A hora de Pedro Nuno Santos

Pedro Nuno Santos resolveu um berbicacho nacional e mostrou uma destreza política que lhe garantirá altos voos

A greve dos motoristas de materiais perigosos foi tratada de forma leve pelo Governo entre o momento do pré-aviso, em 1 de abril, e o seu início, em vésperas da Páscoa. Ou seja, cerca de duas semanas.

Não houve uma boa alma neste Governo que percecionasse que a greve suscitaria uma corrida generalizada às bombas e que, rapidamente, se entraria em rotura nos combustíveis. O Governo terá visto este tema como um mero conflito laboral entre um sindicato e patrões do setor privado, e ninguém se deu ao trabalho de pensar cinco minutos nas consequências do conflito.

Andava tudo no Governo focado nas eleições europeias, a cirandar pelo país, havia lá tempo para pensar em governar… Quando rebentou a bernarda é que Costa percebeu que tinha de a resolver e de imediato, sem hesitações, chamou um dos políticos mais jovens deste país e mais bem preparados para resolver o problema de forma política: Pedro Nuno Santos.

A verdade é que resolveu – e de forma célere! No passado dia 18 abril, pelas 8 horas da manhã, ficámos todos a saber que os sindicatos e patrões tinham concordado em começar as negociações a 29 abril. Resumindo: durante uma noite, Pedro Nuno Santos resolveu um berbicacho nacional e mostrou uma destreza política que lhe garantirá altos voos.

Para já, legitimou-o como ‘delfim’ de António Costa. Um ‘delfim’ assumido por Costa ou imposto pela sua personalidade forte? A verdade é que ninguém hoje tem dúvidas de que Pedro Nuno Santos vai suceder a Costa. Só falta saber quando.

Qual poderia ser a alternativa? Francisco Assis? Pertence a uma ala moderada do PS e, nos tempos atuais, quem for moderado no PS é internamente olhado de soslaio e quiçá colado à direita. Fernando Medina? Bem pode tentar imitar Costa, mas Pedro Nuno Santos triturá-lo-á em quaisquer eleições internas. Jovem, pertencendo uma ala do PS que se confunde em muito com o Bloco, Pedro Nuno Santos tem um carisma que poucos no PS têm. As tiradas tonitruantes anti-Europa ficaram para trás, tal como o passado de MRPP ficou para Durão Barroso. O país que se vá habituando a ele.

Como irão reagir os partidos à sua esquerda perante este cenário? Mal, obviamente.

Os do Bloco até poderiam exultar por terem um dos seus à frente do Partido Socialista – mas a realidade é que, nessa circunstância, só perderão votos.

Os do PCP irão procurar dentro dos seus quadros um jovem para devolver a juventude a um partido que vem definhando com os anos. Talvez João Ferreira seja o redentor do PCP…

E a direita? Rejubila com a viragem do PS à esquerda, mas será capaz de traduzir o júbilo em votos? Com CDS e Aliança a disputar um eleitorado conservador, o PSD social-democrata de Rio vai tentar disputar um eleitorado proveniente da ala moderada do PS. Tudo se conjuga para cada vez menos existirem maiorias parlamentares.

P.S. 1 – A tragédia da Madeira, que originou 29 mortos, todos eles alemães, ‘não podia’ ter acontecido numa região que vive essencialmente do turismo. Mas aconteceu e as causas são presumivelmente técnicas, resultantes de falhas mecânicas no autocarro de turismo. Vimos o incansável Marcelo a dar o seu apoio às vítimas que sobreviveram, vimos um secretário regional da Saúde, Pedro Ramos, sempre presente a apoiar e coordenar as operações de resgate e de transferência dos sobreviventes, mas não vimos Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional. Será que estava doente? Porque, se estava de férias e não as interrompeu, como ouvi dizer, só tenho uma pergunta a fazer: alguém acredita que Alberto João Jardim teria idêntico comportamento? Sem falar que estendeu a passadeira para Paulo Cafofo ganhar as eleições…

P.S. 2 – Mais um 25 de Abril marcado por um notável discurso de Marcelo, colocando muito bem os jovens como a prioridade dos políticos de hoje! 45 anos depois, passadas duas gerações, os jovens têm múltiplos anseios e notáveis preocupações, como o Ambiente – como vimos naquela invasão pacífica de uma reunião do PS em que António Costa, incrédulo, viu o seu discurso ser interrompido por um jovem ambientalista. Para além da inacreditável quebra de segurança, estes jovens (e, lato sensu, as suas causas ecológicas) merecem ser ouvidos.