Mais uma tragédia para a história da Madeira

Governo decretou três dias de luto nacional e o Ministério Público já abriu um inquérito para apurar as causas do acidente.

Mais uma tragédia para a história da Madeira

Perto de três dezenas de pessoas perderam a vida na quarta-feira, na sequência de um despiste de um autocarro turístico na Madeira. Outras duas dezenas ficaram feridas. As notícias chegaram ao final do dia e rapidamente as imagens dos postos de abastecimento sem combustível que passavam nas televisões deram lugar à tragédia que assolava o Caniço, em Santa Cruz.

O balanço inicial indicava que 28 pessoas tinham morrido e outras 28 tinham ficado feridas, mas quinta-feira de manhã foi feito um novo balanço: mais uma vítima mortal, depois de um dos feridos que se encontrava no hospital não ter resistido aos ferimentos, as vítimas mortais são todas alemãs e têm entre 40 e 60 anos.

Ainda sobre os feridos que deram entrada no hospital na quarta-feira e que foram alvo de intervenção médica imediata, nove já tinham tido ontem alta hospitalar, oito estavam internados na ortopedia, quatro na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalentes, um na Unidade de Cuidados Intermédios Cirúrgicos, seis em observação na urgência e cinco tinham já sido alvo de intervenção cirúrgica.

Dos cinco feridos que precisaram de intervenção cirúrgica, no âmbito da especialidade de ortopedia e cirurgia geral, três são alemães e dois são portugueses – o condutor e o guia que acompanhava o grupo de turistas.

 

Três dias de luto nacional

A tragédia fez o Governo decretar três dias de luto nacional pelas vítimas do acidente. Em comunicado, o Conselho de Ministros afirma que o acidente provocou «a perda irreparável de vidas humanas» e que, por essa razão, os dias 18, 19 e 20 de abril serão de luto.

«O Conselho de Ministros aprovou hoje [quinta-feira] o decreto que declara os dias 18, 19 e 20 de abril como dias de luto nacional, como forma de expressão de pesar e de solidariedade de toda a população nacional para com as vítimas, e suas famílias, do trágico acidente com um autocarro de turismo, na Região Autónoma da Madeira, que provocou a perda irreparável de vidas humanas», pode ler-se no comunicado.

Apesar de ainda serem poucas as certezas sobre a causa do acidente, uma condutora que ia atrás do autocarro no momento do despiste disse à TVI24 que o motorista do autocarro «foi tentando travar o autocarro nas paredes», mas que não conseguiu pará-lo. Já o Expresso avançou que o motorista do autocarro foi submetido a um teste de alcoolemia e que o resultado fora negativo.

O Ministério Público já abriu um inquérito para apurar as causas do acidente.

 

Reações dos governos português e alemão

Marcelo Rebelo de Sousa foi dos primeiros a pronunciar-se sobre a tragédia. Assim que soube do sucedido, o chefe de Estado anunciou que se ia deslocar ao Funchal para dar apoio às famílias das vítimas. Contudo, minutos depois, o Presidente fez saber que afinal já não iria para o Arquipélago na noite de quarta-feira para que o avião da Força Aérea Portuguesa – onde se ia deslocar – pudesse ser usado no transporte de doentes para o Continente.

No entanto, a viagem do Presidente não ficou esquecida e Marcelo viajou para a Madeira esta sexta-feira. Numa nota publicada no site da Presidência, o chefe de Estado revelou que já tinha falado com o presidente alemão «que agradeceu a mensagem de condolências, bem como a rapidez e eficácia dos serviços de emergência e hospitalares na Madeira».

Também o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, se deslocou para a região autónoma. Em conferência de imprensa, na Madeira, o governante, afirmou que o Governo português está em contacto com o Executivo de Angela Merkel «para que a identificação das vítimas mortais e diligências se façam no mais curto espaço de tempo». Santos Silva sublinhou ainda que as autoridades alemãs têm reconhecido a «excelência profissional, simpatia e sentimento de humanidade com que, em particular, os madeirenses têm reagido».

António Costa também transmitiu o seu pesar. Através do seu Twitter, o primeiro-ministro lamentou o acidente: «Foi com profundo pesar que tomei conhecimento do trágico acidente na Madeira. A todas as famílias envolvidas transmito, em nome do Governo português, as mais sentidas condolências». Na mesma publicação Costa fez saber que já transmitiu «o voto de pesar à chanceler Angela Merkel».

Já a chanceler alemã exprimiu «tristeza e choque» perante o sucedido. Em comunicado, Merkel deixou a sua «sincera solidariedade com todas as famílias que perderam os seus entes queridos» e enviou um agradecimento às equipas de socorro portuguesas.

O Parlamento Europeu também cumpriu ontem um minuto de silêncio pelas vítimas e o presidente da Comissão Europeu, Jean-Claude Juncker manifestou «profunda tristeza».

Do lado da Região Autónoma da Madeira, Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, em comunicado, lamentou o sucedido e assegurou que «tudo será feito em prol dos sobreviventes».

 

Autocarro despistou-se e caiu em cima de uma vivenda

Na quarta-feira, por volta das 18h30, o autocarro turístico que seguia com 56 pessoas a bordo despistou-se numa curva junto ao entroncamento da Estrada da Ponta da Oliveira com a Rua Alberto Teixeira. O veículo caiu em cima de uma vivenda.

Ao início da noite, o capitão José Dias da Proteção Civil da Madeira já afirmava que o autocarro que se despistou tinha cinco anos e que aparentemente «estava em segurança». No entanto, deixou a ressalva de que ainda era prematuro estar a falar sobre o assunto.

O capitão da Proteção Civil continuou, dizendo que foram articulados esforços com «as entidades do Governo» e que para o local foram psicólogos para dar apoio às vítimas e pessoas para «fazer a tradução». O responsável frisou ainda que o acompanhamento da situação foi feito «desde o primeiro minuto».

Na mesma conferência de imprensa, Pedro Calado, vice-presidente do Governo Regional da Madeira, acrescentou que o autocarro «estava devidamente inspecionado».

Pedro Calado lamentou o sucedido e disse que uma situação destas não afeta o turismo da região: «As pessoas não vão deixar de vir à Madeira porque houve um acidente de autocarro».

O autocarro acabou por ser retirado na madrugada de ontem depois de as operações no local terem sido dadas como terminadas. Segundo o Diário de Notícias da Madeira, o veículo foi transportado para o Parque Empresarial da Camacha para ser alvo de uma inspeção com o objetivo de se apurarem as causas do acidente.