O génio de António Costa está a apagar-se

A greve dos camionistas de materiais perigosos foi um verdadeiro maná para os postos de combustíveis: venderam como nunca e a somar ao gasóleo e gasolina juntaram os jerricãs e demais produtos à venda nas suas lojas. A história fez-me recordar um pouco os filmes dos Monty Python

A greve dos camionistas de materiais perigosos foi um verdadeiro maná para os postos de combustíveis: venderam como nunca e a somar ao gasóleo e gasolina juntaram os jerricãs e demais produtos à venda nas suas lojas. A história fez-me recordar um pouco os filmes dos  Monty Python: quem, por norma, só punha 10 euros de combustível apressou-se a ir às bombas encher o depósito; quem tinha combustível para uma semana achou que a crise iria durar mais tempo e fez o mesmo: atestou o carro. A juntar a estes, há ainda aqueles que compraram os tais jerricãs para ficarem com combustível de reserva. Resultado: o caos no país e os gasolineiros a rirem-se, já que bateram recordes, falando-se mesmo de vendas três mil vezes superior a igual período do ano passado. É obra.

Mas este filme cómico revelou um lado desconhecido que se irá tornar, em princípio, uma verdadeira dor de cabeça para o Governo: a força dos motoristas e do seu recente criado sindicato. Na segunda-feira o Governo irá reunir-se com os profissionais do setor e deverá anunciar a construção do oleoduto que ligará Aveiras aos aeroportos da Portela e do Montijo. Resultado: mais de 150 motoristas poderão ficar sem emprego e as empresas que têm os camiões ficarão com esses veículos ‘paralisados’, permitindo uma convergência de interesses insólita entre patrões e empregados.

Não será pois de estranhar que nos próximos tempos o filme se venha a repetir, com greves a deixarem os portugueses à beira de um ataque de nervos a caminho dos postos de gasolina. Mas os problemas não vão ficar pelos combustíveis, pois todos os outros setores irão sentir a falta do gasóleo e da gasolina.

A grande questão passa por saber qual será a reação governamental. Se cederem, abrem a caixa de Pandora e os professores, enfermeiros, guardas-prisionais, funcionários judiciais e  estivadores quererão, certamente, o mesmo tratamento. 

Mário Centeno terá um saco assim tão grande para satisfazer todas estas reivindicações?    Certo é que estas ‘guerras’ têm deixado António Costa desorientado, o que o levou a cometer erros infantis e desnecessários no seu caminho até à vitória das legislativas. Por que carga de água é que nomeou uma não existência para encabeçar a lista do partido às europeias? Mas mais insólito ainda: qual a razão para ter dito que as eleições europeias são um teste à sua governação? Faz algum sentido colocar em xeque a ‘geringonça’ numas eleições que muitas vezes servem para os eleitores de determinado partido mostrarem o seu descontentamento pelo rumo da governação?

Costa que bebe política desde o berço, desorientou-se porquê? Por achar que a ‘geringonça’ não pode ter uma parte II? Fê-lo por perceber que o PCP terá que ir para rua para romper com as não reposições salariais prometidas, entre outras reivindicações da classe operária?

O génio político que lhe era reconhecido pode estar em risco. Se chegou à liderança do  partido por o seu camarada António José Seguro ter ganho as eleições europeias por uma margem «poucachinha» , o que dirá se tiver um resultado idêntico ao de outra não existência que dá pelo nome de Rui Rio?  Convocará um congresso extraordinário do PS para enfrentar a natural contestação que surgirá? Ou assobiará para o ar até às legislativas e obrigará Mário Centeno a esquecer-se do défice zero? Com estes disparates de Costa, mais se confirma que ninguém ganha eleições. Há é quem as perca….

vitor.rainho@sol.pt