Direita prepara cartilha para travar críticas sobre despesa

PSD e CDS procuram explicar que as suas decisões não implica gastos permanentes orçamentais.

Direita prepara cartilha para travar críticas sobre despesa

A dramatização do discurso do Governo e do PS já era esperada pelos partidos do centro-direita, mas o que surpreendeu tanto o PSD como o CDS foi o Executivo socialista responsabilizá-los pelo aumento da despesa. O tema é caro aos antigos parceiros de coligação e deixou militantes sociais-democratas e centristas preocupados com a estratégia socialista. «É um discurso que cola bem ao centro e é o eleitorado potencial do PSD», declarou uma fonte social-democrata ao SOL, optando pelo anonimato.

O CDS foi o primeiro a falar. A líder centrista, Assunção Cristas, optou por ser ela própria a explicar aos jornalistas que a versão aprovada «não aumenta um cêntimo que seja o encargo para o Orçamento». Logo durante a noite de quinta-feira, os centristas começaram a colocar também mensagens nas redes sociais e a fazer chegar e-mails para passar a mensagem de não aumento da despesa no imediato e sempre mediante negociação: «Não é verdade que o CDS tenha hoje aprovado o pagamento de tempo integral dos professores. Essa proposta foi chumbada com o nosso voto. Aprovou-se apenas o princípio de que os professores terão direito à contagem integral do tempo congelado mediante negociação com o Governo».

Mesmo que se falem em princípios para acautelar a negociação do descongelamento de nove anos, quatro meses e dois dias, a dramatização do discurso do Governo obrigou o PSD  a reagir também. A deputada Margarida Mano enviou um e-mail aos seus pares para explicar os argumentos do partido. « Um Governo irresponsável e incompetente não sabe lidar com a situação em que nos colocou (…) não sabe lidar  com maiorias parlamentares contrárias à sua vontade. Paciência!». A irritação prendia-se com a certeza de que a recuperação do tempo congelado de carreiras será feita tendo em conta a « situação económica e financeira do País».

A forma como a proposta foi desenhada foi articulada entre o grupo parlamentar e a direção do PSD, mas dentro do partido houve quem não percebesse como Rui Rio, o líder que gosta de contas certas, se deixou enredar pela estratégia do PS. «[No PSD]poderiam ter preparado documentos prévios para explicar aos militantes, passar a palavra, explicar a posição do partido a comentadores», apontou outro militante social-democrata ouvido pelo SOL.  O discurso social-democrata é o de que qualquer negociação com professores terá sempre em conta o crescimento económico e será feito de forma «responsável».