que a arbitragem "é simples e rápida". E deu como exemplo a compra de uma casa: “é como pagar um sinal para uma casa e não receber nem casa nem o sinal”
"Nunca em momento algum pusemos a hipótese de não construir a barragem sem a devolução do sinal. Queremos apenas a respeitar o contrato", reafirmou.
CEO afasta rendas excessivas
Em relação à comissão de inquérito às rendas de energia, o presidente da elétrica voltou a garantir que o relatório preliminar poderia ser ter sido feito antes das audições e afasta o cenário de existência de rendas excessivas, afirmando que foi ignorado "todos os pareceres e estudos" e que foi "um conceito inventado em 2012 no momento em que o Estado saiu da companhia".
Já em relação ao estudo da ERSE que aponta para o pagamento de 510 milhões de euros a mais, Mexia garantiu que só teve acesso ao documento depois de o tribunal ter obrigado o regulador a divulgar, caso contrário a EDP não poderia ter feito o contraditório.
O presidente da elétrica, na mesma entrevista, estranhou que durante uma década o regulador não tenha colocado problemas, mas em 2017 "resolve reciclar problemas de 2003 e que a lei de 2004 devia ser outra".
Mexia lembrou que a comissão de inquérito está a "discutir duas décadas, sete primeiros-ministros e três presidentes". E avançou com números: "com a privatização da EDP, no total, o Estado foi buscar 20 mil milhões de euros".
Investimento de 12 mil milhões de euros
O presidente da EDP lembrou também que a empresa vai investir 12 mil milhões de euros nos próximos quatro anos. Mas deixou um alerta: “O setor da energia precisa de muito investimento e para isso é preciso confiança”, disse o gestor reforçando que é preciso estabilidade nas regras do jogo. “A EDP foi durante a última década o maior investidor em Portugal, foi também o maior investidor português no estrangeiro”, reforçou.
OPA decidida a 24 de abril
Em relação à OPA da China Three Gorges, António Mexia garantiu que os investidores chineses só se interessaram pela EDP “porque estamos em todo o mundo” e que este dossier será discutido na próxima semana em Assembleia-geral. “Para a semana os acionistas terão oportunidade de dizer o que pensam sobre a OPA”. E recordou que poderá ditar a extinção da OPA ou obrigar a CMVM a dar apenas 45 dias à CTG para completar todo o processo. “Estamos no fim do período da incerteza”, afirmou.
Rercorde-se que, a operação foi anunciada em maio sobre a totalidade do capital da elétrica, avaliando-a em 11,9 mil milhões de euros. Os investidores oferecem 3,26 euros por cada ação da EDP – a proposta chinesa tinha implícito um prémio de 4,8% face à última cotação antes da OPA, de 3,11 euros – enquanto na EDP Renováveis a contrapartida está nos 7,33 euros. Um valor considerado baixo pela administração de António Mexia, que no seu entender, “não reflete adequadamente o valor da EDP”, admitiu, na altura.