As relações entre Portugal e a China

«Estamos a usar a atmosfera como esgoto a céu aberto. Isto é de doidos. Temos de parar». Al Gore

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a convite do seu homólogo da República Popular da China, está em visita oficial a este país com um programa intenso, durante seis dias. 

Estará em Xangai e Pequim, e também no antigo território português de Macau. E só regressará a Portugal no próximo dia 1 de Maio. 

A convite do Presidente Xi Jinping, Marcelo participará na segunda edição do fórum sobre a nova rota da seda, um dos muitos atos importantes da visita oficial. 

A propósito da iniciativa geoestratégica da nova rota da seda, a China vai contar nesse fórum com a participação de vários chefes de Estado e de governantes de vários países, que debaterão o investimento em infraestruturas e demais decisões relevantes, não só para a China mas também para a Ásia, África e Europa.

Esta visita acontece depois da estadia do Presidente chinês em Portugal, que reforçou os laços políticos, diplomáticos, económicos, sociais e culturais entre os dois países e os dois povos. E que serviu para que em Portugal se reconhecesse a importância do investimento chinês nos últimos anos, em áreas tão díspares como a banca, a energia, o imobiliário, os seguros e outros setores da nossa economia.

Investimento feito num tempo difícil, política, económica e socialmente para os portugueses e para Portugal, sob intervenção da troika.
Aliás, comparativamente com outros países e investidores internacionais de várias geografias (Europa e sobretudo África e América do Sul), a China foi e continua a ser um parceiro importante para o nosso país. 

Num mundo cada vez mais global, com uma economia aberta, onde a captação de investimento assume um papel relevantíssimo, Portugal – enquanto cultor e defensor da democracia liberal, do Estado de direito, da separação de poderes, dos direitos liberdades e garantias – deve assinalar essas diferenças com as autoridades chinesas. Mas não pode voltar as costas a esta potência asiática, que alguns vaticínios consideram que dentro de alguns anos poderá vir a ser a maior economia mundial. 

Atualmente, a China é membro ativo de várias organizações internacionais, onde tem tido um protagonismo maior, muitas vezes em contrapoder com a administração republicana liderada por Donald Trump, em dossiês complexos, onde se destaca o dossiê livre comércio à escala global.
Enquanto ‘fábrica do mundo’, a China tem um peso político, económico, social e até já cultural em várias geografias. Que não só na Ásia, mas também em África e na Europa.

Esta visita de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa à China ocorre num tempo especial. Especial para o mundo, para a Europa e para Portugal. E deve ser entendida como muito importante – contribuindo não só para reforçar as nossas relações mas também criando condições para que o investimento chinês continue a ver Portugal como um país confiável e atrativo. 

E são vários os dossiês em cima da mesa. Desde logo, o posicionamento de Portugal em relação à nova rota da seda, no equilíbrio que se impõe na sua relação com a União Europeia. Mas também em relação a empresas como a EDP. O pior que poderá acontecer será a China optar por repensar esse tipo de investimentos e redirecionar a sua atenção para outros países e geografias.

Marcelo Rebelo de Sousa não deixará, com sentido de Estado – como se disse –, de vincar a posição de Portugal em relação aos direitos humanos e a todas as questões relacionadas com essas matérias. Bem como em relação à especificidade de Macau e aos milhares de portugueses que vivem e trabalham nesse território da grande China.

China e Portugal devem solidificar e reforçar as suas relações diplomáticas, políticas, económicas, sociais e culturais, para além das suas diferenças em relação a vários temas. Porque manter boas relações entre Portugal e a China é importante para os dois povos. Sem abdicarem de várias diferenças que existem em muitas matérias.