Tiger Woods. O rugido ecoa mais alto depois da queda ao abismo

É tido quase de forma unânime como a maior lenda da história do golfe mundial, mas viu o brilho empalidecer na última década, por entre escândalos pessoais e lesões crónicas. No último domingo, porém, deu uma demonstração cabal de que os dias de glória ainda não estão definitivamente para trás.

Tiger Woods. O rugido ecoa mais alto depois da queda ao abismo

É oficial: o Tigre voltou a rugir. Depois de mais de uma década de resultados medíocres, polvilhados com lesões e dores crónicas e escândalos pessoais, Tiger Woods conquistou um major – e não qualquer major: a maior lenda da história do golfe mundial triunfou no Masters Augusta, o principal torneio do calendário anual.

É o regresso à ribalta do golfista que mais tempo passou na liderança do ranking mundial (de agosto de 1999 a setembro de 2004 e de junho de 2005 a outubro de 2010, num total de 545 semanas). Ainda há dois anos, Tiger Woods estava fora do top-500 e ponderava seriamente colocar um ponto final na carreira, numa altura em que lidava com uma adição de comprimidos motivada por dores crónicas nas costas e numa perna. Chegou a ser detido na Florida por conduzir sob o efeito de substâncias, com o vídeo desse momento a tornar-se viral nas redes sociais – onde era possível ver uma sombra do homem que uma década antes estava no topo do mundo: um Tiger Woods a cambalear, completamente desorientado e quase sem se conseguir aguentar em pé.

Poucas semanas antes desse triste episódio, o golfista, então com 43 anos, havia emitido um comunicado onde confessava estar a receber tratamento profissional e a tomar comprimidos para superar «dores horríveis nas costas e insónias». Logo depois, seria operado pela quarta vez às costas no espaço de cinco anos, admitindo que o fim da carreira podia estar para breve.

Mais de 120 traições

A era de glória de Tiger Woods começou em 1997, apenas um ano depois de ter começado a jogar no circuito profissional. Eldrick Tont Woods – Tiger por desígnio do pai, que atribuíra essa alcunha a um amigo que com ele havia servido na guerra do Vietname – tinha 21 anos e conquistou, em abril desse ano, o seu primeiro major: precisamente o Masters de Augusta, tornando-se o mais jovem de sempre a consegui-lo.

Dois meses depois, chegava ao topo do ranking mundial – a mais rápida ascensão de sempre. As vitórias foram-se seguindo a um ritmo alucinante e em 2000, com 24 anos, Tiger Woods passava a ser o mais jovem de sempre a vencer um Grand Slam (todos os quatro maiores torneios do circuito). Tudo lhe corria sobre rodas e ninguém lhe conseguia antever dias difíceis – mesmo com a morte do pai em maio de 2006, que o levou a tirar algum tempo para si durante um par de meses.

Os triunfos continuaram a surgir até 2008, quando apareceu a primeira operação ao joelho. Viria, ainda assim, a ganhar o US Open, mas teria de ser novamente operado logo depois. Começava aí o declínio desportivo, mas acima de tudo pessoal. A um acidente de carro, ocorrido após uma grave discussão com a mulher e mãe dos seus filhos, a modelo sueca Elin Nordegren, o primeiro desportista bilionário da história viu rebentar um escândalo em torno da sua vida pessoal, com várias mulheres a garantirem à comunicação social terem tido casos com o golfista.

Na sequência dessas revelações, Tiger Woods anunciou uma pausa na carreira, admitindo entretanto ser viciado em sexo e ter tido casos com mais de 120 mulheres enquanto era casado com Elin. Uma confissão que lhe custou qualquer coisa como 50 milhões de dólares em patrocínios e também a relação com a esquiadora Lindsey Vonn.

A queda e o regresso triunfal

Os anos que se seguiram viram um Tigre a rugir cada vez menos. Tiger Woods foi participando nalguns torneios, com poucas vitórias e muitas paragens por lesão pelo meio, fosse nas costas (só de 2012 a 2017 foram quatro as cirurgias), nos pulsos ou nas pernas. Houve, no circuito profissional, quem antevisse o final da carreira. «Até pode voltar e fazer uns jogos, mas com a quantidade de problemas que tem tido…. vai ser duro», dizia, por exemplo, Jack Nicklaus, o recordista de títulos em majors (18).

A verdade é que Tiger desafiou as previsões e voltou a competir. Ou melhor: voltou a vencer. Depois de um segundo e um sexto lugares em torneios na primeira metade de 2018, terminou em segundo no PGA Championship, o último dos majors do ano – foi o seu melhor resultado em nove anos -, com a última volta a ser a sua melhor de sempre num dos torneios principais.

Em setembro, voltou aos triunfos, ao conquistar o Tour Championship. E no passado domingo, a demonstração derradeira de que está mesmo de volta: com a vitória em Augusta, Tiger Woods ficou a apenas um triunfo do recorde de Jack Nicklaus (seis), bem como da marca total de vitórias no PGA Tour do recordista Sam Snead (82). No Augusta National Golf Club, Tiger venceu o primeiro major da sua carreira após vir de trás na última volta – um paralelismo curioso com as curvas e contracurvas que têm marcado os últimos anos da sua carreira.

«Serve», disse Woods ao vestir o casaco verde, enquanto sorria para a mãe, os dois filhos e a namorada. Os 11 anos de seca, de dúvidas, de escândalos e polémicas parecem já uma memória vaga.