IndieLisboa com o cinema brasileiro em destaque

Em Lisboa, acabou de arrancar a 16.ª edição do festival. Com mais de 70 filmes em português e Synonymes, que deu a Nadav Lapid o Urso de Ouro, no encerramento.

Depois de uma noite de abertura ao sabor de The Beach Bum, o novo filme de Harmony Korine, com Matthew McConaughey, Snoop Dogg – e uma boa dose de tolice – à mistura, e da festa de abertura de ontem na Casa Independente, em Lisboa, restam ainda nove dias de IndieLisboa, que à 16.ª edição homenageia com os títulos de heróis independentes Anna Karina e o cinema brasileiro, numa programação intitulada Brasil em Transe.

Cancelada a vinda da mais icónica das atrizes de Godard (e não só) a Lisboa, por motivos de saúde, mantém-se a retrospetiva que o festival lhe dedica, em parceria com a Cinemateca Portuguesa, ao longo dos próximos dias – que contará ainda com a primeira exibição em Portugal do documentário estreado este ano por Dennis Berry, com quem é casada há quase 40 anos, em torno da sua figura:   Anna Karina, Souviens-Toi. A partir de uma sala de cinema de cadeiras vermelhas, a atriz comenta o seu percurso no cinema e na música.

De um Brasil a atravessar um período político conturbado, chegam-nos mais de duas dezenas de filmes recentes. De documentários como Democracia em Vertigem (2019), em que Petra Costa, realizadora de Olmo e a Gaivota, explora, «com um acesso sem precedentes a Dilma Roussff e a Lula da Silva», a ascensão e a queda dos líderes que marcaram a história recente do país, a Divino Amor – o mais recente filme de Gabriel Mascaro, realizador de Boi Neon.

Presença em Portugal marcarão mais de uma dezena de cineastas brasileiros, para apresentar os seus filmes. Entre eles, Felipe Bragança (Não Devore Meu Coração, protagonizado por Cauã Reymond) que, com Catarina Wallenstein, correalizou Tragam-me a Cabeça de Carmen M. A história é a de Ana (Catarina Wallenstein), uma actriz portuguesa num Rio de Janeiro já a adivinhar a eleição de Jair Bolsonaro, preparando-se para encarnar o papel de Carmen Miranda num filme que talvez nunca aconteça. Um universo colorido que chocará com o presente, a preto e branco, para uma interrogação sobre a tal «utopia pantropical e futurista».

Antes que chegue a noite de encerramento, que com Synonymes, o filme com que o israelita Nadav Lapid acabou de ganhar o Urso de Ouro em Berlim, haverá ainda espaço para uma competição nacional com as últimas longas de Ico Costa, Tiago Hespanha, Margarida Gil, Catarina Ruivo, Júlio Alves, Tiago Guedes e, em sessões especiais, Hotel Império, o filme que Ivo M. Ferreira (Cartas da Guerra) realizou em Macau, além dos dois primeiros episódios de Sul, o policial lisboeta que estreará em setembro na RTP. Entre as figuras que viajam até Lisboa por estes dias, importará ainda olhar para Jonathan Vinel e Caroline Poggi, a jovem dupla de realizadores que nos chega com a sua primeira longa, protagonizada por Aomi Muyock (Love): Jessica Forever.